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O alívio do ‘Desenrola’

Por Notas & Informações / o estadão de sp

 

Com os detalhes da Medida Provisória que institui o programa Desenrola Brasil finalmente divulgados, o governo promete para o mês que vem pôr em prática a renegociação dos débitos de pessoas físicas. A intenção é reduzir drasticamente o endividamento que, segundo dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC), ultrapassa 78% das famílias brasileiras, sem sinais de arrefecimento.

 

Ainda que com atraso – anunciado em janeiro, a ideia era que estivesse rodando já no mês seguinte –, enxugar a lista da inadimplência formada por mais de 70 milhões de brasileiros acima de 18 anos, de acordo com dados da Serasa, será, sem sombra de dúvidas, um grande alívio para a população consumidora.

 

Mas a limpeza de CPFs “sujos” é apenas um primeiro passo, não um caminho aberto para a retomada do consumo, espremido pela inflação e pelos juros nas alturas. O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre do ano confirmou o consumo das famílias ainda em ritmo lento, quase parando.

 

A desaceleração ocorre desde o segundo trimestre do ano passado, quando o consumo avançou 1,9%; no período seguinte, reduziu o ritmo para 0,8%; depois, 0,4%; e, no início deste ano, 0,2%. A melhora das projeções para os principais indicadores econômicos, de acordo com acompanhamento do Banco Central, ainda é insuficiente para garantir a virada de chave e fazer a economia girar.

 

Apesar de cair pela terceira vez consecutiva, a previsão de inflação para 2023 é de 5,69%, enquanto o crescimento do PIB passou para 1,68% – uma melhora, como se sabe, puxada pelo trator da agropecuária. Some-se a isso a taxa de juros cristalizada no patamar de 13,75% desde agosto do ano passado e o rendimento médio do trabalho também no “modo pausa” e temos a explicação para a timidez do consumo.

 

O esforço do governo para reduzir o recorde de 43,43% da taxa de inadimplência será maior para a população de renda mais baixa, que ganha até dois salários mínimos e será amparada, na negociação de suas dívidas, por garantias oferecidas pelo Tesouro. É compreensível, já que o combalido erário público não tem lastro para assegurar o socorro a todos. Mas significa que a classe média, tão endividada quanto os ocupantes dos degraus mais abaixo na escada da economia, dependerá mais da boa vontade dos bancos para sanear sua contabilidade.

 

Recente pesquisa da CNC revelou que famílias de classe média sentem com mais intensidade a pressão dos juros altos. Não fazem parte do grupo beneficiado por programas de transferência de renda, tampouco têm capacidade financeira para amortizar as dívidas, como os de classe mais alta. Com rendimentos mensais entre três e cinco salários mínimos, foi a classe média a mais endividada e inadimplente na passagem de abril para maio, mostrou o estudo.

 

Resta a esta imensa legião aguardar uma ampla adesão de instituições financeiras e empresas aos leilões promovidos com descontos para a renegociação das dívidas. Aliás, espera-se que as “razões burocráticas” citadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para o atraso na abertura do sistema estejam, de fato, solucionadas até o mês que vem.

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