Ministra leva bagagem pesada para o primeiro escalão de Lula
Bruno Boghossian
Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA). FOLHA DE SP
Daniela Carneiro se tornou ministra do Turismo num acerto de última hora. Nos dias finais da montagem do governo, dois parlamentares da União Brasil recusaram cargos na Esplanada. A fila andou, e o partido indicou a deputada para a pasta.
A ministra leva uma bagagem pesada para o primeiro escalão. O grupo de Daniela na Baixada Fluminense tem ligações políticas com a família de um ex-policial condenado por chefiar uma milícia na região, como revelou a Folha. Para se eleger deputada em 2022, ela fez campanha ao lado da mulher do ex-PM.
A equipe de Lula tirou a máquina de calcular do bolso quando a história veio à tona. Concluiu que, com o que se sabe até aqui, o desgaste de demitir Daniela na primeira semana de mandato seria maior que o prejuízo de mantê-la no cargo. O núcleo do governo considerou um mau precedente derrubar uma ministra antes da depuração do caso.
Daniela foi indicada como uma recompensa ao prefeito de Belford Roxo, marido da nova ministra, que ajudou Lula na campanha. Agora, o preço da nomeação ficou mais alto.
Aceitar indicações partidárias faz parte da formação de uma coalizão, mas o próprio PT sabe que não vale tudo para construir uma base aliada.
A equipe de Lula vetou a nomeação de Elmar Nascimento, também da União Brasil, porque o deputado era crítico dos petistas, e barrou a indicação de Pedro Paulo (PSD) para o Turismo porque ele havia sido alvo de um inquérito por agressão à ex-mulher, arquivado pelo STF.
O caso atiçou árbitros da falsa equivalência. Mas quem tem no currículo uma longa carreira com homenagens a milicianos e cargos em seus gabinetes é a família Bolsonaro.
Não há fatos que liguem Daniela a ações criminosas, e ela diz que não compactua com atos do ex-PM. Ainda assim, a existência de uma relação política não é algo trivial. Em 2008, o relatório da CPI das Milícias no Rio descreveu a infiltração desses grupos na administração pública e mostrou como eles faziam acordos com candidatos em época de campanha.
O relator da CPI foi o então deputado estadual Marcelo Freixo, que combate as milícias no estado. No governo Lula, ele foi convidado por Daniela para presidir a Embratur.