Bandido vazou ação contra Gilmar porque não havia como acusá-lo. Bolsonarismo aplaude. PT criou e aplaudiu Partido da Polícia. Certo, Lula?
A Receita Federal anunciou abertura de procedimento para apurar a ação ilegal de que foi vítima o ministro Gilmar Mendes. Há pouco vi no Jornal Nacional um representante do Unafisco, entidade sindical ligado a fiscais da Receita, a dizer que a investigação de autoridades é normal e que ninguém está imune a ela. Isso não está e nunca esteve em questão. Aliás, no pedido em que cobra que se investigue o procedimento, o próprio ministro destaca que não há pessoas acima da lei.
Como não se fizeram estas perguntas ao representante da Unafisco, então faço:
– vazar a apuração é também normal?;
– ir além de apontar eventual atipicidade, apontando o cometimento de crimes, é também função de um fiscal?;
– passar a informação à imprensa antes de notificar o próprio investigado também é coisa corriqueira?;
– ser uma pessoa politicamente exposta sujeita a autoridade ou o homem público primeiro ao achincalhe para, só depois, oferecer as eventuais explicações?
É um escândalo que, aqui e ali, se esteja condescendendo e aquiescendo com tais procedimentos.
Quer dizer que Guiomar Mendes, que então estaria praticando fraude, sendo uma experiente advogada, cometeria o erro básico de prestar uma informação deliberadamente errada em sua declaração de Imposto de Renda, em desacordo com o documento, que também está submetido ao escrutínio da Receita, que registra seus honorários?
Querem saber o resumo da motivação qual é?
O criminoso, que vazou a informação, foi bem-sucedido. E com a nossa ajuda — “nossa”, deixo claro, da imprensa.
Ele conseguiu espalhar Brasil afora suas acusações contra Gilmar e Guiomar Mendes. Ainda que venham a dar em nada — o que é provável, dada a fraqueza da acusação —, o serviço sujo está feito, e a reputação do ministro e de sua mulher está sendo mastigada na boca de canalhas e idiotas.
O objetivo é demonstrar que ninguém está a salvo.
O objetivo é demonstrar que eles fazem o que lhes der na telha com a reputação dos homens públicos.
O objetivo é infundir o medo.
E só está a salvo quem detém o controle dos dados.
Sabem por que algum bandido vazou isso para a imprensa? Porque não conseguiu chegar a lugar nenhum. Ou vocês acham que isso teria acontecido se, com efeito, tivessem os investigadores (ou que nome tenham) chegado a algum crime cometido?
Pegar Gilmar Mendes é uma ambição antiga de quem odeia a Constituição. Isso une as ideologias.
Ao contrário? Só vazaram a safadeza porque sabiam que não havia como a coisa prosperar.
Como não iriam atingir o objetivo maior — tirar Gilmar Mendes do Supremo —, contentam-se com o menor: atacar a sua reputação.
Basta ver os comentários das redes.
Outros magistrados estão na linha de tiro. A cada vez que se condescende com uma ilegalidade disso que chamo “Partido da Polícia” — as bandas podres de MP, PF, Judiciário e Receita —, mais a vida pública vai se tornando refém de gente que opera nas sombras e sem regras. E tudo sob o pretexto de combater a corrupção. Só magistrados? Não! Qualquer um que, num dado momento, possa ser considerado em incômodo.
Infelizmente, também a imprensa séria é porosa a esse tipo de pilantragem porque, sentindo-se acuada pela patrulha, tenta demonstrar que não compactua com malfeitos e que não tem lado. Nem que seja à custa da reputação alheia. Ao, no entanto, colaborar com o trabalho sujo de vazadores, está… compactuando com malfeitos!
Bolsonaristas
O ataque a Gilmar Mendes nas redes não se resume às hostes bolsonaristas — mas é evidente que são elas as mais entusiasmadas. É uma burrice porque partem do princípio de que seus “mitos” nunca serão atingidos. É uma estupidez. Bolsonaro não é o dono desse Partido das Sombras. Ele é apenas seu usuário eventual. Vejam lá Sérgio Moro no Ministério da Justiça, querendo impedir a punição de “excessos”…
Se ficar em desacordo com a patota, Bolsonaro entra na mira. E aí não adianta acusar o “marxismo cultural”. Será vítima, como escreveu um pensador que ele não deve apreciar (Karl Marx, com a devida vênia, Flávio Bolsonaro), de “sua própria concepção de mundo”. Aliás, há alguns Catões de meia-tigela no Congresso e na própria imprensa — ou algo que se parece com ela, sem ser — que estão indo para a fila. Questão de tempo.
A Receita tem lá uma lista de 800 pessoas públicas que seriam especialmente investigadas. Uma pergunta: ela inclui apenas pessoas com cargos e mandatos ou também abriga militantes e grupos de militância que têm influência nos que exercem cargos ou mandatos?
Encerrando mesmo
Os usuários eventuais desses procedimentos se esquecem de que governos passam, de que partidos perdem poder, mas o sistema policialesco — que é diferente de uma polícia organizada, que obedece a regras —, bem, esse continua.
Eu não poderia concluir este texto sem lembrar que este super-MP que está aí é obra de governos do PT. Esta super-PF que está aí é obra de governos do PT. Esta super-Receita que está aí é, em grande parte, obra de governos do PT. Vejam onde está Lula e o que aconteceu com o partido.
Não estou a fazer avaliação moral nem de justeza da condenação e da pena de Lula, dos petistas e dos demais. Estou apenas evidenciando que ninguém pode cometer o erro de achar que pode ser usuário bem-sucedido das trevas. Não pode. Poder paralelo não se submete à hierarquia que vigora à luz do sol. REINALDO AZEVEDO