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‘A Universal não vai participar do meu governo’, diz Marcelo Crivella

RIO — Primeiro colocado na disputa, o bispo licenciado da Igreja Universal Marcelo Crivella sustenta que a associação entre sua candidatura e religião fez sua rejeição ser estratosférica em campanhas anteriores. Adepto do criacionismo, ele diz que é a favor do ensino religioso não obrigatório. E que “não faz sentido” Garotinho participar de seu governo.

O senhor tem usado em seu programa eleitoral a defesa da ficha limpa. Não é incoerente com o fato de que mais da metade do seu tempo de TV é oriunda de uma aliança com o PR, comandado no estado pelo ex-governador Garotinho?

Não há como você vencer sem alianças. O que ocorreu foi que nós oferecemos a vaga de vice. Ele (Fernando Mac Dowell) era alguém que ia complementar a minha chapa. Um técnico. Essa aliança é boa para o Rio. É uma contingência inevitável do processo eleitoral. No meu governo só vão participar quadros técnicos. E todos que tenham, claro, ficha limpa. Não quero fazer nenhum tipo de pré-julgamento do governador Garotinho, que tem prestado serviços também relevantes. Existem controvérsias, existem processos. muitos deles caíram.



Garotinho é ficha-limpa?

Não estou dizendo isso.

Ele teria espaço no seu governo

Nunca me pediu. Nem eu ofereci. Eu acho que não cabe. Não cabe. O governo precisa ter quadros novos. Eu gosto da Clarissa Garotinho. Está cumprindo um excelente mandato na Câmara dos Deputados. É uma mulher vibrante.

Se o PR dá o tempo de televisão, não seria natural que o Garotinho, na condição de presidente do partido, pedisse espaço no governo?

Não terá. A contrapartida foi o vice. O Garotinho não vai participar do meu governo. Acreditem. Não faz sentido.

O senhor tem um índice de rejeição mais alto entre os instruídos...

A rejeição, o preconceito, na maioria das vezes é falta de conhecimento. E também competência do candidato de saber se aproximar desses segmentos. Não é fácil.

O senhor promete reduzir o número de secretarias da prefeitura de 29 para 15. A cidade hoje tem 1.477 funcionários com indicação política. O senhor vai cortar quantos?

O que quero mostrar no meu plano de governo é a nossa intenção de ajuste fiscal. Nós vamos sim diminuir o número de secretarias e seus cargos. Quando exerci o cargo no ministério da Pesca eu fiz a mesma coisa. Lá eu consegui cortar.

Sua aliança formal é pequena, mas a informal tem crescido. Esses apoios serão cobrados depois, certo?

Eu preciso de aliança. Todos nós precisamos. Mas todos me conhecem. Essa é a sétima eleição. Eu já ganhei eleição, já perdi, mas sempre baseado nos critérios éticos. Não contem em fazer aliança comigo em troca de cargos. Isso eu não farei.

Esse tem sido o seu discurso. Mas, em sua gestão no Ministério da Pesca, houve investigações a respeito do aparelhamento. Havia filiados ao PRB em superintendências da Pesca pelo país.

A única pessoa que levei para lá foi a minha chefe de gabinete, que trabalha comigo já há 15 anos. E um secretário da pesca que era do PRB, mas foi presidente da Frente Parlamentar da Pesca. É pescador desde menino. Foram essas pessoas que eu levei. Agora, é claro que ele nomeou as pessoas. Ele era o secretário da Pesca.

Mas não existem especialistas em pesca fora do PRB?

É verdade. Mas é natural que um partido quando ocupa um ministério abra vagas para os seus quadros. O importante que eu acho é a gente ver os resultados. Nós cortamos 300 mil seguros-defeso. Tem que haver nomeações para os partidos que fazem coligações. E eu pessoalmente não nomearei amigos e parentes. Se houver exemplo, eu acredito que todos vão se ajustando.

O senhor foi aliado de primeira hora do ex-presidente Lula. Acredita que ele seja o comandante máximo do petrolão?

Prefiro aguardar a Justiça se manifestar. Se houver prova, vou lamentar profundamente.



O senhor é um vendedor de discos de sucesso, tem uma história ligada à igreja e à sua performance como cantor. No entanto, declarou R$ 700 mil de patrimônio. Por quê?

A maioria dos meus direitos autorais são doados. Se você for a Irecê, na Bahia, vai encontrar o melhor modelo de reforma agrária do país. Eu construí aquilo tudo com recursos dos meus CDs. Dos direitos autorais. Você também vai ver que eu sou um grande arrecadador do Ecad. Eu recebo mais direitos autorais do que salário no Senado. E tenho feito constantemente doações ao projeto Nordeste. Meu patrimônio é esse. Eu não acho pequeno. É um bom patrimônio.

O valor que o senhor arrecada no Ecad, com os discos, é todo doado?

Bispo licenciado da Universal, Crivella diz que é a favor de ensino religioso não obrigatório em escolas - Márcia Foletto / Agência O Globo

Nem tudo doado. Por exemplo, o meu apartamento comprei com isso. O meu patrimônio e o que eu recebo está na declaração de imposto de renda. Pode ser que eu tenha ajudado um filho, isso é natural que ocorra. Mas se ajudei está no imposto de renda dele. Eu acho que não cometemos pecado quando doamos.

Ainda na esfera financeira, a sua prestação de contas indica que a integralidade dos recursos vem do PRB. De onde vem o dinheiro do PRB que irriga a sua campanha?

Nós temos Fundo Partidário. O PRB não é mais aquele partido que fundei com José Alencar. Hoje, são 22 deputados. O Fundo Partidário ultrapassa R$ 30 milhões. Eu não tenho preocupação com isso não. Até porque a nossa campanha é muito modesta.

A Igreja Universal participa da campanha?

Não. A Igreja Universal não participa da campanha. E não vai participar do meu governo. Há uma dúvida entre os meus eleitores. Isso já fez minha rejeição ser estratosférica. Não participa da minha campanha e não participará do meu governo.

Em campanhas anteriores, grande parte dos doadores e da estrutura e serviços da campanha era ligada à Igreja Universal. Isso demonstra um vínculo entre a sua candidatura e a sua atuação na igreja?

Quando você começa a campanha, é natural que os seus amigos lhe ajudem.

O senhor, como um homem religioso, é criacionista? É a favor do ensino religioso nas escolas municipais?

Eu acredito no criacionismo, mas o ensino é voluntário. Desde que os pais, os professores e a própria criança queiram. Eu acredito no que aconteceu comigo: aos seis anos de idade, eu tomei a decisão de ser metodista. Papai respeitou, mamãe respeitou.

O senhor manteria a coordenadoria de Diversidade Sexual?

Claro, sabe o que eu mais quero? É mostrar que eu sou candidato a prefeito. E não candidato a preconceito.

O senhor acredita que um casal de homossexual possa constituir uma família e adotar um filho?

Isso aí já está consagrado na lei. Não há o que se discutir. Se morrer um deles, vai ter direito a pensão, tudo de acordo com a lei.

Há uma bancada no Congresso que trabalha por recuos de direitos de minorias...

Veja bem, se até Deus respeitou o livre arbítrio, imagine se eu não vou respeitar. As bancadas católica e evangélica são, de uma maneira geral, em defesa da vida. São incondicionais, também, contrárias à legalização das drogas e em defesa da família.



É, mas é na defesa da família que está o centro da discussão, se aceita ou não um núcleo familiar diferente de uma união entre homem e mulher...

Você não pode obrigar um padre a celebrar um casamento entre dois homens ou duas mulheres. Nem o pastor. Existe liberdade religiosa.

O senhor propõe construir nove estacionamentos. Isso não significa um incentivo a mais para as pessoas saírem de carro agravando o caos no trânsito?

É uma necessidade do comércio. Nesse momento é um imperativo. O projeto não nasceu das minhas elucubrações, mas das minhas conversas com os comerciantes. Eu acho que é uma fase. Nesse momento são imperativos da classe dos empresários, são eles que pedem desesperadamente.

A sua campanha imprimiu panfletos com a sua imagem ao lado do cardeal arcebispo do Rio dom Orani Tempesta. A Igreja não gostou. O senhor não deve desculpas aos católicos?

Posso me desculpar com ele, não vejo nenhum demérito nisso, mas é uma tempestade no copo d’água feita pelo jornal O GLOBO.



A questão é que a Arquidiocese fez um pronunciamento público dizendo que não autorizou o uso da foto.

Existe, no meu partido, núcleos católicos, que colocaram no panfleto que o Crivella é contra o aborto, a favor da vida, contra a corrupção. E são princípios que são comuns entre católicos e evangélicos. Não se pede voto no panfleto. Essa equipe de católicos me mostrou um panfleto. Eu achei lindo e maravilhoso. Pedi para consultar um advogado. “Veja se está tudo de acordo com a lei”. Estava. Você sabe quantos panfletos foram, que eu apurei? 700 panfletos.

A gráfica American Sign, contratada pelo senhor para produzir material de campanha, não tem funcionário, sede ou parque gráfico. O senhor diz que ela subcontratou o serviço, e que tudo é regular, ao contrário do que diz o TRE. O advogado (das gráficas) está com toda a procuração para responder.

Nessa crise, nós precisamos entender que muitas empresas quebraram. Bom, ela tem nota fiscal, CNPJ, e nós estamos discutindo, mais uma vez… Desculpe falar, vocês estão fazendo tempestade num copo d’água. Sabe qual foi o pedido (de material comprado)? R$ 50 mil.

Viu alguma irregularidade na campanha? Fotografou? Fez um vídeo? Mande para o WhatsApp Eleições 2016 do GLOBO: (21) 99999-9114




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