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Traições agravam a anemia eleitoral de Alckmin

Já debilitada pela pulverização eleitoral, a candidatura de Geraldo Alckmin enfrenta uma das moléstias mais antigas e insidiosas da política: a traição. A fuga de supostos aliados agrava o quadro de anemia que mantém Alckmin na exasperante zona de um dígito no termômetro das pesquisas.

Oportunista, a traição instala-se de mansinho. Quando a vítima cai em si, há feridas abertas em toda parte. Num único dia, quinta-feira (23), Alckmin sentiu a ponta do punhal espetar-lhe as costas um par de vezes.

Na cidade paulista de Glicério, o prefeito tucano Ildo de Souza, o Ildo Gaúcho, subiu no palanque de Jair Bolsonaro, um filho da terra. Eleito em 2016 com o apoio de Alckmin, o alcaide agora espinafra o ex-aliado.

Ildo Gaúcho ataca Alckmin por ter encostado sua candidatura nos partidos tóxicos do centrão. O jornal Valor registrou sua fala: “Cada um faz suas escolhas e coligações, mas depois colhe os votos do que plantou”, disse, em meio a elogios a Bolsonaro.

Enquanto o capitão marchava sobre o interior de São Paulo, Alckmin aventurava-se em Pernambuco, berço de Lula. Ali, o representante do centrão na disputa pelo governo estadual é o senador Armando Monteiro, do PTB. Convidado a escalar o palanque de Alckmin na cidade pernambucana de Petrolina, ele disse “não”.

Monteiro fez pior. Depois de enfiar a faca, virou a ponta. Nesta quinta-feira, Monteiro mandou a assessoria informar que vota em Lula. Nem precisava gastar o latim, pois o noticiário já havia registrado, na semana passada, sua visita ao presidiário petista, na cela especial de Curitiba.

O Datafolha ajuda a explicar as deserções. Em São Paulo, Bolsonaro (21%) está numericamente à frente de Alckmin (18%). Em Pernambuco, a supremacia de Lula (59%) sobre Alckmin (3%) é asfixiante.

Na eleição de 2014, Alckmin elegeu-se governador de São Paulo no primeiro turno. Venceu a eleição em 644 dos 645 municípios do Estado. Nesta quarta-feira, o prefeito da pequena Glicério, com 4.800 habitantes, disse que havia na procissão que carregou o andar de Bolsonaro dez judas de Alckmin —prefeitos do PSDB, DEM, PTB e PV. Indo Gaúcho absteve-se de mencionar os nomes.

No Nordeste, região onde o eleitorado trata Lula como um beato, as traições são alardeadas no megafone. O senador piauiense Ciro Nogueira, presidente do PP, declarou-se eleitor de Lula já na saída do ato em que o centrão formalizou o apoio a Alckmin.

Na semana passada, Nogueira confraternizou-se em Teresina (PI) com o petista Fernando Haddad, que aguarda pela oportunidade de assumir formalmente sua condição de poste de Lula.

Os aliados mais otimistas de Alckmin estão com medo do resultado das urnas. Os pessimistas estão em pânico. O candidato diz a todos que a coisa vai mudar a partir de 1º de setembro, quando começa a ser exibida a propaganda eleitoral no rádio e na TV. Será?, indagam-se os tucanos.

É imporvável que Alckmin não cresça nas pesquisas, pois ele ocupará a maior vitrine do horário eleitoral. A questão é saber se o candidato ficará de um tamanho que seja compatível com o gigantismo do desafio que atravessou o seu caminho na campanha de 2018.

Por ora, a única coisa que prolifera ao redor de Alckmin é a moléstia da traição —um fenômeno que nem todos consideram ruim. Do ponto de vista de quem recebe um novo apoio, o traidor não passa de um covertido. JOSIAS DE SOUZA

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