Obsessão de Lula por gasto reduz poupança, pressiona os juros e diminui PIB potencial do País
Por Alvaro Gribel / O ESTADÃO DE SP
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem obsessão pelo gasto, seja ele público ou privado. Uma dúvida que permanece é qual seria a transformação do País caso ele entendesse a importância da formação de poupança para reduzir o custo do crédito, destravar investimentos e permitir a aceleração do PIB sem pressões inflacionárias.
Lula entende o consumo como o principal combustível para girar a roda da economia e repete isso em entrevistas e declarações que concede sobre o tema. Essa visão se reflete nos gastos em seus três mandatos. Entre 2003 e 2010, por exemplo, a despesa do Tesouro só caiu no primeiro ano e teve crescimento médio de 9,6% nos anos seguintes. Em 2023, o aumento foi de 12,45%, após a aprovação da PEC da Transição, para sofrer um leve recuo de 0,7% no ano passado.
O aumento exuberante das despesas nos primeiros mandatos só deu certo porque houve um crescimento ainda maior das receitas. Com isso, as contas públicas ficaram no azul. Agora, esse ciclo de alta de arrecadação dá sinais de fadiga – e isso faz com que o governo permaneça no vermelho.
Na prática, se o governo tem déficit, a poupança pública é negativa. Visto de outra forma, o setor público drena recursos da economia para se financiar – e, com isso, o setor privado tem acesso a menos dinheiro para investir. Os juros sobem.
As estatísticas do IBGE mostram que a taxa bruta de poupança caiu para 14,5% do PIB no quarto trimestre de 2024. Trata-se do menor número desde 2019, e o terceiro recuo seguido. O Banco Mundial faz a comparação internacional, com dados até 2023, e revela que o Brasil está muito abaixo da média mundial (veja gráfico).
Na microeconomia, essa lógica se repete. A reformulação do consignado privado é tecnicamente bem feita, porque estimula a competição entre os bancos, o que pode diminuir o spread. Mas o programa, ao ser anunciado em cerimônia no Planalto, ganhou roupagem de estímulo ao consumo.
A agora ministra Gleisi Hoffmann chegou a gravar vídeo para afirmar: “Apertou o orçamento? Tome o empréstimo do Lula”. Embora sempre difícil para qualquer família, melhor seria aconselhar o reequilíbrio do orçamento.
O programa Pé-de-meia também é bem desenhado, estimula a poupança dos estudantes e ataca a evasão escolar no ensino médio. Mas tem uma contradição interna: será financiado por meio de déficit público e ainda não tem recursos garantidos no Orçamento deste ano.
Sem poupança, o investimento não é sustentável. E sem investimento, o PIB potencial ficará cada vez menor.