“A população rechaçou o discurso do golpe” - ISTOÉ
Para o presidente do PSDB, senador Aécio Neves, a derrota do PT, “dizimado” em regiões importantes do País, demonstrou que o partido não possui mais um discurso construtivo que encante o eleitor. Em sua avaliação, a população rejeitou as teses petistas. Para o tucano, o triunfo nas urnas na eleição municipal fortelece o PSDB para 2018 e sugere que a sigla pode vir a se aliar daqui a dois anos a outros vencedores da eleição, como o prefeito reeleito de Salvador, ACM Neto (DEM).
De acordo com Aécio, o PSDB deve lançar candidato a presidente em 2018 com a consulta de prévia à base tucana, mas entende que ainda é cedo para tratar do tema. Ele não acredita em divisões internas. “O nosso adversário é outro: o PT, o desemprego e a carestia”.
O PSDB foi um dos partidos que mais cresceu nesta eleição. A que o senhor atribui esse crescimento?
À coerência do discurso do partido que vem desde 2014, quando denunciávamos equívocos na condução da economia, a corrupção generalizada pelo governo (de Dilma Rousseff), passando pela defesa do impeachment da presidente da República e, depois, pelo apoio a uma agenda de reformas conduzida pelo governo Temer. Os dois fatores mais relevantes são a vitória do PSDB, mas também a inédita derrocada do PT.
O PT, que em 2012 chegou a ter 635 prefeituras, despencou neste pleito e alcançou apenas 256 municípios — dos quais, até agora, apenas uma capital. Como o senhor avalia essa performance?
O PT foi dizimado em várias regiões do país. A derrota não foi apenas do partido. Foi do discurso da vitimização do partido, do golpe, da perseguição. Acho que a população brasileira rechaçou de forma definitiva o discurso do PT. O partido precisa encontrar um novo discurso que seja construtivo.
Os candidatos que cederam palanque para ex-presidente Lula não foram bem. O senhor acredita que a imagem de Lula esteja desgastada pelas recentes denúncias?
Com certeza. O PT frustrou milhões de brasileiros. O dano que o PT fez ao Brasil, na economia, nas conquistas sociais e no comportamento ético, a história registrará como imensurável.O Brasil nas urnas disse ‘chega!’.
O senhor acha que o êxito do PSDB nas eleições municipais se refletirá em 2018, na disputa presidencial e pelos cargos de governadores, senadores e deputados federais?
Sou muito cauteloso nessas análises, porque a história mostra que não há uma vinculação automática de vitória numa eleição municipal com resultado na eleição nacional. O fato concreto é que o PSDB foi o partido que mais se fortaleceu nessas eleições. Ampliamos o número de prefeitos, de população a ser governada pelo PSDB em todas as regiões do país, em especial no Norte e no Nordeste. A capilaridade da vitória do PSDB é uma sinalização muito forte para o futuro. Se soma ainda a vitória do PSDB à de aliados que, muito provavelmente, estarão juntos em 2018, como o prefeito ACM Neto eleito em Salvador.
A vitória de João Doria no primeiro turno em São Paulo foi vista como o fortalecimento do governador Geraldo Alckmin, que já sinalizou a intenção de enfrentar o senhor quando o PSDB for escolher um nome para disputar a presidência em 2018. Como lidar com essa competição?
Essa é uma virtude do PSDB, já que poucos partidos têm mais de um nome em condições de conduzir uma campanha eleitoral. Geraldo Alckmin é um desses nomes. Mas essa decisão se dará no momento certo, em consulta às bases. O PSDB pode ter divergências internas – é natural –, mas, no momento da disputa, nós sabemos que nosso adversário é outro: o PT, o desemprego, a carestia. Vamos estar unidos na hora certa.
O senhor já está em campanha para sair novamente como candidato tucano à Presidência?
Longe disso. Seria uma irresponsabilidade nós anteciparmos o calendário eleitoral. Estamos ainda em campanha, pois o PSDB disputa eleições 19 cidades do País. Candidaturas serão discutidas apenas em 2018.
Em 2014, seus principais adversários foram Marina Silva e o PT de Dilma e Lula. Quem e que partidos o senhor imagina que liderarão a próxima disputa?
É muito difícil você ter esse quadro muito claro. É claro que o PT, de alguma forma, estará disputando as eleições. Não sei em que condições chegará lá. Mas sempre com discurso oportunista, sem responsabilidade para com o Brasil. Espero eu em condições de maior fragilidade. O que tenho defendido é uma aproximação maior com setores do PMDB, em especial liderados pelo presidente Michel Temer. Uma aliança mais sólida nossa possibilitará uma rapidez maior no avanço da aprovação das reformas. Sem excluir nenhum parceiro que se disponha a apoiar essa agenda.
Como o senhor acredita que Michel Temer se comportará nesta disputa? O PSDB conta com o apoio do PMDB em 2018?
O presidente será tão mais êxitoso quanto menos se preocupar com as curvas de popularidade e mais com o julgamento da história. Hoje, eu diria que há uma possibilidade maior de que havia no passado de o PSDB se encontrar com o PMDB. Natural que o PMDB tenha toda a legitimidade de ter o seu projeto. Nosso apoio a essa agenda de reformas conduzidas pelo presidente não está condicionado a uma reciprocidade eleitoral.
O senhor acha que o governo tem se esforçado o suficiente para aprovar as medidas de ajuste fiscal?
Eu vejo um esforço grande no governo. É um início meio titubeante, mas vejo nele (Temer) e nos setores do PMDB uma compreensão grande da necessidade de construir essa agenda de reforma e reequilíbrio das contas públicas.
Caso não sejam aprovadas medidas como a PEC do Limite dos Gastos e a reforma da Previdência, as quais o PSDB tem cobrado intensamente, haverá uma mudança na relação entre o PSDB e o Planalto?
Enquanto o PSDB perceber que há esse esforço, essa disposição, por maior que seja a dificuldade, o PSDB estará ao lado do presidente Temer porque desta forma ele estará ajudando o Brasil. O governo Temer é um governo de transição. Por isso, nós o apoiamos. Ao percebermos em determinado momento que não existe mais disposição, teremos de rediscutir essa questão.
Fotos: Dida Sampaio/Estadão