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Obra federal parada, que já consumiu R$ 348 milhões, transforma a BR-493 (Manilha-Magé) na 'estrada da morte'2

Não bastassem os perigos, em 2017, com trabalhos ainda em andamento, o Tribunal de Contas da União (TCU) apontou irregularidades nas obras. Indicou um sobrepreço de R$ 41 milhões, decorrente de redução do padrão de qualidade da intervenção licitada, e de R$ 14 milhões devido a um reajustamento em desacordo com o contrato.

Enquanto isso, segue o pesadelo de moradores como Russo. Ele trabalha na Escola Municipal José Ferreira, próximo a Itambi. Apenas em frente ao colégio, três pessoas já morreram em acidentes nos últimos meses. Nos 25 quilômetros da estrada, diz ele, já são contabilizadas ao menos 20 mortes.

Engarrafamentos diários

Em protesto, no fim do ano passado, cerca de 3 mil pessoas fecharam a estrada, próximo ao entroncamento com a BR-101, em Manilha. Em junho, o assunto também foi levado a uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

São poucos quilômetros de asfalto prontos. Mas, é tanto descaso que, mesmo neles, há trechos fechados ao trânsito. Perto do bairro Gebara, em Itaboraí, os motoristas trafegam por uma pista auxiliar cheia de crateras. O asfalto novo fica vazio, com passagem impedida por blocos de concreto. Sem carros, é por onde o eletricista Thiago Leon circula de bicicleta.

— Antes, eu pedalava pelo acostamento. Mas os caminhões quase passam por cima da gente — diz ele, que conta que a interrupção das obras agravou os engarrafamentos na via. — Sempre na hora do rush, são filas de caminhões. Apesar disso, o Dnit só vem aqui, limpa a grama às margens da rodovia, faz um serviço ou outro de tapa-buraco e vai embora.

UM TRAJETO ESQUECIDO
Arco Metropolitano tem três trechos entre
Itaboraí e Itaguaí
Duque de
Caxias
Nova
Iguaçu
Guapimirim
Japeri
MAGÉ
Itaboraí
Baía de
Guanabara
Seropédica
Manilha
Itaguaí
SÃO
GONÇALO
NITERÓI
MARICÁ
RIO DE
JANEIRO
Porto de
Itaguaí
Trecho inacabado
Trecho construído
• O trecho tem 25 quilômetros de Magé a Manilha
• Sete pontes e três viadutos inacabados
• Já foram gastos nas obras R$ 348 milhões
• O valor inicial da obra, em preços atualizados, é de R$ 509,5 milhões
Trecho privatizado

À noite, mais um medo surge no caminho. Com as pistas escuras, é facilitada a ação de bandidos. São essas ameaças que mudam a rotina de quem vive perto, como a estudante Caroline Marques, de 20 anos:

— Hoje nem saio de casa quando a tarde cai. Não há iluminação alguma na estrada. Multiplicaram-se os assaltos.

Primeiro contrato assinado em 2010

A novela da duplicação da BR-493 entre Magé e Manilha (Itaboraí) já dura quase uma década. O primeiro contrato foi assinado em 2010, mas acabou suspenso, por falta de material para as obras, questões ambientais e a descoberta de sambaquis no traçado. Foi necessária uma segunda licitação, e as intervenções já começaram atrasadas, em 2014, mesmo ano da inauguração de outro trecho do Arco Metropolitano: uma estrada construída entre a BR-040 e o Porto de Sepetiba, ligando Duque de Caxias e Itaguaí, hoje em estado de abandono.

No projeto de duplicação lançado pelo Dnit, o órgão ressaltava que a via, conhecida também como Estrada do Contorno, é uma das mais importantes do Rio. “Esta rodovia possibilita a conexão entre a BR-101, que passa pelos municípios do Norte do estado, e a BR-116, que se destina ao Sul do estado, atravessando os municípios da Baixada Fluminense e a capital”, afirmava o documento. Além disso, a via é um dos acessos ao Complexo Petroquímico de Itaboraí (Comperj).

Estruturas deixadas ao tempo perto de Magé: mais da metade do orçamento inicial da obra já foi gasto Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Estruturas deixadas ao tempo perto de Magé: mais da metade do orçamento inicial da obra já foi gasto Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

Em valores atuais, diz o Dnit, o contrato para as obras é de cerca de R$ 509,5 milhões. Segundo dados do Portal da Transparência da União, foram gastos R$ 348 milhões na adequação do trecho. O Dnit, porém, informa um montante menor, de R$290,4 milhões.

A despeito das más condições, o departamento afirma que executa obras de manutenção da rodovia, num contrato com a empresa Macadama. Entre os serviços realizados, estão tapa-buraco e sinalização preventiva.

Na outra parte da BR-493 que integra o Arco, são 72 quilômetros, que custaram aproximadamente R$ 2 bilhões, sob suspeita de superfaturamento nas investigações da Lava-Jato. Há cerca de oito meses o estado devolveu a administração do trecho para a União. Nele, é grave a situação da segurança, com roubos de carga e assaltos constantes. O GLOBO

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