Datena e Marçal protagonizam show dos rejeitados
Igor Gielow / FOLHA DE SP
O debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo na TV Cultura, neste domingo (15), refletiu o dilema entre a ideia tradicional do cotejamento de ideias e a lacração dominante do mundo das redes sociais.
A absurda agressão promovida por José Luiz Datena (PSDB) ante a igualmente absurda provocação de Pablo Marçal (PRTB) soou como um abraço de afogados, à luz dos números da mais recente pesquisa do Datafolha.
Exagero no caso de Marçal, que ainda marca 19%? Sim. Mas curiosamente, ou não, o influenciador mirava Datena desde o início da contenda, apelando de questão em questão.
Com sua ascensão retida, Marçal fez o que pôde para trazer o neotucano para sua arena. Sem nada a perder, após uma sucessão de declarações derrotistas após descobrir que não tem o voto que sua popularidade sugeria ao longo de várias campanhas abortadas, Datena topou o jogo.
Ambos, ele e Marçal, ganham e perdem na mesma medida. Não já como evitar a ideia de que, ao fim, protagonizaram um lamentável abraço de afogados, apesar da evidente distância entre eles. Seus eleitores, especialmente na faixa da antipolítica, são afinal os mesmos.
Por óbvio, o nome do PRTB ainda não é cachorro morto. Mas ao longo do debate já insinuava dificuldades, ao tentar se apresentar como alguém mais normal em termos de propostas.
No terceiro bloco, por exemplo, ele titubeou ao falar sobre propostas para a mobilidade, falando em uma geração de 2 milhões de empregos sem a participação direta da prefeitura. Ficou faltando o teleférico, seu fetiche anterior.
Já Ricardo Nunes (MDB) seguiu na linha de acusação, voltando a Guilherme Boulos (PSOL), em quem já havia batido mais fortemente no início da contenda.
No mais, Tabata Amaral (PSB) manteve a oratória certinha e argumentos coerentes, mas nada que pareça mudar a percepção de fragilidade apontada pela mais recente pesquisa do Datafolha.
Boulos, por sua vez, bateu em Nunes, mantendo a retórica dominante do "estou subindo na minha rede" --o que só ajuda a relativizar o peso real do debate na TV para os candidatos.
Noves fora a baixaria principal, Nunes mostrou um pouco do arsenal que poupou ao longo da campanha devido à subida de Marçal nas pesquisas, voltando as baterias para Boulos, que na programação inicial seria seu rival num segundo turno.
Falou sobre defesa da liberação da drogas, bandeira da esquerda, e recebeu uma acusação de malfeitos na saúde em troca. É a competição por rejeições em curso: Boulos precisa evitar a subida dos 37% de rejeição, especialmente porque o prefeito ainda tem meros 19% de eleitorado que não vota nele de jeito nenhum, segundo o Datafolha.
Certos ou errados, os candidatos na ponta já rifavam Marçal, que conseguiu ao fim sua manchete com a cadeirada de Datena. Se isso será suficiente para roubar os parcos pontos do tucano, é algo a avaliar em breve.