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Entorno de Lula avalia que Múcio se desgastou com ataques, mas não a ponto de deixar o cargo

Por Jeniffer Gularte, Sérgio Roxo e Bruno Góes — Brasília / O GLOBO

 

Apesar da pressão e das críticas, a avaliação no entorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é que os ataques promovidos por manifestantes golpistas às sedes dos Poderes desgastaram o ministro da Defesa, José Múcio, mas não a ponto de fazê-lo deixar o cargo. O entendimento no núcleo central do governo é que, embora inicialmente Múcio tenha minimizado os acampamentos bolsonaristas e defendido uma desmobilização conciliada, o episódio fez com que a ficha sobre a gravidade da situação tenha caído para o ministro.

 

Ao tomar posse, no dia 2, Múcio havia declarado que as manifestações eram democráticas e afirmou que tinha parentes e amigos entre os acampados. O ministro da Defesa foi escolhido por Lula justamente pelo seu perfil conciliador e substituí-lo neste momento não seria uma tarefa fácil. Múcio começou a sua carreira política na década de 1970 como filiado da Arena, partido que dava sustentação à ditadura militar no país.

 

Como mostrou o colunista do GLOBO Merval Pereira, ex-ministros da Defesa tiveram hoje pela manhã uma reunião virtual com o senador Jacques Wagner, líder do governo no Senado, para dar apoio a Múcio, que está sendo atacado por alas radicais do PT. Participaram da reunião Nelson Jobim, Raul Jungmann, Aldo Rebelo e o general Fernando de Azevedo Silva.

 

Após os ataques terroristas de domingo, petistas passaram a criticar a postura de Múcio nos bastidores. A insatisfação de uma parte dos aliados do governo se tornou pública na noite de segunda-feira com uma postagem no Twitter do deputado federal André Janones (Avante-MG) em que ele dizia que Múcio “deve entregar a sua carta de demissão nas últimas horas”. Trinta minutos depois da primeira postagem, Janones voltou atrás e disse que Múcio dizia que não renunciaria.

 

Janones não faz parte do grupo de aliados que frequenta o Planalto, mas teve papel de destaque na campanha eleitoral, quando se aproximou bastante de Lula. O então candidato petista consultou rotineiramente o deputado do Avante para se aconselhar sobre como deveria atuar nas redes sociais.

Integrantes do Palácio do Planalto afirmaram ao GLOBO que a fritura de Múcio está concentrada em setores do PT, mas não tem adesão de ministros palacianos, especialmente Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Rui Costa (Casa Civil).

 

Segundo relatos, Costa ficou incomodado com a publicação de Janones. A leitura é de que a especulação não contribui em um momento de tensão.

 

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, vinha manifestando, mesmo antes dos ataques de domingo, uma posição contrária à de Múcio sobre os acampamentos na frente dos quartéis. Em 13 de dezembro, a dirigente foi ao Twitter dizer que havia passado da hora de desmobilizar as frentes de quartéis. “Não tem nada de liberdade de expressão, só golpísmo”.

No domingo, após os ataques, Gleisi foi ao Twitter dizer que as Forças Armadas deveriam mostrar que “estão do lado do Brasil e não de um movimento político partidário de interesses escusos e golpistas".

Dentro do próprio PT não há consenso sobre uma eventual saída de Múcio neste momento, petistas ouvidos por O GLOBO acreditam que o presidente daria sinal de fraqueza se demitisse o ministro da Defesa em menos de duas semanas de governo e logo após a tentativa de um tentativa de golpe. Enquanto uma parte da legenda gostaria de ver Múcio fora, outra admite prejuízos políticos ao presidente em retirar um homem escolhido para pacificar a relação de Lula com as Forças Armadas.

Desde que foi escolhido por Lula para assumir a Defesa, Múcio vem trabalhando para baixar a temperatura nos quartéis, escolheu os novos comandantes pelo critério de antiguidade -- regra inquestionável para a caserna, mas não teve contundência necessária para desmobilizar manifestantes golpistas acampados nos quartéis, na avaliação de aliados de Lula.

Dois ministros de partidos aliados ouvidos pelo GLOBO avaliam que uma eventual demissão de Múcio seria "contraproducente" ou um "tiro no pé". Um deles, inclusive, entende que a crise com parte do PT já foi "dissipada". O outro defende a permanência do chefe da Defesa como a melhor forma de dialogar com as Forças Armadas.

"O que mais o Brasil precisa é de serenidade, experiência e a capacidade de construir consensos que Múcio tem", diz um ministro de partido de centro.

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