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Commodities brasileiras criam colchão de proteção cambial

Por Banco Master / o globo

Artigo assinado por Paulo Gala*

 

Em 2022, o Brasil será o maior exportador mundial de soja, açúcar, carne bovina congelada e carne de aves. Já estamos no time de países com maiores reservas de petróleo do mundo graças à descoberta do pré- -sal. Este ano, estaremos entre as maiores produções de petróleo do planeta com quase 4% da oferta mundial.

 

Nosso setor de mineração segue também robusto. Os grandes projetos da Vale se concretizaram com uma das maiores capacidades produtivas do mundo. Nosso volume de exportação é enorme, além do boom de preços do minério de ferro, do níquel, do litium e do cobre.

 

Para os investidores estrangeiros, o Brasil se consolida como o paraíso das commodities. A moeda brasileira readquiriu seu status de “commodity-currency”: moedas que se apreciam muito em booms de commodities.

 

No agro, a situação também é exuberante. Só para a China exportaremos mais de US$ 3 bilhões em carnes em 2022. O setor teve um superávit de US$ 105 bilhões em 2021, compensando nosso déficit de bens tecnológicos e industriais.

 

Em 2021, o saldo negativo do setor industrial chegou a US$ 53 bilhões, o pior resultado desde 2015, mesmo num ano em que o superávit total da balança fechou em nível recorde.

 

O boom de preços de commodities decorrente da pandemia e do conflito com a Ucrânia acabou favorecendo o Brasil com alta de preços de bens agrícolas e energéticos. A alta de preços de commodities sempre nos favoreceu no passado, inclusive quando viramos grau de investimento em 2008. No cenário atual não teremos falta de dólares, e investidores estrangeiros seguirão comprando do Brasil.

 

Nosso grande desafio continua sendo, entretanto, gerar empregos de qualidade para 90 milhões de pessoas. Sem a recuperação de nossa indústria, não conseguiremos tamanha façanha. O atual boom de commodities resolve nosso problema de divisas e ajuda no controle da inflação ao contribuir para a apreciação da moeda brasileira. Fica faltando ainda a essencial retomada de nosso desenvolvimento industrial e tecnológico.

 

A situação brasileira de contas externas hoje é muito melhor do que nas crises dos anos 1970, 1980 e 1990. Temos reservas internacionais robustas, e nossa dívida externa pública é muito baixa. O déficit externo em conta-corrente de 2021 fechou próximo de 1,75% do PIB, abaixo do volume que entrou de investimento direto externo.

 

O superávit da balança comercial do último ano foi de US$ 61 bilhões, muito beneficiado pela explosão do preço de commodities que continua em 2022. Temos hoje US$ 320 bilhões de reservas cambiais.

 

A grande acumulação de reservas entre 2004 e 2013 acabou aumentando a potência de intervenção do BC no mercado de câmbio via swaps ou leilões reversos para domar a trajetória do real. Essa posição robusta de reservas e a utilização de um regime de câmbio flutuante administrado provaram-se muito mais eficientes para nos proteger de crises.

 

Hoje, nossa taxa de câmbio ainda está na posição mais desvalorizada dos últimos 20 anos quando levamos em consideração o que aconteceu com as outras moedas e com a inflação no Brasil e no mundo. É aquilo que os economistas chamam de “câmbio real efetivo”. Pelo padrão histórico, a tendência é que a moeda brasileira ganhe valor ao longo dos próximos anos.

 

O Brasil está bem melhor do que países emergentes frágeis. Nos últimos 20 anos, os governos brasileiros trocaram o passivo externo público de dólares para reais. Ou seja, trocaram a dívida externa por dívida interna.

 

O custo da dívida interna hoje subiu muito e deve passar dos 10% ao ano, mas ainda assim será sempre financiada em reais e não em dólares. O problema de ter muita dívida externa pública é que, sem reservas e com fuga de capitais, o dólar dispara e leva junto a inflação.

 

O grande risco de déficits em conta-corrente está na necessidade de financiamento externo para fechar a conta de dólares. Se nosso comércio externo não é capaz de gerar dólares para pagar as contas de rendas, sobra para a conta capital fazer o financiamento do balanço de pagamentos. Ou seja, passamos a depender de fluxos de capitais estrangeiros que vêm para a Bolsa e para títulos brasileiros para ajudar a fechar esse gap externo.

 

O problema dessa estratégia é que são dólares emprestados que vêm e vão, voláteis. A atração de capitais aumenta nosso passivo externo, e passamos a dever mais para os estrangeiros. Enquanto estão otimistas, há financiamento farto. Mas, no caso de uma reversão de humor, o estrago é grande.

 

A boa notícia é que hoje, apesar de termos mais de US$ 100 bilhões de swaps, estamos ainda com uma posição externa bastante sólida, e o boom mundial de commodities nos ajuda muito.

 

 

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