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Debate indigente

Por Notas & Informações / O ESTADÃO DE SP

 

O primeiro debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, realizado na noite de quinta-feira passada pela TV Bandeirantes, foi um circo de horrores. Nem parecia que o que está em jogo é o governo da maior cidade do Brasil, a quinta maior cidade do mundo, uma potência política, econômica, social e cultural que supera com folga muitos países.

 

Os resilientes que conseguiram assistir àquelas quase 3 horas de vale-tudo foram submetidos a uma interminável sessão de desrespeito e pouco-caso com os reais problemas que afligem os paulistanos. Não houve um entre os cinco contendores – Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Pablo Marçal (PRTB), Tábata Amaral (PSB) e José Luiz Datena (PSDB) – que não tenha, em maior ou menor grau, privilegiado questões que nada têm a ver com as prementes necessidades da metrópole em detrimento de suas eventuais propostas de governo.

 

A bem da verdade, há que reconhecer que a lamentável participação de Marçal, um desqualificado que se orgulha de sê-lo, prejudicou muito a fluidez do debate. Comportando-se como um franco-atirador extremamente agressivo, o tal “coach” pareceu o tempo todo mais interessado em atacar todos os adversários nos termos mais baixos – com a finalidade óbvia de produzir material chocante para suas redes sociais – do que em apresentar planos para administrar a cidade de São Paulo – presumindo-se, é claro, que os tenha.

 

 

Mas o candidato do nanico PRTB não foi o único responsável pela indigência do debate. Até Tábata Amaral, supostamente a candidata mais ponderada no estúdio, deu sua cota de contribuição à mediocridade do que se viu ao mencionar um boletim de ocorrência por violência doméstica registrado contra Ricardo Nunes há mais de uma década.

 

Guilherme Boulos, por sua vez, não conseguiu se desvencilhar da ligação atávica que manteve com o MTST e as invasões de propriedade que o grupo promove, além de sua notória proximidade com Lula da Silva, a ponto de emular até os trejeitos do petista.

Já o recém-aninhado tucano José Luiz Datena representou o mesmo personagem que há anos é conhecido pelos que acompanham seus popularescos programas na TV. Datena demonstrou sua notória indignação contra os políticos em geral e contra a própria política, além de abusar dos ataques pessoais e da ironia. Como os outros, não foi capaz de apresentar algo remotamente parecido com um plano de governo – talvez porque, como ele mesmo já declarou, a Prefeitura de São Paulo não lhe interesse, mas sim a disputa por uma vaga no Senado em 2026.

O alvo principal de todos, contudo, foi o prefeito Ricardo Nunes, como não haveria de deixar de ser. O prefeito passou praticamente o debate inteiro se defendendo das duras críticas que recebeu, permeadas por acusações de incompetência administrativa e de um suposto favorecimento de amigos e familiares na assinatura de contratos pouco transparentes com a Prefeitura na casa dos milhões de reais.

 

Em suma, em vez de um diálogo construtivo em torno das soluções para os verdadeiros problemas de São Paulo, em especial nas áreas de zeladoria urbana, saúde, educação fundamental e transporte, o que se viu nesse primeiro debate entre os candidatos à Prefeitura da capital paulista foi uma rinha marcada por ataques pessoais, insultos e insinuações baixas que nada acrescentam ao processo eleitoral – ao contrário, o abastardam.

 

São Paulo é uma megalópole com mais de 12 milhões de habitantes. É o principal centro financeiro do Brasil, uma usina de oportunidades que atrai gente não apenas de outros Estados do País, como do mundo inteiro. Naturalmente, isso impõe desafios nada triviais à governança da cidade naquelas áreas fundamentais. No entanto, as soluções para cada um desses desafios ficaram relegadas ao segundo plano no debate, que, bem mais assemelhado a um ringue, só não foi pior porque, por mais acaloradas que tenham sido algumas intervenções, não se partiu para as vias de fato.

 

Era só o que faltava. Que nos próximos debates os candidatos se mostrem dignos do cargo que postulam e do voto dos paulistanos.

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