Esquema de propaganda ilegal da internet oferecia R$ 1.500 mensais por elogios a petistas
BRASÍLIA — Influenciadores digitais que replicaram conteúdos elogiosos a candidatos do PT nas redes sociais receberam oferta de pelo menos R$ 1.500 por mês para participar de ações na internet, segundo e-mail original de uma proposta obtido pelo GLOBO. No documento, Isabella Bomtempo, dona de um e-mail com o domínio da aceleradora VBuilders, diz que trabalha para uma agência e gostaria de promover "ações de militância política para a esquerda". Segundo fonte ouvida pelo GLOBO, Isabella trabalha para a agência Follow, de propriedade do deputado federal e candidato do PT ao Senado por Minas Gerais, Miguel Corrêa.
Oficialmente, quem admitiu ter prestado serviços ao PT para "monitorar redes sociais" e "indicar influencers" foram, respectivamente, as agências BeConnect e Lajoy. Ambas as empresas negam ter pagado para pessoas conhecidas postarem conteúdo elogiosos a candidatos do PT.
No e-mail enviado por Isabella, há alguns exemplos de pautas que seriam exploradas para os contratados postarem conteúdos na internet: "Fale sobre como o governo golpista atual está tirando verbas da educação e congelando os investimentos por 20 anos; Fale sobre a candidatura do Lula de maneira descontraída; Fale sobre como as mulheres são pouco representadas na política; Fale como a direita não apoia e não sustenta abertamente os LGBT's e por aí vai..."
Na mesma proposta, ela oferece um valor ao influenciador:
"Temos de verba R$ 1.500,00 por mês para a entrega de 1 conteúdo por dia publicado na sua rede social mais relevante, pode ser 1 tweet, 1 story, você escolhe...".
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O GLOBO não conseguiu contato com Isabella Bomtempo. Desde que o caso foi denunciado por uma das participantes do grupo, que se recusou a fazer propaganda para o governador do Piauí, Wellington Dias, o PT não se pronunciou.
Rodrigo Cardoso, dono da BeConnect, disse que sua empresa foi contratada pelo PT. Ele tem uma ligação direta com o deputado Miguel Corrêa, dono da Follow. Rodrigo foi nomeado como secretário no gabinete do parlamentar no dia 4 de julho deste ano. Ele também namora uma sobrinha do parlamentar, que é sócia da Follow.
A Follow, segundo o próprio Miguel Corrêa, desenvolveu o aplicativo "Brasil Feliz de Novo"— batizado com o nome da coligação do PT na campanha nacional —, no qual usuários que se dispõem a militar têm acesso a uma série de notícias positivas ao partido disponíveis para compartilhamento. No aplicativo, há ainda um ranking dos usuários mais ativos.
Desde o domingo, O GLOBO tenta contato telefônico Joyce Falete, dono da Lajoy, que se diz responsável por "indicar influenciadores". Não houve resposta, mas uma nota nota enviada pelo deputado Miguel Corrêa, assinada por Joyce, diz que a Lajoy não realizou pagamento a qualquer influenciador.
O GLOBO entrou em contato com Luís Veloso, que participou da iniciativa da aceleradora VBuilders, cujo domínio consta no e-mail de Isabella Bomtempo. Segundo ele, a empresa fica no mesmo andar de um prédio, em Belo Horizonte, onde a Follow é estabelecida.
Luís Veloso também trabalhou com Miguel Corrêa. Ele disse ao GLOBO que se juntou à empreitada por ter experiência no Vale do Silício, mas abandonou o projeto ainda no início.
— Criei uma aceleradora para desenvolver uma análise de influenciadores. Acabei não entrando no negócio — diz.