BC planeja o real digital
País segue os passos da China, que lançou em abril o yuan digital, primeira moeda deste tipo no mundo. Bancos centrais de outros países também planejam a emissão das suas novas divisas
Assim como a China, que em abril começou a emitir a sua moeda digital, o Brasil também tem um projeto para lançar o real digital. Os estudos feitos pelo Banco Central estão “avançando”, revelou recentemente Roberto Campos Neto, presidente do BC brasileiro, em uma videoconferência. Seria um desdobramento de um projeto de modernização já em curso, possível com a aprovação da nova lei cambial, no fim do ano passado, que criou a base para a inovação.
100 mil pessoas começaram a usar o yuan digital na China
Além do Brasil, EUA, Reino Unido, Rússia e Índia estudam aprovar suas moedas digitais. Assim como no Brasil, ainda não existe uma data projetada para esses lançamentos. A moeda digital promete revolucionar a emissão de dinheiro, eliminando totalmente o uso, não só das cédulas de papel e moedas, mas também dos cartões de débito e dos sistemas intermediários de pagamento. Especialistas dizem que esta mudança, contudo, não será rápida. É cultural e poderá levar várias décadas. É muito provável que o dinheiro digital coexista durante bastante tempo com as cédulas de papel, moedas e meios eletrônicos de pagamento. “Na teoria, a moeda digital eliminaria até os bancos, porque permitirá que os pagamentos ocorram diretamente entre as pessoas”, diz Letícia Murakawa, diretora-executiva da Capco, empresa de serviços financeiros, com matriz na Grã-Bretanha e filial no Brasil.
Ela destaca que a vantagem do meio digital é a segurança, além do fato de a moeda ser criptografada e ter também um custo muito menor de emissão e manutenção, em comparação ao papel. O meio digital também dá rapidez à compensação dos pagamentos, que costuma ser instantânea. As transações no meio digital são protegidas pela tecnologia blockchain, o que garante que o meio de pagamento é seguro. Muitas transações nos meios eletrônicos contam com esta tecnologia, que de poucos anos para cá ficou mais acessível.
A desvantagem seria o controle que a autoridade monetária teria sobre os pagamentos realizados pelos cidadãos, algo perigoso em um regime totalitário. Ela comenta que este controle, em grande parte, já existe nos meios eletrônicos, hoje predominantes na maioria dos países. “Não é muito diferente do que já ocorre hoje com as transações eletrônicas como DOC, TED, PIX, cartões de débito e crédito”, observa. “O que determina se uma moeda é forte é se ela tem adesão ou não. O grau de ceitação ou rejeição de uma moeda trará a estabilidade para o dinheiro.”
Pioneirismo chinês
O Banco Popular da China lançou o yuan digital em abril e autorizou os bancos a liberá-lo para 100 mil pessoas, inicialmente. A moeda digital permite a qualquer pessoa receber o dinheiro no seu próprio celular, transformado em uma “carteira”. Há uma razão para essa experiência ter começado no país. Na China, mais de 80% das compras são pagas pelo celular, usando sistemas eletrônicos de pagamentos das empresas locais Ali Baba, Alipay e Didi. Além de venderem produtos, essas companhias oferecem serviços como aluguel de carros. A moeda digital chinesa elimina os serviços intermediários, como os das empresas locais, e das multinacionais PayPal, Entropay e Paysafe.
Em inglês, foi adotada a sigla CBDC (Central Bank Digital Currency, ou Moeda Digital de Banco Central) para se referir a este dinheiro, que, ao contrário de uma criptomoeda, só é emitido pela autoridade monetária de um país. Ai está uma diferença fundamental em relação às nove mil criptomoedas que circulam no mundo, como a Bitcoin e a Ethereum. As divisas nacionais têm lastro garantido pelos bancos centrais. Será o caso do futuro real digital. ISTOÉ