'Existem dois chefes do golpe, da farsa e da traição', acusa Dilma em ataque a Temer e Cunha Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/brasil/existem-dois-chefes-do-golpe-da-farsa-da-traicao-acusa-dilma-em-ataque-temer-cunha-1-19065641#ixzz
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff atacou duramente em seu discurso o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o vice-presidente Michel Temer ao citar que há "dois chefes da conspiração que agem em conjunto de forma premeditada". (Leia a íntegra do discurso de Dilma)
— Vivemos estranhos tempos de golpe, farsa e traição. Existem, sim, dois chefes que agem em conjunto de forma premeditada. Como muitos brasileiros, tomei conhecimento e confesso que fiquei chocada com a desfaçatez da farsa do vazamento. Vazando pra eles mesmos. Estranho vazamento — disse ao se referir ao áudio em que Temer faz um discurso pós impeachment. E prosseguiu:
— Agora conspiram abertamente. Ao longo da semana, acusaram-me de usar expedientes escusos para compor meu governo. Caluniam enquanto negociam posições no gabinete do golpe.
No discurso, a presidente atacou novamente Michel Temer ao dizer:
— Esse chefe conspirador não tem compromisso com o povo. Diz que está pensando em manter as conquistas socias. Como se conquistas sociais se pensa ou não em manter. Cai a máscara dos conspiradores. A quem interessa usurpar do povo brasileiro o sagrado direito de escolher quem o governa? Como acreditar num pacto de salvação e unidade nacional sem sequer uma gota de legitimidade democrática? Como acreditar que haverá sustentação pra tal aventura? Sem legitimidade ninguém pacifica, ninguém constrói unidade — afirmou Dilma, que continuou suas críticas:
— Na verdade, explicitou-se o desapreço que se tem pela democracia. É uma atitude de arrogância e desprezo. Se ainda havia alguma dúvida sobre o golpe, a traição à Pátria em curso, não há mais. Um deles é a mão, não tão invisível assim, que conduz com desvios de poder. O outro esfrega as mãos e ensaia a farsa de um pretenso discurso de posse. Cai a máscara dos conspiradores, o Brasil e a democracia não merecem tamanha farsa — disse, complementando:
— Tentarão nos intimidar. Tentarão nos tirar das ruas. É possível novos vazamentos ilegais, é possível novas acusações sem prova. Não se deixem enganar por nenhuma manobra mentirosa, de última hora. Sempre atuem com calma e com paz. Não, não somos violentos, não perseguimos pessoas, nossos adversários com gestos de ódio. Acreditamos na consciência das pessoas. A verdade vai prevalecer. O impeachment não vai passar. O golpe será derrotado.
Dilma finalizou seu discurso citando uma frase que Beth Carvalho cantou no ato contra o impeachment no Rio, na véspera:
— Como cantou ontem Beth Carvalho no ato dos artistas, afirmando que não vai ter golpe de novo. Sem dividir o coração, vamos honrar nossa raiz. Democracia é o que a gente sempre quis.
PLANALTO VOLTA A SER PALANQUE
A presidente participou pela sétima vez em três semanas um ato contra o impeachment no Palácio do Planalto. Nesta terça-feira pela manhã, educadores, alunos e militantes partestão no "Encontro da Educação pela Democracia" no maior salão do palácio, que está lotado. É o primeiro ato após a derrota na comissão especial do impeachment na Câmara dos Deputados, que aprovou por 38 votos a 27, o parecer do relator Jovair Arantes (PTB-GO) favorável à abertura do processo de afastamento da presidente. A solenidade começou às 11h22 desta terça-feira sob os gritos de “Não vai ter golpe, vai ter luta!"
Desde o final de março, Dilma já recebeu juristas, artistas e mulheres em eventos temáticos "contra o golpe". Desde então, é frequente a presença de integrantes de movimentos sociais, com cerimônias marcadas por gritos de apoio a Dilma e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A presidente também tem feito, nos últimos dias, atos no palácio com beneficiários diretos de programas sociais, como de reforma agrária, o Pronatec e o Minha Casa Minha Vida.
Quando a presidente assinou decretos pela reforma agrária, no último dia 1º, foi a primeira vez no ano em que houve três cerimônias abertas em dias consecutivos no Planalto. A agenda de viagens da presidência também é focada em agendas positivas: há um mês, Dilma só deixou Brasília para entregar novas unidades habitacionais do Minha Casa Minha Vida, em Feira de Santana (BA) e no Rio - onde também inaugurou o Estádio Olímpico de Desportos Aquáticos - e para batizar um navio da Marinha em Salvador.
Subindo ao púlpito para discursar no evento de educadores "pela democracia", o ministro da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera (PMDB), disse que ele e seus dois colegas peemedebistas com mandato de deputado Mauro Lopes (Aviação Civil) e Marcelo Castro (Saúde) irão se licenciar do Ministério para votar contra o impeachment no plenário da Câmara no próximo domingo. Sem citar o nome do vice Michel Temer, que até a semana passada presidia seu partido, Pansera criticou o áudio vazado de Temer no qual ele faz um discurso como se o impeachment já tivesse sido aprovado na Câmara e ele estivesse prestes a virar presidente.
— Ontem (segunda-feira) teve uma mensagem de que se manteria os programas (sociais). Eu votei numa presidente, e não num vice. Se não há fato determinado por que o impeachment, senão a disputa política? — questionou Pansera em sua fala, bastante aplaudida pela plateia, que a todo momento interrope discursos de defesa do governo Dilma para cantar: "Não vai ter golpe, vai ter luta".
Antes dele, a estudante de Medicina do Prouni (programa de bolsas de estudo para estudantes de baixa renda) Suzane da Silva fez um discurso inflamado, no qual disse que está cansada de lutar contra os retrocessos. Negra, a estudante disse que já foi criticada por seu volumoso cabelo enrolado.
— Perguntaram se eu entraria no hospital com esse cabelo. Eu estou aqui pra dizer que eu não entro só no hospital, não, que eu entro no avião e entro no Palácio do Planalto — bradou.
A plateia, apoiou, cantando: "Eô, o filho do pedreiro vai poder virar doutor".
COMPARAÇÃO COM VARGAS, GOULART E JK
Aloizio Mercadante, ministro da Educação, discursou logo após Celso Pansera. Mercadante comparou o governo Dilma às gestões de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart. Mercadante disse que, assim como esses presidentes, Dilma sofre um ataque "golpista" disfarçado.
— A história é implacável com os golpistas. Onde a gente lê "constitucional", ficará como "inconstitucional". Onde eles dizem que é "verdade", ficará como "mentira". Onde está "impeachment" ficará como "golpe" — declarou o ministro.
O ministro da Educação disse que, na sala de aula, não são ensinados valores como "delação" e "traição":
— Na sala de aula o valor não é traição, é compromisso. Não é oportunismo. É solidariedade, companheirismo. Não é delação.
Mercadante ainda afirmou que Dilma é "a cara da educação brasileira" e que ele é testemunha de que a presidente não tem "nenhum ato" em sua biografia que lance dúvidas sobre sua conduta.