PT sofre para manter poder em São Bernardo do Campo, berço de Lula
Museu do Trabalhador. Obra inciada em 2012 ainda não foi concluída: opositores ao PT querem mudar o projeto para não enaltecer o ex-presidente Lula - Pedro Kirilos
SÃO BERNARDO DO CAMPO — Depois de oito anos no poder, o PT sofre para manter o comando de São Bernardo do Campo, berço político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do partido. Com poucos recursos e um estreante em eleições, a legenda aposta numa arrancada na reta final da disputa para ir ao segundo turno, enquanto os dois principais adversários, veteranos em pleitos na cidade, duelam pelo título de “maior antipetista”.
Com Lula desgastado pelas investigações da Lava-Jato, restou ao escolhido do PT, Tarcisio Secoli, apoiar a candidatura muito mais na gestão do atual prefeito, Luiz Marinho, do que na imagem do líder petista. Até agora, o ex-presidente não participou de nenhuma atividade da campanha e também não tem evento previsto na cidade até o próximo domingo, dia da eleição, apesar da amizade com o candidato — nos tempos de Lula no Planalto, Tarcisio era frequentador assíduo dos churrascos na Granja do Torto.
A mudança de rumo que os dois principais adversários de Tarcisio — Alex Manente (PPS) e Orlando Morando (PSDB) — planejam para a cidade pode ser simbolizada na intenção de acabar com o Museu do Trabalhador. A obra, com orçamento de mais de R$ 21 milhões, se arrasta desde 2012 e já teve o prazo original de conclusão estourado. Conhecido em São Bernardo como “Museu do Lula”, a ideia dos opositores ao PT é evitar um monumento que enalteça o ex-presidente. O projeto prevê a criação de um espaço para homenagear o movimento sindical e, como consequência, Lula.
Alex quer instalar o acervo da Pinacoteca do município no andar superior do prédio e um restaurante de comida popular no térreo. Orlando planeja levar para o local uma Fábrica de Cultura, projeto do governo estadual do tucano Geraldo Alckmin.
— O PT tentou trabalhar a ideia de personalizar o museu numa pessoa, um ícone. Eu já era contra. Agora, com tudo que está acontecendo, é muito difícil que a população aceite — critica Alex.
Orlando não deixa por menos:
— Enterraram R$ 20 milhões numa obra que a população rejeita. Na minha avaliação, foi pura vaidade para homenagear ex-presidente.
Tarcisio diz que os seus adversários falam “bobagem” ao vincular o local a Lula. Alega que o museu vai, na verdade, contar a história da cidade por meio dos trabalhadores e que a obra ficará pronta em dezembro, ainda na gestão Marinho:
— Eles não entendem a importância de um museu. O papel do museu será mostrar como a cidade foi constituída, desde a época agrícola até o período das montadoras.
Nos tempos de popularidade alta, manter o poder em São Bernardo era considerado um ponto de honra para Lula. Desde que o partido assumiu a prefeitura, em 2009, o município recebeu amplos recursos do governo federal. Foram, por exemplo, R$ 82 milhões para a construção de um hospital e outros R$ 18 milhões para o Museu do Trabalhador. As obras ajudaram Marinho a se reeleger em 2012 com 65,8% dos votos válidos.
Em 2014, porém, a cidade deu vitória a Aécio Neves (PSDB) na disputa com Dilma Rousseff (PT) no segundo turno da eleição presidencial. Os adversários se fiam aos números dessa última disputa para propagar o desgaste do PT na cidade.
Na última quinta-feira, após campanha num bairro de baixa renda, Tarcisio — fundador do PT na cidade e, como Lula e Marinho, ex-dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos — foi abordado pelo funcionário de supermercado Silas Everton, de 26 anos:
— Você é do PT? — questionou o rapaz.
O petista emendou:
— Do PT e de mais 11 partidos, uma grande coalizão.
Então, Tarcisio iniciou um conversa para saber se a legenda era um empecilho para o eleitor. Silas disse votaria novamente no PT, como fez em outras oportunidades, “mesmo com todas as acusações”.
Tarcisio minimiza o impacto que os problemas da legenda podem provocar na campanha:
— As pessoas não estão discutindo o problema de Brasília, e eu não estou discutindo filiação partidária. Não estou convidando ninguém para vir para o PT. Estou discutindo as propostas para São Bernardo — disse o candidato, que foi o principal secretário de Marinho ao longo dos oito anos de gestão.
Além de ser desconhecido e de enfrentar o desgaste do PT, Tarcisio tem enfrentado problema de arrecadação. O petista conseguiu até agora R$ 549,5 mil, dos quais R$ 60 mil saíram de seu próprio bolso. Orlando arrecadou R$ 1,2 milhão e Alex, R$ 705 mil.
Os adversários tentam ficar o mais longe possível do PT. Alex chegou a publicar nas redes sociais, semana passada, um vídeo para negar que tenha aliança informal com os petistas.
— Meu concorrente do PSDB diz que eu tenho apoio do PT. Ele tenta criar boatos para ser o único opositor do PT — diz o candidato do PPS, que descarta o apoio dos petistas num eventual segundo turno.
O tucano Orlando lembra que, em 2008, Alex apoiou Marinho no segundo turno:
— O que a gente sente na rua é uma campanha de cortesia entre ele (Alex) e o PT. O que todo mundo sabe é que eu sempre fui adversário do PT, desde que comecei como vereador.
Viu alguma irregularidade na campanha? Fotografou? Fez um vídeo? Mande para o WhatsApp Eleições 2016 do GLOBO: (21) 99999-9114