Lula: PIB mostra que economia brasileira não cresceu nada no ano passado
Por Sofia Aguiar, Marlla Sabino e Thais Barcellos / O ESTADÃO
BRASÍLIA- O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira, 02, que o resultado do Produto Interno Bruto (PIB)divulgado na manhã de hoje mostra que a economia brasileira não cresceu “nada” no ano passado. Segundo ele, o compromisso agora é fazer o País voltar a crescer e fazer investimentos, para gerar empregos e renda.
“Hoje foram publicados os dados do último trimestre do ano passado. A economia brasileira não cresceu nada, nada no ano passado. Então, o desafio que temos agora é fazer a economia voltar a crescer, e temos que fazer investimentos”, disse, durante o lançamento do programa Bolsa Família.
Conforme informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB brasileiro caiu 0,2% no quarto trimestre de 2022 ante o terceiro trimestre de 2022. O resultado veio abaixo da maioria das estimativas que esperavam queda de -0,1%, segundo os analistas consultados pelo Projeções Broadcast.
O presidente afirmou que o governo não está prometendo que o Bolsa Família “vai resolver todos os problemas da sociedade” e afirmou que é necessário, em paralelo, uma política econômica de geração de emprego e transferência de renda, através de salários.
Como uma das medidas, o presidente afirmou que não pode permitir que obras continuem paralisadas no País e que é necessário retomar todas que estão suspensas, de diferentes setores.
“Nos últimos quatro anos, o ex-presidente investiu apenas R$ 20 bilhões em obras de infraestrutura. Nós, somente este ano, já anunciamos R$ 23 bilhões, ou seja, em um ano, vamos colocar mais dinheiro do que eles colocaram em quatro. Isso deve valer para educação, pra saúde, pra casa, pra escola, pra creche, porque senão não gera o emprego que precisa gerar.”
Lula afirmou que, para economia crescer, é necessário investimentos privados, mas também ressaltou a importância de investimentos públicos. Segundo ele, bancos públicos vão voltar a investir recursos para gerar emprego, desenvolvimento e distribuição de renda efetiva.
“Só vai gerar emprego se a economia crescer e, é preciso, primeiro, que haja investimento privado e, se não houver investimento privado, que haja investimento público. Não é que a gente quer que o Estado faça as coisas que o privado tem que fazer, mas, se o governo federal não investir dinheiro como indutor do desenvolvimento, nada vai acontecer.”
Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, desaceleração da economia em 2022 está relacionada com uma reação do Banco Central ao aumento de gastos no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, que tentou a reeleição. “Uma razão evidente de que houve uma reação do Banco Central às atitudes do governo anterior no período eleitoral, que ensejou aumento da taxa de juros, o que explica essa desaceleração”, afirmou. “Tudo que nós estamos fazendo agora é para reverter esse quadro para que o Brasil possa retomar uma curva ascendente de crescimento do PIB. Nós estamos em uma curva descendente agora”.
O ministro disse que o governo não trabalha com perspectiva de recessão, mas ponderou que a manutenção da Selic em 13,75% ao ano enseja uma desaceleração da economia. “As medidas que estamos tomando vêm justamente ao encontro do desejo do BC em reduzir as taxas de juros para que a economia não sofra os efeitos da política monetária”, repetiu.
Presidente critica lucro da Petrobras
Lula afirmou que as empresas e bancos do País precisam, primeiro, pensar no melhor para o desenvolvimento econômico do Brasil e, em segundo lugar, nos acionistas. Ao criticar o lucro recorde da Petrobras, divulgado na quarta-feira, 1º, o presidente disse que “não podemos aceitar a notícia”.
“A Petrobras entregou de dividendos mais de R$ 215 bilhões quando ela deveria ter investido metade no crescimento econômico desse país, na indústria brasileira, naval e óleo e gás”, declarou Lula, em evento nesta manhã de lançamento do novo Bolsa Família, no Palácio do Planalto. Segundo ele, ao invés de a estatal investir no País, “ela resolveu agraciar os acionistas minoritários com R$ 215 bilhões”.
A empresa fechou 2022 contabilizando recordes de lucros e dividendos, mas sob forte pressão de políticos ligados ao PT em função do pagamento bilionário a acionistas. A estatal vai distribuir uma cifra total recorde de R$ 215,7 bilhões, referente a 2022, mais do que o dobro do que foi pago em 2021. O maior beneficiado como acionista, no entanto, é o próprio governo federal, como maior acionista da empresa. Para se ter dimensão dos valores envolvidos, com esse montante é possível bancar três vezes o orçamento atual do Bolsa Família. O valor dos dividendos supera o lucro da empresa.
“No nosso tempo, [a Petrobras] era uma empresa de desenvolvimento desse País, agora é uma empresa exportadora de óleo cru. Não foi pra isso que descobrimos o pré sal”, pontuou. “É importante saber que as empresas brasileiras, bancos brasileiros, têm que pensar primeiro nesse país para depois pensar nos seus lucros, nos seus acionistas, vai ser assim daqui para frente para a gente poder mudar a história do país”, finalizou o discurso. / COLABORARAM EDUARDO RODRIGUES E ANTONIO TEMÓTEO