A Fortaleza medieval
É notório e louvável o esforço da gestão do prefeito Roberto Cláudio de mudar a relação que Fortaleza e seus cidadãos mantêm com a produção de resíduos sólidos e a forma de descartá-los. Essa relação é marcada pelo atraso e pela incivilidade, em que os espaços públicos, numa reprodução de comportamentos rurais e primitivos, são assimilados pelo senso comum como ambientes para receber os descartes.
O resultado disso é visto a olhos nus nas ruas, calçadas e terrenos da Cidade. Uma agressão à saúde pública e à estética, que alimenta
um clima de desordem urbana. Se a Cidade convive de forma tolerante com o descarte de lixo na via pública, sinaliza para o conjunto social que as áreas que a todos pertencem a ninguém pertencem e, portanto, são geridas pela regra pessoal de cada um formando um quadro caótico.
O problema não é a coleta domiciliar dos resíduos. Esta funciona e, segundo as pesquisas que abordam a questão, é muito bem avaliada. O que forma os infinitos monturos e rampas de lixo espalhados na Cidade são os descartes de podas de árvores, de reformas, de móveis e equipamentos velhos e, em boa parte, dos resíduos produzidos em pequenos e médios negócios, principalmente lanchonetes.
Infelizmente, um dos principais agentes formadores de monturos são carroceiros que ganham alguns trocados para realizar descartes irregulares. São contratados por particulares e, obviamente, escolhem a primeira área, geralmente com calçada e muro degradados, para se desfazer da encomenda.
Sem dúvidas, não há solução fácil para o problema. Porém, já é tempo de as autoridades adotarem uma postura mais firme com esses agentes. Tanto os que contratam os carroceiros como os próprios. Além disso, a Prefeitura já deveria ter posto em prática alguma medida mais dura contra proprietários de imóveis que não mantêm suas calçadas e muros de acordo com as regras urbanas em vigor.
O fato é que o acúmulo de lixo nas vias públicas e a ausência de sistema de esgotos para a metade da população colocam Fortaleza em uma situação urbana medieval. Não podemos chegar à terceira década deste século ainda convivendo com tais males. OPOVO