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Conversa vadia de Mercadante conduz a Dilma

MERCADANTE

Há cadáveres demais nos autos da Lava Jato. Insepultos, produzem um fedor lancinante. Como em toda grande tragédia, a contagem das vítimas do petrolão é lenta. A pilha de corpos cresce a cada nova delação. Nesta terça-feira um pedaço das confissões do ex-líder governista no Senado Delcídio Amaral desabou sobre a cabeça de Aloizio Mercadante. Abatido, o ministro leva o cheiro de enxofre para dentro do Palácio do Planalto. Até aqui, o excesso de mortos vinha ofuscando a imagem do principal defunto: o mandato de Dilma Rousseff.

A voz de Mercadante soou emgravações insólitas. Nelas, o ministro conversa com Eduardo Marzagão, principal assessor de Delcídio no Senado. Faz gestões para dissuadir a delação do senador, que estava preso. Insinua que pode obter dinheiro para os advogados e fazer lobby em favor do preso junto aos presidentes do Senado, Renan Calheiros, e do STF, Ricardo Lewandowski.

Se perguntarem a qualquer petista quais são os três ministros mais próximos e leais a Dilma, ele responderá: Mercadante, Mercadante e Mercadante. Como de hábito, a presidente dirá que “não sabia” da movimentação de seu fiel escudeiro. Mercadante também se apressa em isentar madame. Difícil vai ser encontrar quem lhes dê crédito fora do pequeno círculo de áulicos composto pelos auxiliares que chamam Dilma de “presidenta”.

Num dos trechos da gravação, Mercadante afirma: “Eu sou um cara leal. A Dilma sabe que, se não tiver uma pessoa para descer aquela rampa, eu vou com ela até o final. Eu gosto do Delcídio, eu acho ele um cara muito competente, muito habilidoso, foi fundamental para o governo, um monte de virtudes, muito mais jeitoso, ia atrás, se empenhava, fazia…”

Com sua lealdade excessiva, o ministro ajudou a aproximar Dilma da porta de saída, que dá para a rampa do Planalto. Juridicamente, falta uma prova de que o ministro falasse em nome da chefe. Politicamente, o óbvio vale como evidência. A credibilidade de Dilma aproxima-se um pouco mais do chão. Mercadante talvez já não tenha como acompanhá-la numa derradeira descida.

O comportamento do ministro pode ser tipificado no Código Penal. Chama-se tentativa de obstruir a Justiça. Ironicamente, Delcídio havia sido preso pela mesma razão. Tentara comprar o silêncio do delator Nestor Cerveró. E foi pilhado em flagrante numa gravação feita por seu interlocutor, filho do ex-diretor da Petrobras. Enrolado, Delcídio suou o dedo a mais não poder. Entre os nomes que mencionou estão, além de Lula e Dilma, o vice Michel Temer, alternativa constitucional a Dilma, e o grão-tucano Aécio Neves, principal opção presidencial da oposição. JOSIAS DE SOUZA

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