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Percepção dos eleitores sobre a economia está longe de ser positiva, e eleição não está definida

Por Luís Eduardo Assis ; O ESTADÃO DE SP

 

 

“O acaso vai me proteger, enquanto eu andar distraído. O presidente Lula deve andar cantarolando a música dos Titãs pelos jardins do Palácio da Alvorada. Por essa nem ele esperava. Ter Trump como seu cabo eleitoral, quando as pesquisas diziam que a disputa seria dura até com Michelle Bolsonaro, supera suas previsões mais otimistas. As coisas mudaram muito rápido. Em maio, a pesquisa Genial/Quaest mostrava intenção de voto de 41% para Lula em eventual segundo turno contra Bolsonaro em 2026. O ex-presidente tinha também 41% das preferências dos pesquisados (pouco importa aqui se ele não será candidato, porque, entre outras razões, estará provavelmente preso). Nova pesquisa após o desvario tarifário de Trump identificou uma vantagem de Lula de seis pontos porcentuais (43% a 37%).

 

Ainda assim, a percepção dos eleitores sobre a economia está longe de ser positiva – não importa o que digam os números –, e isso sugere que nada está definido. Apenas 21% dos pesquisados acreditam que a economia brasileira melhorou nos últimos 12 meses, em que pese o crescimento do nível de atividade calculado pelo Banco Central, que passou de uma variação anual de 2,2% em maio de 2024 para mais de 4% em maio.

 

Pouco efeito também fez a queda do desemprego para níveis historicamente muito baixos: 6,2% pelo último dado oficial, ante 7,1% há um ano. E não se trata apenas de emprego precário. O Caged registra para maio 48,25 milhões de trabalhadores com carteira assinada, o maior de toda a série, com crescimento de 3,5% (ou 1,62 milhão de novos postos) em relação a maio do ano passado. Da mesma forma, 76% dos pesquisados acreditam que os preços dos alimentos subiram no último mês, apesar de o IPCA (alimentação no domicílio) ter caído 0,43% em junho.

 

No mesmo tom, 56% dos respondentes apontam que o preço dos combustíveis aumentou em junho; mas o item combustíveis do IPCA registra queda de 0,42% neste mês, a terceira queda mensal consecutiva. Para 80%, o poder de compra hoje do brasileiro é menor comparado a um ano atrás, embora a Pnad/IBGE constate que o rendimento médio real, ou seja, acima da inflação, aumentou 2,8% nos 12 meses até maio. Em termos nominais, o crescimento chega a 8,7%.

 

Em sua crítica ao positivismo, Nietzsche não deixou por menos: não existem fatos, apenas interpretações. Flaubert engrossa o coro ao lembrar que existem apenas percepções; não existe a verdade. Hipnotizado pelo cesarismo infantil de Trump, Lula se distrai e não percebe que seu governo sangra porque padece de falta de credibilidade. Sem ela, alguns bons números são de pouca serventia. O grande problema, no entanto, é que credibilidade não surge por acaso.

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Opinião por Luís Eduardo Assis

Economista. Autor de 'O Poder das Ideias Erradas' (Ed.Almedina). Foi diretor de Política Monetária do Banco Central e professor de Economia da PUC-SP e FGV-SP

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