Cajucultura decadente ainda aguarda apoio do Governo
Apesar da aprovação do Fundo de Apoio à Cultura do Caju (Funcaju), pelo governo da então presidente Dilma Rousseff, em 2013 – que beneficiaria a agroindústria do caju no Ceará e no Nordeste –, a cajucultura ainda aguarda a liberação dos recursos para soerguer a produção regional. Segundo o Sindicato dos Produtores de Caju do Ceará (Sincaju), passados três anos de sancionado, nenhum centavo foi repassado até o momento, prejudicando a agroindústria do caju no Estado, que está distribuída em torno de 40 municípios, dos polos de Aracati, Pacajus, Itapipoca e Camocim.
Inicialmente, a previsão era que fossem liberados R$ 15 milhões. Os recursos são orçamentários da União e créditos adicionais que lhe forem atribuídos; doações e contribuições a qualquer título de entidades públicas e privadas, nacionais e internacionais e de pessoas físicas; recursos provenientes de ajustes e convênios firmados com instituições públicas e privadas; rendimentos de aplicações financeiras em geral. Com a sinalização do Governo, na época, o anseio dos produtores estava em medidas estruturantes que resgatariam a cajucultura no Nordeste brasileiro.
O presidente do Sincaju, engenheiro agrônomo Paulo de Tarso Meyer Ferreira, destaca que o investimento “é de suma importância, tanto para os produtores como para as agroindústrias instaladas nos estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, responsáveis por grande parte do beneficiamento da amêndoa do caju e do seu pedúnculo”. O dirigente lembra que a castanha de caju já chegou a ser o principal item da pauta de exportação do Ceará e o segundo da região Nordeste. Segundo o Grupo de Coordenação de Estatísticas Agropecuárias do Ceará, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (GCEA/IBGE), a safra da castanha-de-caju (total) de 2015 registrou 52.118 toneladas em 2015, queda de 1,74% sobre a de 2014 (52.211 t) e de 64,74%, caso a safra fosse normal (147.809 t).
Perdas
Nos últimos anos, diante da longa estiagem e a falta de incentivos, “a atividade pouco tem contribuído para a autossustentabilidade de famílias e comunidades rurais e mesmo as indústrias que resistiram, operam bem abaixo de sua capacidade instalada, buscando fornecedores no Vietnã, Índia, Costa do Marfim e outros países do continente africano”, lamenta Paulo de Tarso. Além disso, ele alerta que a importação das amêndoas constitui um fator de risco fitossanitário, “possibilitando a entrada de novas pragas e doenças, que se somariam ao oídio, antracnose, lagarta saia-justa e mosca branca, já instaladas e de difícil e oneroso controle”.
O dirigente informa que, apesar de toda a tecnologia disponível, estima-se que, para cada 175 mil toneladas de pedúnculo absorvidas por pequenas empresas – que produzem suco de caju, cajuína, ameixas, bebidas fermentadas (vinho e licor), doces e mel –, são desperdiçadas um milhão de toneladas. “Convém destacar que a Cione (Companhia Industrial de Óleos do Nordeste) ainda obtém outros subprodutos, com destaque para hambúrguer, carne e paçoca, mas em escala bastante reduzida, com pouco valor agregado”, pondera o presidente do Sincaju. Quanto à amêndoa, ele avalia que três quartos do que é produzido – ou seja, 75% – são perdidos entre a fazenda e a indústria. “E isto tem acontecido apesar dos esforços do Sincaju em oferecer cursos das mais variadas áreas da cajucultura, em todos os principais municípios concentradores dos plantios de caju”, acrescentou.
Desinteresse político emperra atividade
O desinteresse político para o repasse do fundo foi denunciado pelo dirigente. Ele lembra que, na mesma época, “o (então senador) Antônio Carlos Magalhães liberou R$ 15 milhões para o Funcacau (Fundo de Apoio à Cultura do Cacau), e, dos nossos senadores e políticos federais, nenhum mostrou interesse para (o Funcaju) ser liberado e beneficiar 150 mil pessoas nos quase 50 municípios. Foi um assunto perdido”, criticou Paulo.
As poucas precipitações na região, nos últimos anos, tem apresentado grandes oscilações, consequentemente grandes diferenças nas safras e no tempo de colheita, dificultando um planejamento de transporte, mão de obra e estocagem, que poderiam ser realizados em forma de cooperativas ou associativismo. “Apesar de toda importância da cultura, inexiste por parte dos órgãos governamentais uma infraestrutura de armazenamento, para que se pudesse aproveitar as oscilações de mercado e cambiais”, asseverou Ferreira.
Diante da decadência da cajucultura no Estado, Paulo de Tarso informou que irá marcar uma audiência com o governador Camilo Santana. O ESTADO DO CE