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Fazenda assimila o pouso da economia

EDITORIAL II DA FOLHA DE SP

Diante dos juros altos e do esgotamento de impulsos fiscais e creditícios, a esperada desaceleração gradual da economia brasileira vem se confirmando nos últimos meses e já afeta as projeções do setor
privado e mesmo do governo.

No setor privado, a estimativa mediana para o crescimento do Produto Interno Bruto neste ano, coletada pelo Banco Central, caiu de 2,23% em julho para 2,16% agora. O Ministério da Fazenda também ajustou sua estimativa de 2,5% para 2,3%, atribuindo o revisão principalmente aos juros do BC de 15%
anuais, os mais altos desde 2006.

Decerto são recuos pequenos. Mas, desde 2021, o padrão vinha sendo elevar as projeções ao longo do ano, à medida que o desempenho do PIB superava expectativas. Não é o que ocorre agora.

Entre os principais fatores de mudança, destaca-se o ritmo mais lento das concessões de crédito e a alta da inadimplência.

Em paralelo, a criação de empregos formais, embora ainda positiva, com quase 149 mil vagas em maio de 2025 e um saldo acumulado de mais de 1 milhão nos primeiros cinco meses do ano, mostra sinais de arrefecimento.

Mesmo com desemprego baixo, em 5,8%, há alguma diminuição no avanço da renda, e os salários de entrada de contratados já não sobem além da inflação.

Um fator externo que se soma a esse quadro é o tarifaço imposto pelos Estados Unidos, com elevação da taxação sobre produtos brasileiros para até 50%.

De acordo com cálculos a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda, a sanção americana pode tirar 0,2 ponto percentual do PIB brasileiro entre agosto deste ano e dezembro de 2026.

Para a SPE, porém, o impacto cai à metade com as medidas adotadas pelo governo para auxiliar setores atingidos e, ao longo do tempo, com o redirecionamento de parte das vendas para outros mercados externos.

De mais positivo, a necessária desaceleração econômica e a valorização cambial recente reduzem pressões sobre os preços. A inflação esperada em 2025, que rondava 5,6% até abril, caiu a 4,85% —ainda acima, ressalve-se, da meta de 3% e do teto de 4,5%.

Não se espera desempenho melhor do PIB no ano eleitoral de 2026. As projeções do mercado não chegam aos 2%, enquanto a da Fazenda é de 2,4%. Será difícil, para o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), usar gasto e crédito públicos para obter taxas melhores. Com a inflação ainda não derrubada e contas públicas no vermelho, nem resultados de curto prazo parecem promissores.

 

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