Obra avaliada em R$ 143 mil está há 10 anos abandonada no Sul do Piauí
Os moradores do povoado Salgado, a 42 km da zona urbana de Dom Inocêncio, no semiárido piauiense, até hoje esperam pela conclusão de uma obra iniciada há 10 anos e avaliada em mais de R$ 143 mil. A construção do mercado público, prevista para movimentar o comércio local, teve apenas as paredes levantadas e parte do telhado instalado, mas nunca foi concluída.
No dia 4 de agosto de 2006, o Diário Oficial do Piauí publicava o extrato de contrato entre o governo do estado e uma empresa de engenharia para a construção do mercado público na localidade. Passada uma década, a obra permanece inacabada e o que foi erguido está desmoronando e sendo consumido pela ação do tempo.
De acordo com os moradores do povoado, a obra parou cerca de um ano depois e desde então nenhum operário foi visto no local. Por ser o maior povoado da zona rural do município e estar distante da cidade, Salgado utilizaria o mercado para a realização de uma feira onde os moradores do lugar e de comunidades próximas pudessem vender seus produtos e movimentar a economia da área.
"É um povoado importante para a região e não tem um espaço para fazer a feira pelo menos uma vez na semana. O objetivo era usar o mercado para os comerciantes e produtores comercializarem seus produtos e ajudar a desenvolver essa região e as comunidades que ficam próximas, pois ele não beneficiaria somente o Salgado. A obra está parada, toda deteriorada e não tem 50% feita", falou o morador Ângelo Oliveira.
A obra foi orçada em um valor global de R$ 143.541,02 e o prazo inicial de execução era de 95 dias, segundo o contrato número 111/2006, assinado em julho do mesmo ano entre a Secretaria de Infraestrutura do Estado (Seinfra) e a empresa Engeste Engenharia Ltda, de Teresina. A obra também chegou a receber recursos de emenda parlamentar do deputado estadual Hélio Isaías (PP), conforme afirmou o próprio deputado em entrevista ao G1.
"Infelizmente a obra foi feita apenas uma parte. Me parece que a empresa responsável quebrou e não teve mais como continuar. Na época eu coloquei recursos para essa construção, que é muito importante para aquela região do povoado Salgado. O ideal agora é começar praticamente do zero ou buscar continuar", falou o deputado.
Procurada pelo G1, a Secretaria de Infraestrutura do Piauí informou que o contrato assinado venceu em janeiro de 2007. A secretaria disse ainda que não era possível afirmar o motivo pelo qual a obra do povoado Salgado foi esquecida, porque na época o secretário era outro e que o engenheiro responsável também não está mais na secretaria. Apesar disso, a Seinfra informou que foram gastos quase R$ 95 mil na construção do que atualmente está abandonado.
A assessoria de imprensa do órgão disse também que não existe uma previsão de retomada da obra, mas ressaltou que o caso será levado até a atual secretária Janaína Marques, para que ela tome conhecimento da situação e adote as providências necessárias.
A reportagem não conseguiu contato com a empresa Engeste Engenharia.
Mais abandono
Além do mercado público da localidade Salgado, outra obra do governo do estado também se arrasta há anos e está abandonada no município de Dom Inocêncio. Iniciado em 2009, um matadouro público situado a aproximadamente 3 km da zona urbana e orçado em R$ 101.672,26 mil está se desmanchando com o abandono. Segundo os moradores, a obra está totalmente paralisada há pelo menos cinco anos.
O contrato para construção do matadouro público de Dom Inocêncio foi assinado entre a Secretaria das Cidades do Piauí e a Construtora Cristal Ltda, de São Raimundo Nonato, no dia 9 de junho de 2009. A obra tinha prazo de conclusão previsto para 120 dias, mas já se passaram mais de 2.500 dias e nada da estrutura ser concluída.
No site do Tribunal de Contas do Estado (TCE), o status da obra consta como "finalizada", mas apesar disso a estrutura está inacabada e o mato cresce nos arredores. Ainda conforme moradores ouvidos pelo G1 e que não quiseram ter o nome revelado, no que seria um matadouro, apenas cabras e porcos vivos passeiam tranquilamente.
Procurada pela reportagem, a Secretaria das Cidades informou que a obra foi paralisada porque a construtora responsável parou. O órgão disse ainda que a situação do matadouro de Dom Inocêncio já foi informada à Procuradoria Geral do Estado (PGE), mas que ainda não teve resposta. A secretaria garantiu que o atual secretário Fábio Xavier está fazendo o possível para organizar tudo o que foi deixado pendente pelas gestões anteriores.
O G1 não conseguiu contato com a Construtora Cristal Ltda para que a empresa comentasse o assunto.