Eleição vai ser decidida na moedinha e na guerra da abstenção
Vinicius Torres Freire / folha de sp
"Vai ser na moedinha", diz um amigo cientista social a respeito das pesquisas do segundo turno da eleição. Isto é, a eleição está tão apertada que o Imponderável da Silva das estatísticas nos diz que não se pode descartar um resultado próximo do empate entre Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).
Não é possível fazer projeções sobre o número de abstenções e votos válidos, o que vai ser relevante e provavelmente decisivo. A batalha do transporte público grátis (ou não) vai se intensificar. O assédio eleitoral está sendo denunciado aos montes, mas também não sabemos a extensão dessa violência em empresas, serviço público e, quem sabe, em áreas controladas por milícias e outras facções criminosas.
Vai aumentar ou diminuir? Quem tem medo de punição? Os crimes eleitorais são julgados tardiamente, quando o são. Há gente que perde mandato quase no final do governo.
A abstenção no segundo turno costuma ser maior. Em média, o número de pessoas que vai às urnas na segunda rodada de votação é 2,6% menor do que na primeira. Pelo menos tem sido assim desde 2006, para ficar apenas em eleições mais recentes (e lembrando que em 1994 e 1998 não houve segundo turno na disputa presidencial). O ambiente político-eleitoral mudou tanto que as eleições anteriores parecem ter acontecido em outro país —na verdade, foi esse o caso.
Se o aumento médio de abstenção entre os dois turnos se repetisse nesta eleição de 2022, seriam 3,2 milhões de eleitores a menos. Pode bagunçar totalmente o resultado das pesquisas.
Mas esses números servem apenas para indicar o quão imprevisível se tornou a disputa. Note: a diferença entre Lula e Bolsonaro anda agora em torno de 4 pontos percentuais na pesquisa Datafolha. A diferença no primeiro turno ficou entre 4 e 5 pontos, a depender do modo que se faça a conta com os resultados do TSE.
Enfim, esse aumento médio de abstenção é apenas isso: médio. Variou de no mínimo 1,2% no segundo turno da eleição de 2018 (Bolsonaro contra Fernando Haddad, PT) até 4,3% em 2010 (Dilma Rousseff, PT, contra José Serra, PSDB). O que vai ser neste 2022?
Como dizia Manuel Bandeira sobre outro assunto de vida e morte, esse "cálculo das probabilidades é uma pilhéria". Além de não podermos prever que tipo de eleitor vai deixar de votar no dia 30 de outubro, não sabemos também se o voto do segundo turno vai ser tão decidido como no primeiro. Isto é, não temos como saber da quantidade de nulos e brancos, que foi a mais baixa desde 1989.
Na primeira rodada de 2022, a parcela de votos inválidos foi de apenas 4,4%, ante uma média de quase 9% desde 2006. É uma diferença brutal. Outra vez: é tão grande quanto a diferença de Lula e Bolsonaro no Datafolha divulgado nesta quarta-feira.
De 2006 a 2014, o número de votos inválidos diminuiu no segundo turno. Na eleição passada, em 2018, aumentou. Sinal de rejeição maior aos dois finalistas? É um chute. O fenômeno vai se repetir neste ano? É um chute piorado.
A diferença entre Lula e Bolsonaro seria quase zero, no limite improvável da margem de erro da pesquisa Datafolha divulgada nesta quarta-feira. Mas há outros erros. A camuflagem do eleitor bolsonarista mais militante, o voto enrustido ou a recusa de responder à pesquisa, ainda é uma hipótese sobre a mesa, entre outros possíveis problemas. Pode ser que os novos adeptos de Bolsonaro, que votaram em outros candidatos no primeiro turno, sejam menos propensos a recorrer à camuflagem. Mas a campanha contra as pesquisas eleitorais pode ter engajado novos eleitores.
Estamos bem no escuro.