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Por que Cardozo perdeu a estrela - ISTOÉ

Aquele ‘bundão’ não controla a Polícia Federal.” Foi com esta frase desprovida de decoro que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu à sua sucessora Dilma Rousseff a cabeça José Eduardo Cardozo, então ministro da Justiça, segundo relato de interlocutores. Era sempre com adjetivos pouco protocolares como este que ele se referia ao ex-titular da pasta na qual está lotada a PF. A reunião entre criador e criatura aconteceu na sexta-feira dia 12 de fevereiro em São Paulo – na ocasião, também trataram sobre o posicionamento de ambos em relação às denúncias que o petista vem recebendo sobre a suposta propriedade não declarada de um sítio em Atibaia e de um triplex no Guarujá. 

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Sucessão forçada: Cardozo (dir.) cede lugar a Lima, nome de confiança do grupo de Lula

 
Sem sutilezas, Lula avisou a Dilma que o governo só continuaria contando com seu próprio apoio, o da militância petista e o dos movimentos sociais caso Cardozo fosse imediatamente sacado de sua cadeira onde, na avaliação dos encrencados nas operações Lava Jato, Zelotes e Acrônimo, ele não passava de um “mão frouxa”, que deixou a situação sair do controle que acabou no atropelamento moral de companheiros do PT e de aliados do governo. Esta foi a enésima e última vez que o ex-presidente exigiu a demissão de Cardozo. Após o tête-à-tête com Lula e com a prisão do marqueteiro, amigo e conselheiro João Santana, Dilma finalmente sucumbiu à pressão. 
 
Na segunda-feira (29), o governo anunciou que Cardozo seria retirado da Justiça e que assumiria como Advogado-Geral da União, pasta com status de ministério, mas infinitamente menor e menos poderosa. Portanto, ao contrário do que pretendeu a estratégia de comunicação traçada pelo governo, Cardozo não pediu para deixar o Ministério da Justiça nesta ocasião, posto que ocupou por cinco anos consecutivos. Ele foi, na verdade, demitido do cargo. Segundo ISTOÉ apurou, ele foi deslocado para assumir a AGU como uma espécie de prêmio de consolação pela lealdade e pelos serviços prestados até agora. 
 
Foi também um jeito conveniente de a presidente conseguir manter por perto um dos únicos políticos e conselheiros que gozam de sua irrestrita confiança. Cardozo havia se comprometido com a presidente que permaneceria na pasta até as Olimpíadas, já que o Ministério da Justiça tem um papel fundamental no planejamento e execução de toda a segurança dos Jogos do Rio, especialmente por conta da atuação da Força Nacional de Segurança Pública, também sob seu guarda-chuva. Em declarações públicas, Cardozo costumava argumentar, desde o fim de 2014, que já havia atingindo uma “fadiga de material” e que, portanto, precisava deixar a pasta. 
 
Falava que gostaria de voltar a dar aulas e advogar. Enquanto isso, sua superior nunca aceitava nem ouvir falar no assunto. Mas a decisão de tirar o “ministro-problema” da “pasta-problema” foi sacramentada entre Dilma e os ministros Jaques Wagner, da Casa Civil, e Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo, na quinta-feira (25), data em que a petista foi apresentada ao novo titular da pasta, o ex-procurador-geral da Bahia Wellington César Lima e Silva. O nome para acalmar Lula e a militância petista foi escolhido a dedo por Wagner, que foi governador da Bahia por dois mandatos seguidos e ainda fez o sucessor, Rui Costa (PT). 
 
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Na Polícia Federal, houve reações à possibilidade de ingerência do governo,
com uma eventual substituição do diretor geral Leandro Daiello. A princípio, ele vai ficar
 
Chegou-se a discutir internamento no Palácio do Planalto os efeitos negativos que ela colheria com esta mudança, pois a faria perder um dos únicos discursos que ainda lhe restam e que, mesmo que não cole, é repetido à exaustão: o de que a gestão Dilma oferece condições para que as instituições conduzam suas investigações com liberdade e independência. Ainda assim, nenhum colega tentou interceder junto à chefe para demovê-la da ideia de dispensar Cardozo. As reações à substituição de Cardoso vieram de outras frentes. A oposição enxergou na manobra um risco à independência das apurações da Polícia Federal na Operação Lava Jato. E a própria corporação manifestou esse temor, a partir de uma eventual mudança da direção geral. 
 
Antes mesmo de ser empossado como novo ministro, Lima apressou-se em negar uma troca imediata de comando na PF e garantiu a permanência de Leandro Daiello como diretor-geral. Mas o mal estar não se dissipou. Até mesmo o fato de um procurador assumir o Ministério foi levantado como um erro tático do governo, já que procuradores e agentes da PF mantém uma rivalidade declarada quando se trata de definição sobre os poderes de cada categoria nas investigações. Além da antiga e bem cultivada ira de petistas ligados à corrente majoritária do PT, Construindo Um Novo Brasil, e ao recente ódio de aliados, Cardozo conseguiu suscitar a revolta de seus próprios colegas ministros nas últimas semanas. 
 
Foi espetada na conta dele a publicação feita por veículos de comunicação de e-mails pessoais de autoridades por meio de vazamentos ou da divulgação de inquéritos policiais. Algumas das vítimas dessas publicações tiveram suas caixas de e-mail abarrotadas de mensagens com a mais fina “poesia” do mundo virtual e, por isso, acabaram tendo que extinguir suas contas. Não que o então ministro tenha tido culpa direta pela reação calorosa de internautas. Mas esse episódio serviria, segundo o fogo amigo, para demonstrar o modo displicente com que ele vinha tratando o assunto. Cardozo agora ocupa a vaga deixada por Luiz Inácio Adams. 
 
Mesmo que este movimento não tenha sido previamente planejado, a saída de Adams da AGU, onde ficou por sete anos, caiu como uma luva para Dilma, para o PT e para o próprio Cardozo. Adams anunciou que deixaria o Executivo já no ano passado, quando a presidente sequer admitia falar em trocar seu ministro da Justiça. Duas semanas antes da saída de Adams, ela ainda não havia escolhido um sucessor. Por isso, quando a situação de seu protegido ficou insustentável a ponto de ameaçar o seu próprio mandato, ela vislumbrou na AGU a solução perfeita.Cardozo é advogado por formação e exerceu o cargo de procurador do município em São Paulo, do qual está licenciado para ingressar na vida pública. 
 
À frente da Advocacia Geral da União, ele agora fará o que sempre fez desde que Dilma se reelegeu: continuará a tentar salvar o mandato de sua chefe, mas agora com mais legitimidade e sem, na prática, acumular funções. Se por um lado Dilma resolve agradar Lula e militância, por outro ela mesma se isola cada vez mais no canto de sua sala e vai se desfazendo, um a um, de pessoas de sua confiança para ceder espaço às exigências de Lula. Foi ele que comandou e continua comandando a dança das cadeiras realizada por Dilma. 
 
Na Fazenda, ele exigiu a substituição de Joaquim Levy por Nelson Barbosa. E ela cedeu. Lula ordenou também a troca do ex-ministro da Casa Civil Aloizio Mercadante (agora na Educação) por Jaques Wagner. E ela aceitou. Agora exigiu a cabeça de Cardozo. E ela entregou. Daqui a pouco, ninguém mais poderá dizer que a culpa pelas mazelas do país é de Dilma já que, apesar de ela ainda ter a caneta na mão, é Lula quem entrega os papéis para assinar.
 
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Créditos das fotos nesta matéria: Andre Coelho /Ag. O Globo; Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

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