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Governo Lula tenta atrair para a base deputados do PP e Republicanos

Por Gabriel Sabóia e Lauriberto Pompeu — Brasília / O GLOBO

 

Em busca de apoio em votações estratégicas, o governo tenta atrair deputados de partidos do Centrão para a sua base. Em uma demonstração do empenho em cooptar integrantes do Republicanos, por exemplo, o PT foi determinante para a aprovação no Congresso do deputado Jhonatan de Jesus (RR), do partido, para uma vaga de ministro do Tribunal de Contas da União. A articulação para atrair não apenas o Republicanos, mas também o PP, é prioritária. As duas legendas formam, junto com o PL, o tripé do Centrão, que deu sustentação ao ex-presidente Jair Bolsonaro no Congresso.

 

O foco são as bancadas na Câmara. Aliados do presidente Lula avaliam que podem atrair 25 dos 49 deputados do PP e 20 dos 42 do Republicanos. Ou seja, 45 votos no grupo que hoje tem como líder principal o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). No Senado, o cenário é considerado mais difícil: os seis senadores do PP foram eleitos com o apoio de Bolsonaro. No Republicanos, o único que tem diálogo com o PT é o senador Mecias de Jesus (RR), pai do futuro ministro do TCU.

 

Na semana passada, o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) chamou o líder do Republicanos na Câmara, Hugo Motta (PB), para firmar o compromisso de que o PT iria apoiar a indicação para o TCU tanto na Câmara, quanto no Senado. O partido de Lula auxiliou também o presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), a ser escolhido primeiro vice-presidente da Câmara. Mesmo com a segunda maior bancada, o PT não entrou na disputa por esse cargo e ficou com um posto menor, a segunda secretaria.

 

Integrantes do Republicanos garantem apoio do partido às pautas econômicas do governo no primeiro ano de mandato, como a reforma tributária.

— Temos gratidão ao Republicanos pelo apoio na PEC da Transição (que permitiu o Bolsa Família de R$ 600). Queremos e precisamos dos votos deles para aprovar os projetos que vão melhorar a vida do povo — disse o líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR).

O governo abriu negociações para cargos no segundo e terceiro escalão. Estão sendo prometidas nomeações na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) —feudos do Centrão no governo Bolsonaro—, na Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e nos Correios.

Sem especificar nomes, Padilha disse que partidos que se classificam como independentes são aceitos nas negociações para os cargos:

— Se aliar competência técnica e política, se além disso reforçar uma indicação do Congresso Nacional, melhor ainda. Estamos ampliando sim, mais partidos têm indicado nomes para a estrutura do governo federal .

Apesar disso, o presidente do Republicanos repete que o partido é independente e não pretende ser da base lulista. Contrariando os cálculos do governo, o dirigente avalia que o Planalto conta com no máximo a fidelidade de dez deputados do partido nas votações. Um dos deputados próximos ao governo é Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), que fez campanha para Lula e cujo pai, Silvio Costa, é suplente da senadora petista Teresa Leitão.

Da mesma forma, para aderir formalmente à base, o PP depende da aprovação do senador Ciro Nogueira (PI), que é presidente nacional da legenda e foi ministro da Casa Civil de Bolsonaro. Ex-aliado do petista, hoje Ciro faz críticas rotineiras a Lula nas redes sociais. Atualmente, o principal nome do PP a fazer a interlocução com o governo é o presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), reeleito para o cargo no último dia 1º com o apoio do PT. Ele busca manter a influência nos cargos de segundo escalão que tinha durante no governo Bolsonaro. Ele tentou emplacar o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), seu aliado, no Ministério da Integração Nacional, mas não conseguiu. Além disso, seu rival Renan Filho foi escolhido ministro dos Transportes.

 

O deputado Dr. Luizinho (RJ) reconhece que há uma divisão interna causada pela vontade de alguns de apoiar Lula:

— A partir do momento em que o presidente Ciro Nogueira se posicionou como oposição, mas reafirmou a independência do partido, ficou claro que há o grupo que pretende acompanhá-lo, aqueles que se mantêm neutros e os que querem, sim, votar com Lula. Especialmente parlamentares do Nordeste querem seguir com este posicionamento.

Aliados de Lira descartam que ele se comporte como oposição ao governo, mas ao mesmo tempo não vai entrar nos esforços para reforçar a base nas votações. O presidente da Câmara conseguiu manter a influência que tinha na presidência do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) e pretende manter aliados na Codevasf.

Sem mencionar casos específicos, Padilha disse que nomeados durante o governo Bolsonaro poderão permanecer na atual administração:

— Às vezes já tinham pessoas indicadas, que já tinham determinado papel em determinadas áreas, está sendo avaliado. Se forem competentes tecnicamente, do ponto de vista político, têm capacidade de diálogo com a sociedade, podem ser aproveitadas.

Em conversas reservadas, integrantes do PP dizem que não haverá apoio formal do partido a Lula enquanto a legenda não indicar ministros para o governo. O mesmo é dito por parlamentares do Republicanos. Com uma equipe de governo recém-montada, o Palácio do Planalto descarta qualquer reforma ministerial neste primeiro momento.

 

 

 

 

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