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Lula fala em ‘armação de Moro’ ao comentar plano do PCC para matar o senador

Por Rayanderson Guerra / O ESTADÃO

 

RIO – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira, 23, que as suspeitas de que havia um plano do PCC para atacar o senador Sérgio Moro (União Brasil) são uma “armação” do ex-juiz federal. A ação criminosa veio à tona na quarta-feira, 22, após a Polícia Federal deflagrar a Operação Sequaz.

 

“Quero ser cauteloso. Vou descobrir o que aconteceu. É visível que é uma armação do Moro. Eu vou pesquisar e saber o “porquê” da sentença. Até porque fiquei sabendo que a juíza não estava nem em atividade quando deu o parecer pra ele”, disse Lula durante visita ao Complexo Naval de Itaguaí, no Rio de Janeiro.

 

“Mas isso a gente vai esperar. Eu não vou ficar atacando ninguém sem ter provas. Eu acho que é mais uma armação e, se for mais uma armação, ele vai ficar mais desmascarado ainda. Não sei mais o que ele vai fazer da vida se continuar mentindo como está mentindo. Mas o Moro não é minha preocupação.”

 

De acordo com a investigação, Moro, ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, era um dos alvos dos criminosos, que arquitetavam atentados a autoridades, incluindo o promotor que investiga a facção. Como mostrou o Estadãoo objetivo era resgatar o líder do grupo, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola. Foram gastos R$ 5 milhões na ação.

 

Após a PF deflagrar a operação, na quarta-feira, o ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que autoridades tinham conhecimento do plano contra Moro há 45 dias e desde janeiro vinham acompanhando os movimentos do grupo criminoso. Dino, que classificou a investigação como “séria”, afirmou ainda que a operação da Polícia Federal mostrava que “não há nenhum aparelhamento do Estado, nem a favor, nem contra ninguém”.

 

O plano PCC para atacar Moro já havia resultado em embates nas redes sociais e também no Senado porque, na véspera da operação, Lula disse em uma entrevista à TV 247 que, enquanto esteve preso em Curitiba, pensava: “Só vou ficar bem quando foder com o Moro”. A proximidade entre a declaração do petista e a operação da PF mobilizou o Planalto. Dino argumentou que “não há como vincular declaração dada por Lula na terça a uma investigação que tem meses”.

 

O ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, também havia dito, na terça-feira, que a “investigação foi executada com sucesso, impedindo a consumação de um crime”, ao citar que não havia relação entre a fala de Lula de terça-feira e a operação da PF.

 

Moro rebateu as declarações de Lula de que o plano para o seu assassinato seria uma “armação”. “Se acontecer algo, a responsabilidade é de Lula”, afirmou o ex-juiz federal em entrevista à CNN Brasil. “Quero perguntar ao senhor presidente da República: O senhor não tem decência? O senhor não tem vergonha com esse seu comportamento? O senhor não respeita a liturgia do cargo? O senhor não respeita o sofrimento de uma família inocente? O senhor não respeita o combate que os agentes da lei, e aqui eu me incluo, como ex-ministro da Justiça e, antes, juiz, o combate que nós fizemos ao crime organizado”, disse.

 

Na entrevista, o senador disse também que espera “no mínimo, uma retratação” e que, até o momento, não foi procurado por membros do PT ou parlamentares da base do governo para um pedido de desculpas. “Vejo o presidente dando risada de uma família ameaçada pelo crime organizado. Essas declarações me causaram muita revolta”, disse Moro.

 

Mais cedo, antes de Lula falar em “armação”, Moro havia pedido que Lula apoiasse seu projeto de lei para punir quem planeja atentados contra autoridades. “Gostaria de ter apoio também dos membros do PT. É um projeto suprapartidário”, disse em entrevista à Rádio Eldorado.

 

O deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR) também criticou a fala de Lula. “Em vez de se colocar ao lado da lei, das forças de segurança e das vítimas, Lula se colocou ao lado do PCC”, afirmou o ex-procurador da República.

 

Operação Sequaz

 

A Polícia Federal (PF) abriu na quarta-feira uma operação batizada ‘Sequaz’ contra uma quadrilha ligada ao PCC que pretendia atacar servidores públicos e autoridades, planejando assassinatos e extorsão mediante sequestro em quatro Estados e no Distrito Federal. Até o momento, nove investigados foram presos. Moro era um dos alvos da facção, segundo investigadores. Os criminosos se referiam ao ex-juiz com o codinome ‘Tóquio’.

 

A ordem para deflagrar a operação partiu da juíza Gabriela Hardt, que foi substituta de Moro na 13.ª Vara Federal Criminal de Curitiba na Operação Lava Jato. Gabriela substituiu Moro à frente dos processos da Lava Jato na capital paranaense após ele deixar a magistratura para entrar na política.

 

Lula questionou a decisão da juíza e disse querer saber os motivos que levaram à operação. Nas redes sociais, na manhã desta quarta, 22, Moro comentou a atuação das forças de segurança. O senador afirmou que ele e sua família estariam entre os alvos de ‘planos de retaliação do PCC’.

 

À época em que Moro era ministro da Justiça, ele coordenou a transferência e isolamento de lideranças da facção para presídios federais.

 

Entenda a investigação

 

  • Operação

A Operação Sequaz foi deflagrada pela Polícia Federal para desmantelar um plano que mirava o ex-juiz e agora senador Sérgio Moro (União Brasil-PR). A ofensiva ocorreu cerca de 45 dias após o início das investigações

  • Investigações

A PF foi acionada pelo Ministério Público de São Paulo, que identificou risco à segurança de Moro e também do promotor de Justiça Lincoln Gakiya. Mais de cem agentes foram às ruas cumprir 11 mandados de prisão em Mato Grosso do Sul, Rondônia, São Paulo e Paraná. O efetivo vasculhou 24 endereços

  • Histórico

Então ministro da Justiça e Segurança Pública, Moro coordenou a transferência e o isolamento de lideranças do PCC para presídios federais, entre eles Marcola. Já Lincoln Gakiya integra o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) e é responsável por investigações sobre a facção

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