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Rede do PT que abastece influenciadores com IA tem Instituto Lula, Perseu Abramo e sindicatos

REDAÇÃO O ESTADÃO DE SP

 

BRASÍLIA – Uma rede articulada pelo PT para abastecer influenciadores digitais com conteúdos políticos, como os gerados por inteligência artificial, conta com integrantes do Instituto Lula, da Fundação Perseu Abramo e sindicatos. A estratégia inclui “briefing” para grupos específicos capazes de disseminar materiais sugeridos por técnicos ligados à direção partidária.

Segundo a versão oficial dos profissionais e políticos mobilizados para o embate político digital, as peças criadas e as sugestões de atuação para a militância digital não passam pela “fulanização” de ataques nem pela desqualificação do Congresso.

As mensagens recomendadas seriam limitadas a críticas à “extrema-direita”. Entretanto, os materiais sugeridos, acessados pela reportagem, são personalizados contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e contra o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas (Republicanos).

Os responsáveis pela campanha petista negam estar por trás de motes como o de “Hugo Não se Importa”, que mirou o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), o de “Congresso da Mamata” e o contra o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Também afirmam que não pagam influenciadores e que conteúdos agressivos contra congressistas são elaborações espontâneas de usuários.

Entretanto, há uma zona cinzenta na organização da comunicação petista. Para além de encontros abertos, como o realizado no início do mês, articuladores da comunicação virtual fazem tratativas com grupos menores de influenciadores alinhados com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A informação foi confirmada por integrantes desses encontros que, por outro lado, se recusaram a listar os influenciadores brifados e os termos das orientações oferecidas.

A relação com influenciadores se dá sob o guarda-chuva da campanha “Pode Espalhar”, lançada pelo PT e arquitetada por uma das agências de comunicação que prestam serviços a esse ecossistema, a Caê Comunicação.

A empresa é de Martha Romano, ex-sócia de Otávio Antunes, o marqueteiro responsável pela campanha de “nós contra eles” divulgada pelos canais oficiais do partido. Os contratos ficam diluídos entre instituições e sindicatos, de forma que não estão concentrados na prestação de contas partidária. Romano não quis dar entrevista.

A Pode Espalhar recebe cadastros de influenciadores e disponibiliza vídeos, cards e até posts prontos para o X (ex-Twitter) para que os aliados os lancem na internet. Uma parte dos grupos de WhatsApp é administrada por Ana Flávia Marx, diretora do Instituto Lula e uma influente estrategista digital ligada ao PT.

Uma estratégia semelhante foi liderada pelo Instituto Lula durante a campanha eleitoral de 2022. Ana Marx nega ataques pessoais. O Instituto Lula se define como entidade sem fins lucrativos “independente de estados e de partidos políticos” que se dedica ao “desenvolvimento nacional”, à “redução de desigualdades” e ao “estudo e compartilhamento de políticas públicas e privadas destinadas à erradicação da extrema pobreza e da fome”.

Em comunicado divulgado no dia 3, o PT e a Perseu Abramo, entidade de formação política da sigla, informaram que o objetivo da Pode Espalhar é “reunir militantes digitais que já atuam nas redes em defesa das políticas públicas do governo e da democracia, organizando essa atuação com mais conteúdo, estratégia e formação”.

Para reagir ao ataque de Donald Trump ao Brasil, a campanha petista elaborou conteúdos que miram o clã Bolsonaro e o governador Tarcísio. As peças tratam a família do ex-presidente como “gangue” e o chefe do Executivo paulista de “cúmplice do tarifaço”.

Os vídeos misturam recortes de entrevistas com trechos produzidos com inteligência artificial e são explicados por um narrador. Há versões específicas para WhatsApp. “Bolsonaro e sua turma são os verdadeiros traidores da pátria”, destaca uma das produções.

Peças com o slogan “Defenda o Brasil” foram disseminadas na sexta-feira, 11. Elas exploram o verde amarelo e a bandeira nacional contra Trump e bolsonaristas. A narração de um dos vídeos incluiu a mensagem: “usaram nossa bandeira como fantasia para esconder traição, mentira, submissão. Essa bandeira não é figurino de traidor”.

Entre os influenciadores que ampliaram o alcance de vídeos artificiais do PT está Thiago dos Reis (PT), um dos maiores produtores de conteúdo político do País que repete a receita do “gabinete do ódio” da gestão Bolsonaro.

Na sexta-feira, 11, ele compartilhou um vídeo feito com inteligência artificial que simula trabalhadores reclamando de Bolsonaro e dizendo que “os bolsominions querem quebrar o nosso País” e “atrapalhar a nossa economia para livrar o golpista da cadeia”.

“ATENÇÃO!!! EXCELENTE vídeo da comunicação do PT expõe como BOLSONARO TAXOU O BRASIL pra atrapalhar a economia!!”, publicou Reis, que também redistribui vídeos de outros influenciadores e de contas apócrifas.

O influenciador, que já gerou mais 1 bilhão de visualizações com seu canal no YouTube, responde a vários processos por calúnia.

O presidente da fundação, Paulo Okamotto, disse ao Estadão que entre as premissas da rede petista estão “fazer debate político” e “politizar a sociedade” de forma qualificada, sem ataques pessoais. Segundo ele, as montagens direcionadas ao Congresso nascem espontaneamente na internet.

“O que acontece é que a rede virou terra de ninguém. Dizem que ‘Lula é ladrão, Lula roubou’. Aí o pessoal começa a responder na mesma pegada. Eu não faria, mas não vou falar para o cara não fazer”, afirmou. Ele também nega responsabilidade sobre vídeos com inteligência artificial com críticas a Hugo Motta. “Isso enche o saco do Hugo Motta, mas não politiza”.

 

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