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As ondas Ciro e Haddad

Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo

11 Setembro 2018 | 05h00

 

A não ser que o PT adote definitivamente uma postura suicida, as atenções e os holofotes vão se deslocar a partir desta terça-feira, 11, do ex-presidente Lula, que representa o passado, para o candidato Fernando Haddad, que acena com o futuro. Não se trata apenas da lei da política, mas da própria lei da vida. E, convenhamos, o fato de Lula estar preso potencializa esse movimento natural.

Hoje é o dia fatal para o PT trocar a chapa, sob o risco de se autoexcluir da propaganda eleitoral e da própria campanha. É pegar ou largar. Derrotadas as derradeiras investidas do PT na Justiça (que, aliás, ninguém aguenta mais...), Lula começa a se isolar em Curitiba, enquanto Haddad vai subindo nos palanques, entrando em debates, participando de sabatinas. Enfim, candidato, não mais arremedo de candidato para cumprir os caprichos do chefe e padrinho.

Com Haddad assumindo a cabeça de chapa do PT e o resultado das novas pesquisas relativizando o impacto da facada em Jair Bolsonaro (PSL) nas intenções de voto – pelo menos até esta segunda-feira –, a eleição está, finalmente, tomando seu formato definitivo. Já não era sem tempo. A urna está bem aí.

As pesquisas ganham em grau de realidade e de densidade com a exclusão de um Lula inelegível, a inclusão de um Haddad com bom potencial de crescimento e detectando o real tamanho da comoção, da irritação e do pânico diante do ataque ao primeiro colocado, o fenômeno de 2018.

O voto é irracional e racional. Bolsonaro é uma vítima e a facada foi uma ação violenta, criminosa, mas, racionalmente, não se vota num candidato a presidente da República porque ele sofreu um atentado, mas, sim, pelo que ele foi e pelo que é, representa, promete e tem reais condições de cumprir.

O Datafolha nacional desta segunda-feira, 10, mostra que Bolsonaro agregou dois pontos e passou para 24%, mas continua campeão de rejeição e perdendo para todos os demais no segundo turno. Ele deu um pulo, sim, pelo Ibope no Rio: de 25% para 33%. Mas, pelo Ibope em São Paulo, apenas oscilou um ponto, de 22% para 23%. Até aqui, tudo como antes no Quartel de Abrantes.

O outro resultado relevante das pesquisas desta segunda é que Fernando Haddad continua crescendo, devagar e sempre, e já tem lugar assegurado no segundo pelotão. Com a facada, Bolsonaro subiu dois pontos. Com a força de Lula, Haddad disparou cinco. Imaginem quando deixar de ser o “Andrade” no Nordeste.

Marina Silva (Rede) já tinha parado de crescer no Datafolha pré-facada, estagnada e empatada com Ciro Gomes (PDT) no segundo lugar, com 12%. No Datafolha pós-facada, ela levou um tombo de cinco pontos, de 16% para 11%. E Ciro passa a ser a bola da vez, ou a onda do momento. Cresceu três pontos, passou Marina e está com 13%.

Geraldo Alckmin (PSDB) chegou finalmente a dois dígitos, mas com uma oscilação de apenas um ponto. Saiu de 9% para 10% no Datafolha nacional e a melhor notícia para ele é que cresceu três pontos em São Paulo pelo Ibope e reduziu sua diferença para Bolsonaro, ainda primeiro no Estado, de sete para cinco pontos. Bolsonaro tem 23%, Alckmin, ex-governador quatro vezes, subiu de 15% para 18%.

Assim, Bolsonaro continua líder isolado no primeiro turno, mas com grandes dificuldades (ou grande rejeição) no segundo. O pelotão seguinte está embolado e tudo pode acontecer, com Ciro, Alckmin e Haddad disputando ponto a ponto, enquanto Marina perde fôlego.

Mas, hoje, a disputa pelo segundo turno não é entre candidatos, mas entre circunstâncias: Bolsonaro está consolidado e tem o efeito facada; Haddad conta com a transferência de votos de Lula e sua decantada capacidade para eleger postes. Agora, é a corrida contra o tempo.

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