No embate Lula X Bolsonaro, ambos mais perderam do que ganharam, mas PL bate o PT
Fabio Victor / FOLHA DE SP
Um dos embates mais esperados desta eleição, em particular do segundo turno, terminou sem vencedor: no Lula versus Bolsonaro, ambos mais perderam que ganharam, e cada um terá de se contentar com prêmios de consolação. No confronto entre partidos, o PL teve mais êxitos e sai mais fortalecido que o PT.
Entre as muitas derrotas para Lula, há que destacar a de Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo, com a vantagem acima do esperado imposta por Ricardo Nunes.
Vale menção ao avanço da direita bolsonarista em capitais do Nordeste, principal reduto lulopetista. Fortaleza concentra um paradoxo, pois foi na capital cearense –a mais populosa da região– que o PT obteve sua única vitória, com Evandro Leitão, exatamente o contraponto positivo em meio a tantos reveses. Com o resultado, o partido volta a eleger um prefeito de capital após oito anos.
Se levarmos em conta, entretanto, que um candidato do chamado bolsonarismo raiz como André Fernandes (PL) esteve muito perto da vitória numa cidade há décadas administrada pela esquerda –num revezamento entre o PT e o PDT–, a vitória vem com um gosto algo amargo e deverá ter reflexos para o intrincado racha na coalizão estadual da esquerda cearense.
Aracaju, outro bastião esquerdista governado num passado recente apenas pela esquerda, também mudou a chave, com a vitória de Emilia Correa (PL),
Das nove capitais, além de Fortaleza, o PT só esteve na coligação vitoriosa em mais uma, o Recife, com João Campos (PSB). Perdeu, sozinho ou coligado, nas outras sete.
É verdade que o PT aumentou seu número de prefeituras, e o Nordeste teve peso considerável nesse crescimento, que se deu, porém, em cidades pequenas e médias. O predomínio da direita e centro-direita e a expansão do bolsonarismo nos grandes centros do Nordeste são más notícias a serem trabalhadas no divã lulopetista.
Do lado de Bolsonaro, considerando as principais apostas do ex-presidente, as derrotas suplantaram com folga as vitórias. O segundo turno confirmou a ampliação da vitória do campo conservador em relação à eleição municipal de 2020 –aí incluídos centro-direita, direita democrática, centro fisiológico ou direita radical.
Mas, dentro desse amplo arco, podem comemorar o PSD de Kassab –que conquistou o maior número de prefeituras–, o MDB, o União Brasil e outras siglas do centrão ou da chamada direita democrática. E também o PL de Bolsonaro, partido que mais elegeu prefeitos em cidades com mais de 200 mil eleitores –16, seguido pelo PSD, com 15.
Ocorre que Bolsonaro perdeu algumas das campanhas a que mais se dedicou. No segundo turno, das nove capitais que disputava, o PL só ganhou duas –Aracaju, com Emilia Correa, e Cuiabá, com Abílio Brunini. Outra candidata bolsonarista venceu, Adriane Lopes, mas de outro partido, o PP.
As derrotas de Fred Rodrigues em Goiânia e Bruno Engler em Belo Horizonte, campanhas em que Bolsonaro se envolveu de corpo e alma, mostram que seu apoio perdeu punch. Em menor escala, isso vale para os derrotados Cristina Graeml em Curitiba (a candidata do coração do bolsonarismo), Marcelo Queiroga em João Pessoa, Delegado Éder Mauro em Belém e Capitão Alberto Neto em Manaus.
E as vitórias de Ricardo Nunes em São Paulo, Sebastião Melo em Porto Alegre e Eduardo Pimentel em Curitiba –cujos vices são do PL– não podem ser creditadas a Bolsonaro, talvez até muito pelo contrário.
Some-se a isso que as três principais lideranças da direita com pretensões nacionais em 2026 ou além –os governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo), Ronaldo Caiado (Goiás) e Ratinho Jr (Paraná)– saem fortalecidas, e nenhuma delas precisou de Bolsonaro. Caiado até trombou com ele.
Por fim, é importante registrar que nem os candidatos mais radicais contestaram as urnas eletrônicas e o país voltou a ter eleições em que os partidários dos candidatos derrotados não foram para frente de quartéis pedir que militares revertessem os resultados.
E isso é também uma derrota de Bolsonaro.