O ovo da serpente - FABIO CAMPOS
Nos últimos dois anos, o noticiário político foi substituído pelo noticiário da corrupção. Não há, por enquanto, nenhum indicativo de que esse quadro vá mudar. Na tarde/noite da última sexta-feira, enquanto escrevia essas linhas, pelo menos 70% das chamadas nos principais sites de notícias políticas nacionais se relacionavam de forma direta ou indireta com casos de corrupção investigados na Lava Jato e seus diversos desdobramentos.
Corrupção não é coisa nova. Muito menos foi inventada pelo PT, claro. A corrupção também não é da natureza petista. Não está em seu DNA. O problema ganha dimensões como a verificada no Brasil quando junta-se a vertente estatizante com o projeto de poder de um partido formado por corporações que respondem a uma lógica própria e não a um projeto de Nação. Daí a corrupção se tornou um método para manter-se no poder. Claro que muitos enchem os bolsos nessa caminhada.
No poder, a esquerda reinstituiu o conceito do Estado como líder do processo econômico. Interventor e estatizante. Um Estado que elege seus empresários preferidos. Um Estado que se aventurou a criar (com dinheiro público, privilégios, incentivos legais e até monopólios) as empresas campeãs nacionais que representariam um novo patamar do Brasil na economia mundial. São exemplos: a Petrobras, a Oi, o conglomerado X de Eike Batista e a JBS, que se financiou no BNDES e fundou um banco.
Não deu certo. Nem poderia dar. Os oito anos de Fernando Henrique Cardoso, que a esquerda chama de direita, fez um programa de privatização como forma de financiar o Estado. Deixaram de ser estatal a telefonia, o fornecimento de energia elétrica (não a produção), a Vale do Rio Doce e a Embraer. Imaginem os senhores o tamanho da bandalheira se essas empresas ainda fossem públicas. Pois é.
Há uma lógica persistente contra a qual não há argumentos seja no Brasil ou em qualquer lugar do mundo: a dimensão da corrupção é diretamente proporcional ao tamanho do Estado. Por esse raciocínio, quanto menor o Estado, menos corrupção. Estado menor não significa Estado fraco. Pelo contrário. No entanto, quanto menor forem os tentáculos estatais, menores serão as chances dos esquemas de corrupção prosperarem.
Estima-se que a União possua cerca de 200 empresas estatais. Cada uma delas com largas diretorias disponíveis para indicações políticas. O que é a Transpetro se não isso? Se considerarmos as empresas públicas estaduais e municipais Brasil afora, temos centenas de estatais. Isso, sem considerar os milhares de equipamentos públicos com fins privados (como estádios, ginásios, aquários, aeroportos).
A política não deixa vácuo. Se houver estatais elas serão devidamente ocupadas pela política. É de sua natureza. Também é de sua natureza disputar o poder e lá tentar permanecer. Para isso, os políticos lançam mão do que estiver ao seu alcance, sejam cargos públicos, a máquina, as contratações, as nomeações e, claro, o vicejar dos esquemas de corrupção.
Um bom caminho para combater a corrupção não é apenas com uma estrutura policial eficiente, um Ministério Público livre e juízes cônscios de seus deveres. Um corte drástico na quantidade de estatais teria um efeito muito mais proeminente. Da mesma forma, a redução radical dos cargos de confiança disponíveis para a política.
E o Estado? Ora, que vai cuidar de suas atividades fins. Principalmente saúde, educação e segurança pública. Estado não tem que ser dono nem de porto, nem de aeroporto. Muito menos de Tatusão. OPOVO