Análise: Esquema de compra de elogio na internet cria 'cabo eleitoral virtual'
BRASÍLIA — A notícia de montagem de um esquema ilegal para compra de elogios a candidatos do PT na internet parece ter colocado a campanha de 2018, literalmente, na era digital. A nova modalidade transfere para as redes o papel que era atribuído ao cabo eleitoral remunerado. Se antes o prestador de serviço da campanha saía pela rua com santinhos na mão, agora são influenciadores ou militantes que defendem os postulantes a cargos eletivos pelo partido.
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Há, porém, uma grande diferença entre o mundo analógico do corpo-a-corpo de correligionários nas ruas e a campanha nas redes. Cabo eleitoral que sai na rua para trabalhar por um candidato tem que ter seu nome e salário declarado à justiça eleitoral. Se recebe pelo serviço, este tem que estar registrado oficialmente.
Já influenciador digital e militante pagos para falar na internet não podem ter seu serviço informado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). E por um motivo simples: a propaganda paga na internet é proibida.
Como explicam os repórteres Bruno Góes e Mateus Coutinho, o sistema de elogio pago a candidatos petistas agiu de duas maneiras. Uma, pela contratação do tal influenciador, suposto famoso na internet, para espalhar a seus seguidores boas palavras sobre petistas. Outra, arregimenta simpatizantes para fazer o mesmo serviço, só que recebendo menos, num trabalho de formiguinha. Nos dois casos, quem participa da tarefa já é simpático à causa e nem passa por dilemas ideológicos. Mas ambos estão na situação de publicar conteúdo mediante pagamento, o que é ilegal.
A nova figura do cabo eleitoral virtual seria, então, uma criação que já nasceu com a marca de delito de campanha. Ao que se sabe até agora, a irregularidade só não terá força para impedir candidaturas. A pena prevista para esse tipo de conduta é multa máxima de R$ 30 mil.
Em tempo: continua livre a manifestação de opinião. Qualquer cidadão pode defender suas bandeiras. Também pode enaltecer seus candidatos nas redes, desde que não receba por isso.