Funai comprou mesa de R$ 20 mil e poltrona de R$ 3 mil na reta final da gestão Temer
Na fase final do governo de Michel Temer, a Funai (Fundação Nacional do Índio) autorizou a compra de móveis de escritório no valor total de R$ 685 mil.
O contrato, que faz parte de pente-fino realizado pelo Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, detalha a aquisição, por exemplo, de quatro mesas pelo custo de R$ 19,7 mil cada uma e quatro poltronas no valor de R$ 3.100 a unidade.
A compra para a sede da entidade, localizada em zona nobre da capital federal, foi assinada em novembro, a menos de dois meses do fim da gestão. O responsável pela aquisição foi exonerado no início deste ano, após a mudança de administração. Como a compra foi efetuada, não há como o novo governo cancelá-la. Ao todo, foram adquiridas 408 cadeiras, sendo as mais baratas por R$ 1.100, e 14 mesas, com o menor valor por R$ 10,3 mil.
O pente-fino localizou ainda prestações de contas antigas de estruturas da pasta, como da Secretaria Nacional de Infância e de Juventude, que não foram entregues. Uma delas, por exemplo, data de 2009.
“É um absurdo fechar esse tipo de contratação enquanto nas áreas de fronteira os funcionários da Funai passam por tantas dificuldades e indígenas não conseguem atendimento“, disse à Folha a ministra Damares Alves.
Desde o início do ano, a pasta tem feito uma revisão em todos os contratos em andamento na Funai. A ministra tem dito que um dos objetivos da nova diretoria da autarquia é acabar com a corrupção, “que, no final das contas, tira o dinheiro da política pública".
No início do ano, foi suspenso um contrato de R$ 44,9 milhões entre a entidade e a UFF (Universidade Federal Fluminense). Como mostrou a Folha, ele deixou de cumprir requisitos legais e foi contestado dentro do órgão indigenista.
Na tentativa de reduzir o aluguel da sede da autarquia federal, a nova direção da entidade decidiu também mudar o endereço do escritórioem Brasília.
Hoje, o custo mensal da estrutura, segundo a assessoria da pasta, é de cerca de R$ 1 milhão. A ideia é mudar para um imóvel mais simples na Asa Norte, cortando o valor pela metade.
A pasta avalia ainda fazer uma permuta com o proprietário do imóvel escolhido, oferecendo a ele outra estrutura da administração federal.
Procurado pela Folha, o ex-presidente da Funai Wallace Bastos disse que o contrato de compra do novo imobiliário foi uma adesão a uma licitação realizada pelo Exército.
“A ideia seria transferir os objetos usados e que ainda pudessem ser aproveitados para as coordenações regionais e técnicas de todo o Brasil, que têm, na maioria dos casos, mobiliários em péssimo estado", disse.
Sobre a atual sede, ele afirmou que o contrato de aluguel foi firmado na gestão do general Franklimberg de Freitas, que voltou agora ao posto por nomeação da ministra.
“Eu também achei o contrato caro e abri processo para a seleção de um outro imóvel mais barato. Quando saí, o edital estava pronto”, disse.