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Segurança domina campanha paulistana

Por Vera Magalhães / O GLOBO

 

 

A segurança pública é atribuição precípua dos governos estaduais, definiu a Constituição de 1988. Mas o tema ganhou tamanha importância para o eleitorado que, ao mesmo tempo que se nacionalizou, também promete dominar a campanha para as prefeituras, sobretudo em São Paulo. A própria definição das candidaturas já explicitou a centralidade que a discussão terá na disputa paulistana. Ricardo Nunes até ameaçou resistir, mas teve de aceitar a imposição de Jair Bolsonaro para ter o coronel Mello Araújo como companheiro de chapa.

 

Aliados do prefeito agora veem a escolha como a possibilidade de Nunes contar com um escudo contra os ataques pesados que já passou a receber de José Luiz Datena nessa seara. O ex-apresentador de TV e agora candidato do PSDB tem centrado fogo no emedebista, associando sua gestão e sua candidatura ao crime organizado na cidade.

 

São acusações bastante graves, que devem fazer a temperatura entre os dois subir ao longo dos debates. Para o grupo de Nunes, a presença de um policial militar na chapa pode ajudar a responder às acusações e a neutralizar os ataques de Datena.

 

As promessas dos candidatos para que a Guarda Civil Metropolitana (GCM) tenha uma participação mais ostensiva no policiamento da capital esbarram todas elas nas atribuições da corporação, que tem caráter de policiamento preventivo e voltado principalmente à garantia do patrimônio e da segurança do cidadão, mas sem poder de polícia.

 

Tanto Datena quanto Nunes têm apostado no discurso de armar a GCM até os dentes. A entrega de fuzis e carabinas pela atual gestão foi feita com estrépito. Na sabatina ao g1, o candidato do PSDB também prometeu uma guarda “hiperarmada”.

 

O protagonismo da segurança pública na disputa será tamanho que até os candidatos mais identificados com o campo da esquerda escolheram coordenadores graduados para fechar seu plano de governo para a área.

 

Guilherme Boulos escalou o sociólogo Benedito Mariano, ex-ouvidor da PM e ex-secretário de gestões petistas em cidades do Estado de São Paulo. Já Tabata Amaral (PSB) contará com a assessoria do professor da USP Leonardo Piquet Carneiro, que elaborou o plano de Geraldo Alckmin para a segurança na campanha de 2018.

 

No Q.G. de Boulos, a tônica deverá ser evitar a defesa da linha dura para a atuação da prefeitura subsidiariamente às polícias no enfrentamento à criminalidade.

 

O candidato lulista tem prometido investir pesadamente na zeladoria como forma de melhorar a sensação de segurança da população, sobretudo no centro da cidade de São Paulo, onde os furtos e roubos de celulares e o domínio do tráfico de drogas são algumas das principais queixas da população.

 

É pouco o que os prefeitos podem efetivamente entregar em termos de segurança, mas as promessas devem ser de terrenos na Lua.

 

Já a discussão sobre a infiltração do crime organizado nas estruturas do poder público e da política é importante e, se for aprofundada, pode trazer benefícios aos eleitores da cidade. O Ministério Público estadual tem avançado na investigação da presença da principal facção criminosa do estado em setores como transporte público e dos braços dessa organização em diversos partidos políticos, com influência no Executivo e no Legislativo municipais.

 

Esse é um fio que, se puxado até o fim, pode revelar ligações importantes entre crime e política, mas, para isso, é necessária uma ação articulada entre as diferentes instâncias de governo, as polícias estaduais e a Federal e a Justiça — que, muitas vezes, tem tomado decisões para que líderes dessas organizações presos em operações sejam liberados em seguida.

 

Diante de tudo isso, fica evidente que não há como fugir do clamor por segurança nas campanhas municipais. O importante é que a população não seja iludida com promessas irreais e que se avance na apuração e punição da tomada da política e do poder público pelo crime.

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