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Bolsonaro flerta com o desastre no Congresso

Faltam 40 dias para a posse de Jair Bolsonaro. Prestes a receber de Michel Temer a faixa, o novo presidente convive com um paradoxo: autorizou futuros ministros como Paulo Guedes (Economia) e Sergio Moro (Justiça) a preparar reformas estratégicas. Deseja implementá-las rapidamente.  Mas ainda não providenciou uma infantaria capaz de aprovar as propostas no Congresso.

 

Dizer que o gabinete de transição é politicamente desarticulado não traduziria adequadamente o cenário. Desarticulação pressupõe a existência de uma articulação defeituosa. E o que se observa, em verdade, é uma ausência de articulação. É como se Bolsonaro tivesse feito uma opção pelo desastre no Legislativo.

Em campanha, Bolsonaro dissera que formaria um ministério de técnicos. Recrutaria civis e militares. Sem recorrer ao toma-lá-dá-cá. Tostada, a banda fisiológica do Parlamento apresentou reações epidérmicas. Mas não perdeu a noção de que, no calor da composição de um novo governo, as queimaduras podem ser de primeiro, de segundo e de terceiro escalões.

Quando os partidos patrimonialistas já se conformavam com a perspectiva de suportar o sacrifício patriótico de submeter-se às queimadura$ de segundo escalão, Bolsonaro entregou três ministérios vistosos para o DEM, dono de uma bancada de apenas 22 deputados. Operou-se no subsolo de Brasília algo parecido com um curto-circuito.

A maioria dos potenciais aliados de Bolsonaro já havia absorvido a presença de Onyx Lorenzoni (DEM-RS) na Casa Civil, pois ele aderira ao projeto no alvorecer da campanha eleitoral. Mas a entrega da Agricultura para Tereza Cristina (DEM-MS) e da Saúde para Luiz Henrique Mandetta (DEM-RS) provocou um choque. Eletrocutou-se a paciência inclusive do PSL, partido de Bolsonaro.

Bolsonaro, Onyx e até o general Augusto Heleno, futuro chefe do Gabinete de Segurança Institucional, esforçaram-se para difundir a tese segundo a qual as pastas não foram entregues ao DEM, mas às frentes suprapartidárias da Agricultura e da Saúde, que indicaram ou apoiaram a escolha dos novos ministros. Não colou.

Arma-se em Brasília uma cena típica de filme de faroeste. Nela, Bolsonaro cavalga à frente dos carroções da transição como uma espécie de John Wayne liderando um grupo de colonos a caminho da clareira bravia do Planalto. Ao cruzar as planícies do Congresso, uma região que percorre há 28 anos, declara-se preocupado com os índios de tribos como as do PP, PTB, PRB, SD…

“Índios? Não se vê índio nenhum”, surpreende-se um dos colonos da transição. E Jair Wayne Bolsonaro: “O que me preocupa é justamente o silêncio. Nada mais preocupante do que essa sensação de que os índios não estão dando nenhum motivo para preocupação.” A ausência de barulho, por incomum, de fato é prenúncio de confusão.

Sentindo-se desprestigiados, os caciques partidários equipam-se em silêncio para demonstrar a Bolsonaro que frentes parlamentares temáticas podem não substituir as legendas e suas estruturas nas barricadas do plenário. Acham que, caindo-lhes a ficha, o novo presidente e seus desarticuladores talvez percebam que os “índios” estão quietos demais porque ninguém se lembrou de pedir a opinião deles.

Resta a Bolsonaro um consolo. A única novidade na oposição é o lançamento de uma nova campanha do PT na internet. Numa tentativa de reforçar a cruzada ‘Lula Livre’, o petismo estimula a formação de correntes nas redes sociais para o envio de cartões de Natal para a divindade-presa de Curitiba. JOSIAS DE SOUZA

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