Lula: a solução virou um problema - ÉPOCA
Três dias depois dos maiores protestos da história recente, quando cerca de três milhões de pessoas em todo país pediram o impeachment, o governo da presidente Dilma Rousseff começou a trabalhar no que considerava ser seu movimento mais ousado, sua última cartada para começar levantar. Logo cedo, líderes do governo no Congresso anunciavam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava nomeado ministro-chefe da Casa Civil. A presidente Dilma anunciou oficialmente a chegada de Lula poucas horas depois. A partir daí, um looping de acontecimentos virou a situação pelo avesso. O governo terminou o dia com mais protestos contrários: milhares de pessoas se juntaram em 15 estados, inclusive na porta do Palácio do Planalto, para rejeitar com veemência a integração de Lula ao governo.
Os manifestantes começaram a se juntar em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília, no final da tarde. No início da noite, com a nomeação de Lula, o juiz Sérgio Moro levantou o sigilo sobre a parte da Operação Lava Jato que investigou o ex-presidente. Nomeado ministro para que seu caso só possa ser examinado pelo Supremo Tribunal Federal, Lula não está mais na jurisdição de Moro. O fim do sigilo tornou públicas gravações captadas pela Polícia Federal, que grampeou os telefones de Lula com autorização da Justiça federal.Na mais grave, ocorrida às13h32 desta quarta, a presidente Dilma Rousseff avisa Lula que está enviando um funcionário do governo com o termo de posse como ministro para “qualquer eventualidade”. Antes mesmo de ser oficialmente nomeado, Lula tinha o termo de posse para evitar que fosse preso. Ficou claro que Lula ganhou o cargo de Dilma para se proteger de um eventual pedido de prisão.
A divulgação das gravações turbinou as manifestações. No plenário da Câmara, deputados gritaram “renúncia”. Nas ruas em todo o país, os protestos começaram a crescer. Ao longo da noite, manifestantes que estavam em frente ao Palácio do Planalto também se deslocaram para a porta do Congresso Nacional. O governo, que começou o dia com a crença que Lula seria uma possível solução contra seu fim, terminou com uma crise a mais no colo.