Pressionado pelos EUA, Lula também enfrenta fogo amigo
EDIORIAL DA FOLHA DE SP
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) colhe os frutos da armadura nacionalista que envergou quando Donald Trump escolheu o Brasil como alvo de sua mais recente agressão externa.
Irracional do ponto de vista econômico, as sobretaxas de 50% sobre importações brasileiras, que entram em vigor a partir de 1º de agosto, são justificadas pelo republicano a partir da política.
Se é evidente o desgosto com o antiamericanismo pueril do governo Lula e os interesses contrariados das big techs, o selo do tarifaço tem nome: Jair Bolsonaro (PL). Trump conectou sua ação com o discurso de que o ex-presidente é um perseguido por ser julgado pela trama golpista.
O presente retórico para o petista não poderia ser maior, ainda que esteja claro o risco do impacto de longo prazo das medidas sobre a economia.
Ademais, vêm da banda ideológica do lulismo novos lembretes acerca de problemas para a busca pela reeleição em 2026.
Na sexta (25), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) completou uma invasão coordenada a sedes do Incra, órgão responsável por gerenciar a reforma agrária, que mobilizou 17 mil pessoas ao longo da semana.
As imagens reprisavam um filme em cartaz desde os anos 1990, quando o campo vivia em outra era geológica em termos de estrutura produtiva. Gente de vermelho invadindo prédio público é um prato cheio para a propaganda da direita nas redes sociais.
Algo similar havia acontecido quando o governo lançou o "nós contra eles" na crise com o Congresso acerca do IOF e um grupo de sem-teto invadiu um prédio do banco Itaú em São Paulo.
Ali, o sinal amarelo acendeu. O ato apoiado por Guilherme Boulos (PSOL-SP) custou ao deputado federal um cargo no Planalto —outra situação na qual a radicalidade do político lhe tolhe pretensões, como em duas eleições para prefeito na capital paulista.
Com os sem-terra, Lula buscou conter danos, chamando lideranças para conversar. No entanto o sinal de descontrole das franjas de sua base é evidente.
Algo também visto na relação com a antiga aliada Venezuela. Desde que vetou a entrada do país no Brics, em 2024, Lula passou a ser tratado como adversário pela ditadura de Nicolás Maduro.
O azedume se intensificou na sexta, quando venezuelanos imitaram Trump e taxaram importações do Brasil, rompendo tratado de 2014. Confrontado, o país diz ter voltado atrás e deu como desculpa um problema técnico. Mas só foram reforçadas as dificuldades de Lula mesmo na esquerda.