Planalto ainda não atingiu maioria pró-reformas. / JOSIAS DE SOUZA
O Palácio do Planalto ainda não dispõe dos votos necessários à aprovação das alterações constitucionais que Jair Bolsonaro vai propor. A presença de aliados no comando da Câmara e do Senado não basta para aprovar as reformas, concordam auxiliares e aliados do presidente. Para atrair o apoio de 308 deputados e 49 senadores —quórum mínimo necessário para reescrever trechos Constituição–, Bolsonaro terá de ajustar a coordenação política do seu governo. Como está, não funciona, reclamam até os apologistas do presidente no Legislativo.
As propostas transitarão primeiro pelos escaninhos da Câmara. Um companheiro de partido de Rodrigo Maia (DEM-RJ) disse ter ouvido dele o seguinte raciocínio: "Como presidente da Câmara, zelará para que os projetos caminhem e cheguem à pauta de votações num prazo razoável. Mas a tarefa de providenciar os votos cabe ao governo, não à presidência da Câmara." O mesmo entendimento se aplica ao Senado. Com um desafio extra: tratar das feridas abertas pela vitória de Davi Alcolumbre, sedando o rancor do rival Renan Calheiros (MDB-AL).
Intensificaram-se as críticas à atuação do ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil). Alega-se que, em vez de molhar a própria camisa, ele terceiriza a articulação política a ex-parlamentares. Dois deles parecem colecionar mais desafetos do que interlocutores: os ex-deputados Leonardo Quintão (MDB-MG) e Carlos Manato (PSL-ES). Sobram farpas até para Bolsonaro, que, além de manter os líderes partidários desligados da tomada, indicou um inexperiente deputado de primeiro mandato, Major Vitor Hugo (PSL-GO), para a estratégica função de líder do governo na Câmara.
Responsáveis pelos principais lotes de reformas, os ministros Paulo Guedes (Economia) e Sergio Moro (Justiça) montam estratégias próprias. Embora não cogitem prescindir da articulação palaciana, conversam amiúde com parlamentares. Suprema ironia: Guedes e parte de sua equipe lamentaram que Davi Alcolumbre, o preferido de Onyx, tenha prevalecido sobre Renan no Senado. Avaliam que a raposa do MDB, com quem o ministro da Economia estreitou relações, conhece melhor os caminhos que levam ao êxito no plenário.