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Como prefeito, Crivella é um ótimo bispo

POR BERNARDO MELLO FRANCO

O prefeito Marcelo Crivella em entrevista

No fim de janeiro, o prefeito Marcelo Crivella foi à ciclovia Tim Maia para gravar um vídeo de propaganda. “Oi, pessoal!”, começou, sentado sobre um rolo compressor. Ele anunciou o fim das obras na pista, que já havia desabado duas vezes. “A ciclovia, depois que foi reforçada, não vai cair nunca mais”, prometeu.

A palavra do prefeito teve validade de 12 dias. Na quarta-feira, um novo trecho da ciclovia despencou sobre o mar. Desta vez, Crivella culpou a chuva e a queda de uma árvore. “É impressionante como essas tragédias inesperadas ocorrem”, afirmou.

Os dilúvios cariocas podem ser tudo, menos inesperados. “As chuvaradas de verão, quase todos os anos, causam no nosso Rio de Janeiro inundações desastrosas”, escreveu Lima Barreto, em 1915. O escritor bateu no prefeito da época, a quem acusou de só se preocupar com o embelezamento da cidade. O atual, nem isso.

Além de deixar o Rio com aspecto sujo e abandonado, Crivella cortou os investimentos na prevenção de enchentes. Os gastos caíram 77% na comparação com 2013, segundo o G1. Também houve redução nas verbas de saneamento, drenagem e proteção de encostas.

O temporal de quarta foi forte, mas poderia ter feito menos estrago se o município estivesse bem preparado. Ao todo, morreram seis pessoas. Três delas viviam na Rocinha e no Vidigal, favelas que voltaram a crescer desordenadamente e sobre áreas de risco.

O prefeito disse que o Rio viveu uma “situação inédita”, mas não explicou por que as sirenes não tocaram e a Niemeyer continuou aberta. Depois anunciou uma reunião com “o novo ministro das Cidades”, que não existe. O cargo foi extinto em 1º de janeiro e incorporado à pasta de Desenvolvimento Regional.

No fim da entrevista, Crivella encomendou as almas das vítimas. “Já que todos nós não soubemos guardá-los, que Deus os guarde no céu”, disse. Como prefeito, ele se revelou um ótimo bispo.

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