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Presidente gasta bilhões para tentar salvar a reeleição

Com a popularidade em queda nas pesquisas, o presidente Jair Bolsonaro prepara um pacote de medidas populistas para tentar salvar sua reeleição. O preço será amargo e vai ser pago por todos os brasileiros: custará mais de R$ 90 bilhões aos cofres públicos – valor que seria suficiente para cobrir o rombo de R$ 42 bilhões previstos para as contas da União em 2022. A estratégia prevê novos benefícios aos mais pobres, como o Auxílio Brasil e o vale-gás, linhas de créditos e reajustes salariais para categorias aliadas do Planalto, com uso político dos bancos públicos.

O Planalto quer usar o Fundo de Garantia dos Trabalhadores (FGTS) para financiar um novo plano de microcrédito da Caixa Econômica Federal e ajudar pessoas com o nome sujo no SPC e no Serasa. Serão cerca de R$ 13 bilhões do fundo, patrimônio dos trabalhadores e principal financiador da habitação no País, remanejados para garantir empréstimos de até R$ 4 mil a cerca de 20 milhões de pequenos empreendedores com o nome negativado. O Centrão, no entanto, quer mais: tenta cavar R$ 30 bilhões no Orçamento para ampliar o número de beneficiados.

DE OLHO NO VOTO João Roma, minitro da Cidadania: governo planeja pagar benefício de R$ 400, mas o Centrão quer aumentar esse valor (Crédito:Max HaacK)

“O governo Bolsonaro é populista desde o seu início. As linhas de crédito dos bancos públicos têm ligação com a base do presidente no Congresso. Lá na ponta, o financiamento tem impacto direto no deputado federal. Isso será usado para fazer marketing do governo na campanha”, afirma Paulo Baia, professor de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Bolsonaro escalou o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, para recuperar a imagem do governo no Nordeste, onde o mandatário perde força dia após dia. A Caixa ampliou a atuação na região e aumentou a fatia de operação de crédito para os nordestinos. O banco também tenta viabilizar crédito e perdão de devedores que estão inadimplentes no Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), programa que libera empréstimos a estudantes de escolas particulares.

Bolsonaro anunciou ainda que vai usar a Caixa para dar privilégios a policiais. Uma linha de crédito imobiliário especial concederá R$ 100 milhões para que profissionais da segurança pública possam financiar imóveis. O Banco do Brasil também destinará R$ 10,5 bilhões para o financiamento rural, com o objetivo de ajudar grandes produtores do agronegócio. “Bolsonaro demorou demais para fazer isso. Faltou competência e criatividade. Agora só pensa em 2022 porque está caindo nas pesquisas”, disse o deputado Fausto Pinato, deputado federal do (PP-SP), partido do Centrão.

“O governo federal é populista desde o início. As linhas de crédito têm ligação com a base no Congresso” Paulo Baia, professor de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

As medidas populistas de Bolsonaro não param por aí. O Auxílio Brasil, coordenado pelo ministro da Cidadania, João Roma, só se tornou viável porque o governo deu um calote nas dívidas judiciais por meio da PEC dos Precatórios. Com isso, o presidente terá R$ 54,4 bilhões para pagar a bolsa de R$ 400 à população carente. Para tentar reverter a rejeição a Bolsonaro, que já bate na casa dos 55%, Valdemar Costa Neto, líder do PL, partido do presidente, quer aumentar o valor para R$ 600 – o que traria mais caos para as já desarrumadas contas públicas. O governo federal também reservou R$ 1,9 bilhão a fim de cobrir as despesas do vale-gás, por meio do qual o Planalto pagará a metade do valor da conta de gás das famílias de baixa renda. Isso tudo sem contar os bilhões em verbas destinadas a parlamentares por meio do orçamento secreto.

“Faltou competência e criatividade: Bolsonaro só pensa em 2022 porque está caindo nas pesquisas” Fausto Pinato, deputado federal (PP-SP)

QUADRILHA Pedro Guimarães, presidente da Caixa, dança em festa junina: benefícios a aliados e linhas de crédito com critérios políticos (Crédito:Divulgação)

O pacote eleitoral engloba ainda o reajuste salarial do funcionalismo público. Como anunciou reajuste aos policiais, Bolsonaro sofre pressão de outras categorias. A tendência é que pelo menos R$ 2,8 bilhões sejam gastos para atualizar a folha dos servidores no ano que vem. Em outra frente, o mandatário prorrogou a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) a taxistas e pessoas físicas na compra de carros novos – com a medida, o governo federal deixará de arrecadar R$ 1,8 bilhão. Outra promessa no radar do Planalto é o bolsa- caminhoneiro, benefício que deve custar R$ 4 bilhões aos cofres da União.

“Essa linha populista bate de frente com a política econômica do Banco Central e de Paulo Guedes. O presidente do BC vem aumentando os juros para conter a inflação, mas aí o crédito fica mais difícil”, afirmou. “Se a política econômica torna o crédito mais difícil, fica nítida a estratégia populista dos bancos públicos, que rompem essa barreira de financiamento com créditos especiais. E faz uma linha de crédito política para fortalecer sua base de deputados estaduais, federais e senadores. Já estamos em campanha eleitoral.”

Ricardo Chapola / ISTOÉ

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