A hora da esperança
O Estado de S.Paulo
17 Junho 2018 | 03h00
As eleições de outubro são decisivas para o País e o cenário político é de muita incerteza. Faltam propostas e abundam demagogias e radicalismos. Diante disso, não é de estranhar que muita gente esteja apreensiva com o que poderá vir das urnas. A incógnita envolve até mesmo questões básicas, sobre as quais não deveria haver nenhuma dúvida, como, por exemplo, o compromisso com a responsabilidade fiscal. Junto ao clima de incerteza, nota-se também outro tipo de atitude, que pode ser muito prejudicial ao País: a desesperança. Já não se trata da clássica e natural dúvida em relação ao resultado das eleições. Tem-se um estado de espírito coletivo do qual sobressai a certeza de que, sejam quais forem as escolhas do eleitorado, tudo continuará exatamente como está. Ou ainda pior.
Uma atitude assim é extremamente perigosa para o País, pois na prática tende a eliminar a responsabilidade pessoal do cidadão pelo seu próprio futuro. Se tanto faz ganhar fulano ou beltrano, não faz sentido esforçar-se para conhecer os candidatos e suas propostas. Se, a despeito de quem for eleito, tudo continuará rigorosamente igual ou pior, não há motivo para uma participação política mais ativa. A desesperança conduz à passividade e à indiferença, atitudes que são fatais para a democracia, que é um regime de participação e compromisso.
O pessimismo, especificamente com a política, cresceu nos últimos anos. Além da profunda crise moral, social e econômica – o que sempre põe à prova a confiança do cidadão nas instituições e nos homens públicos –, houve uma incessante campanha de desmoralização da política e dos políticos, alimentada por abundantes casos de corrupção. Depois de certo momento, deixou de ser necessário avaliar a veracidade e as provas de cada um dos escândalos, pois havia sido decretada, em caráter irrevogável, a absoluta podridão do sistema político.
Se a política está completamente podre, para muitos o voto se torna irrelevante para a solução dos problemas nacionais, a ponto de um palhaço profissional eleger-se deputado federal, com recorde de votos, utilizando o mote: “Pior do que está não fica”.
Esse estado de espírito é pernicioso e precisa ser combatido. É falsa a ideia de que o voto será irrelevante para o futuro do País. Na verdade, se esse instrumento de afirmação da vontade popular, de soberania, não for usado com responsabilidade, as coisas pioram inexoravelmente. E, se o voto mal pensado e mal dado pode piorar a situação do País, eis a prova definitiva de que ele não é irrelevante. Está, pois, nas mãos do eleitor definir se o seu voto irá contribuir para a resolução dos problemas nacionais ou se afundará o País nas suas mazelas.
As eleições de outubro são uma grande oportunidade para o País. Não há dúvida da importância de eleger um presidente da República minimamente responsável e atento ao interesse público, que não seja refém do populismo e da demagogia. É igualmente decisivo para o País obter uma composição do Legislativo – Senado, Câmara e Assembleias estaduais – comprometida com a continuidade das reformas e com a estabilidade fiscal. Será no Congresso que as principais batalhas cívicas serão travadas.
Alguns, repetimos, veem com desalento a realidade política nacional. Se o jogo será definido no Congresso, estamos perdidos, pensam. Consolida-se a crença de que uma legislatura é sempre de pior qualidade que a anterior. Eis mais uma razão para, nas eleições de outubro, interromper esse ciclo. Melhorar a composição do Legislativo não é uma tarefa impossível – nem mesmo complicada. Basta verificar a escolha do candidato a ser sufragado. Na verdade, florescem, em todo o Brasil, diversos movimentos de renovação política comprometidos com a defesa das liberdades públicas. Vários deles têm franca conotação liberal-conservadora, que abrem ao eleitorado novas e promissoras perspectivas, muito diferentes das oferecidas pelo populismo demagógico.
Os brasileiros precisam restaurar a esperança em seu futuro. Vencer o pessimismo e a passividade, eis o desafio.