Domínio de Marçal nas redes preocupa rivais em SP com o fim do horário eleitoral na TV
Por Hyndara Freitas, Samuel Lima, Victoria Abel, Matheus de Souza e Guilherme Queiroz— São Paulo / O GLOBO
Com a permanência do empate triplo registrado na última pesquisa Quaest para a prefeitura de São Paulo, cresceu a preocupação nas campanhas com as 72 horas que antecedem a votação, após o fim do horário eleitoral no rádio e na TV. O temor da equipe de Ricardo Nunes (MDB) é com a vantagem de Pablo Marçal (PRTB) nas redes sociais. Tanto o prefeito quanto Guilherme Boulos (PSOL) traçam estratégias para a reta final, nas ruas e na internet, e contam com bom desempenho no debate promovido pela TV Globo, na quinta-feira.
Nesta campanha, de acordo com levantamento da consultoria Bites revelado pelo colunista Lauro Jardim, Nunes ficou na quarta posição em interações nos seus posts nas redes sociais (1 milhão) e em novos seguidores (38 mil).
Professor de Direito Eleitoral da Fundação Getulio Vargas (FGV), Fernando Neisser esclarece que a legislação veda propaganda nas redes sociais 48 horas antes da eleição e que a própria Meta, dona do Facebook e do Instagram, deve bloquear esse tipo de pagamento a partir das 8h da sexta-feira. Isso significa que, a partir desse horário, toda a propaganda digital passa a ser orgânica, beneficiando quem se mostra mais competitivo no meio digital sem rodar anúncios. Boulos e Nunes, que contam com mais dinheiro para investir em tráfego pago, ficam atrás de Marçal em termos de engajamento.
Nunes, por exemplo, gastou R$ 4,4 milhões em anúncios somente no mês de setembro, enquanto a despesa de Boulos chega a R$ 3,7 milhões. Marçal, que conta com milhões de seguidores nas redes sociais e uma legião de perfis de terceiros reproduzindo os seus conteúdos, investiu R$ 465 mil no mesmo período, segundo a Meta.
No dia da votação, os candidatos estão proibidos de veicular qualquer tipo de material nas plataformas, sob pena de cometerem crime eleitoral. Os conteúdos divulgados anteriormente, no entanto, podem permanecer ativos, o que possibilita que as pessoas, na prática, continuem sendo impactadas pela propaganda de acordo com a distribuição dos conteúdos mediada pelas plataformas.
Distribuição no zap
Na terça-feira, em conversa por vídeo, Marçal convocou apoiadores a espalharem materiais do candidato em grupos fechados de Whatsapp e redes similares para tentar virar votos. O ex-coach prometeu enviar uma lista de respostas prontas para os temas mais críticos a seu respeito. Segundo a Quaest divulgada na segunda Marçal tem 52% de rejeição, atrás apenas de José Luiz Datena (PSDB), com 68%.
Marçal aposta em um “voto envergonhado” que não seria captado pelas pesquisas.
— De tanto que bateram em mim, as pessoas não estão querendo nem na pesquisa falar (que votariam nele)— disse Marçal.
O ex-coach ainda deve lançar mão de sua mulher, Ana Carolina, na campanha, para tentar reverter a rejeição no eleitorado feminino. Na segunda, no debate promovido pelo jornal “Folha de S. Paulo”, Marçal disse que “mulher não vota em mulher” por ser “inteligente”, ao tentar argumentar que o público feminino leva em conta outros aspectos ao decidir o voto.
A campanha de Nunes vai tentar compensar o fraco desempenho nas redes, com agendas de rua e eventos segmentados com o empresariado, mercado financeiro e lideranças religiosas, por exemplo. E o foco da campanha nesta reta final está no debate da TV Globo. O emedebista se preocupa com a estabilidade que Marçal adquiriu nas pesquisas.
Nas agendas de rua, o emedebista foi aconselhado a concentrar seus esforços na Zona Leste, região onde tem a gestão bem avaliada e ainda teria espaço para crescer. Outra estratégia é dar destaque às mulheres para tentar surfar na rejeição deste grupo a Marçal. A estratégia já começou, com vídeos nas redes sociais e na TV destacando falas negativas do ex-coach sobre o público feminino.
O prefeito contará, na reta final, com a ajuda de candidatos a vereadores — são 600 na coligação — para espalhar as ações de rua pela cidade. O maior ativo de Nunes, no entanto, é o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). O aliado deve estar com o prefeito durante toda a semana, no sábado e também no domingo, na hora da votação e na apuração dos resultados.
Esperança final
A campanha de Boulos, por sua vez, aposta em uma caminhada na Avenida Paulista, no sábado, com o presidente Lula e Marta Suplicy (PT), vice na chapa. Além disso, o psolista deve reeditar uma série de agendas nos extremos da capital paulista, como Paraisópolis e Perus.
Tanto a caminhada com Lula como a ida às periferias refletem a esperança de Boulos de avançar sobre o voto do eleitorado lulista, o que o candidato não conseguiu ao longo da campanha — tem 48% de preferência entre os que votaram no presidente em 2022.
O PT decidiu levar os militantes e apoiadores para terminais de ônibus ou ruas principais dos centros de bairro, que são zonas de comércio mais movimentadas no fim de tarde, a partir das 17 horas, quando o trabalhador está voltando para casa.
O número de militantes nas ruas também será ampliado. Os diretórios petistas regionais de maior força estão em Cidade Tiradentes, Guaianases e Itaim Paulista, na zona Leste, Parelheiros, Grajaú e M’boi Mirim, na zona sul, Brasilândia e Perus, na zona norte. O embate na TV Globo, amanhã, também é um ponto de atenção. A ideia é que Boulos mantenha a linha de apresentar projetos e evite tensões com Marçal.