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Em eleição, também não se faz omelete sem quebrar os ovos

No primeiro turno, dia 2 de outubro de 2016, a abstenção em Fortaleza foi de 288.362 (17,04%) eleitores, enquanto que 82.342 votaram nulo e 35.443, em branco. A soma dos votos não considerados válidos e das abstenções é de 406.147, o que representa 24% do total do eleitorado da capital cearense, de 1.692.657, conforme os dados do Tribunal Superior Eleitoral. Para se ter uma ideia da dimensão, isso supera o números de votos do segundo colocado na disputa pelo pleito da prefeitura.

O dados são esmagadores e não representaram a realidade somente da capital cearense. Aconteceu em todas as cidades do Brasil. Em São Paulo, a conta ultrapassou até mesmo o 1º colocado. Uma enorme e ininterrupta série de escândalos fomentaram o descrédito generalizado na já combalida classe política e nas suas instituições, numa crise substancialmente aumentada pelas lentes da imprensa, potencializando tal resultado. Opiniões do tipo “não acredito em políticos” ou “não adianta votar porque nada muda” ou “não quero me comprometer com tanta safadeza” foram facilmente ouvidas nestes últimos dias.

Há várias considerações a fazer sobre esta conjuntura. A primeira coisa é deixar claro que o voto nulo, branco ou a não participação podem, perfeitamente, ser enquadrados como uma forma de protesto. São manifestações políticas que têm validade e devem ser respeitadas. Alguns, por exemplo, são contrários à obrigatoriedade do voto. Outros argumentam que “não se sentem representados” por nenhum dos candidatos. Porém, é preciso ressaltar que, por maior que seja a proporção deste tipo de protesto, ela não anula eleição. Isso porque tanto os nulos quanto os brancos não são levados em conta na apuração que dá o resultado final.

Dito de outra forma, significa dizer que o protesto de quem não quer deixar registrada sua opinião através de um voto válido, não será considerada pela Justiça Eleitoral. Há uma frase antiga que ensina que “na política não existe vácuo”. Sendo mais direto, significa dizer que, caso você não valide seu participação no pleito, os demais tomarão a decisão por você. Na prática, você abre mão de exercer sua cidadania, deixando que outros comandem os destinos de sua cidade, estado ou país.

Considero tal premissa extremamente grave. Por causa de questões simples. A democracia envolve esforço e paciência. É bem difícil, num emaranhado de ideologias, interesses ou meras preferências pessoais, encontrar um candidato que nos represente. Na maioria dos casos, é necessário maturidade para escolher quem tenha alguma proximidade. Por outro lado, é possível que alguém distante de nossas convicções seja o melhor administrador naquele momento para nosso espaço. É necessário pensar no coletivo – e esquecer um pouco o individual – para reconhecer isso.

Votar no melhor não significa necessariamente votar em quem lhe representa. Mas representa o melhor para todos ou para a maioria. Caso você avalie não tem alternativas ideais, o jeito pode ser optar pelo “menos pior”. E isso também é uma decisão complicada. Mas que pode ser encarada como uma etapa gradual de mudança. Votar também exige assimilar lições em direção a uma aprendizado de cidadania.

A sabedoria popular ensina que “não se faz omeletes sem quebrar ovos”. Na democracia, o processo de aperfeiçoamento exige decisões. E elas podem determinar mudanças de opinião, revisão de conceitos, autocrítica para passos errados e até assimilação de contrariedades e erros. Assim como na vida, é um doloroso processo de crescimento. Mas absolutamente necessário.

*Demétrio Andrade
Jornalista e sociólogo. / OPOVO

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