Onyx 'paz e amor' e Leite em encruzilhada marcam início do 2º turno no RS
O segundo turno ao Governo do Rio Grande do Sul começa com Onyx Lorenzoni (PL) em uma posição confortável, dado o histórico de 24 anos sem uma virada na disputa pelo governo do estado.
Em 1998, Olívio Dutra (PT) ficou 23.799 votos atrás de Antônio Britto (MDB) no primeiro turno, mas venceu a segunda rodada com uma vantagem de 87 mil votos. A diferença é que, desta vez, a vantagem de Onyx sobre o rival, Eduardo Leite (PSDB), é de 679 mil votos.
O placar final do primeiro turno teve o ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) com 37,5% dos votos, e Leite, com 26,81%, apenas 2.441 votos à frente de Edegar Pretto (PT). Assim, para buscar uma inédita reeleição ao governo no estado, o tucano precisa de uma virada histórica.
No primeiro turno, Onyx tinha apenas 1 minuto e 31 segundos de tempo de propaganda de TV, cerca de um terço da coligação de Leite. Agora, com mais tempo, o candidato bolsonarista deverá detalhar propostas e enfatizar um lado menos belicoso do que o adotado nos debates.
No primeiro discurso após o anúncio dos resultados, ele já sinalizou um tom paz e amor, repetindo um apelo às famílias gaúchas. "Precisamos de um governo que vá ao encontro das pessoas. Que tenha consciência de que nós temos uma missão, e essa missão é transformar vidas", disse Onyx.
Ele também deverá bater na tecla de que ama o Rio Grande do Sul, uma alfinetada em Leite, que renunciou ao governo do estado em março para uma tentativa frustrada de concorrer à Presidência da República.
Já o tucano deve apostar num refluxo da influência da polarização nacional no voto local. Sua campanha também espera debates mais equilibrados, após ser alvo dos demais candidatos no primeiro turno.
Em entrevista coletiva na segunda (3), Leite jogou com o discurso de que o resultado da votação foi uma vitória única no país contra a polarização nacional. A encruzilhada, agora, é como se posicionar em relação a ela.
Em 2018, aconselhado pelo seu então vice, Ranolfo Vieira Júnior (PSDB), o tucano declarou voto em Bolsonaro no segundo turno, mas se apresentou como o nome mais moderado na disputa contra José Ivo Sartori (MDB). A tática deu certo, e ele conseguiu atrair votos da esquerda e ser eleito.
Agora, o tucano pode trilhar o mesmo caminho, uma opção a princípio difícil, já que Onyx é o candidato do bolsonarismo, ou tentar um elo com o PT, o que poderia afastar a fatia mais conservadora de seu eleitorado e pessoas da sua própria coligação, composta por Cidadania (federado), Podemos, União Brasil, MDB e PSD, todos de perfil mais à direita do que à esquerda no Rio Grande do Sul.
O presidente licenciado do partido no estado, o deputado federal reeleito Lucas Redecker (PSDB), adiantou-se à discussão e, sem vincular sua decisão à de Leite, anunciou publicamente apoio a Bolsonaro. A justificativa foi "preocupação maior" com o "não retorno do método de governo" do PT.
Por ora, a campanha tucana aguarda os desdobramentos do diálogo entre Luiz Inácio Lula da Silva Lula (PT) e Simone Tebet, do MDB, partido do vice de Leite, Gabriel Souza. Questionados em quem votariam no dia 30, Leite, a ex-senadora Ana Amélia (PSD), o agora governador Ranolfo e Souza desconversaram. "Seria irresponsável fazê-lo antes de conversar com o grupo político que represento", disse Leite.
A coligação, todavia, fez acenos discretos a Pretto. Souza disse que ligou para o petista ainda no domingo para cumprimentá-lo pelo desempenho surpreendente. "A disposição ao diálogo com partidos rivais é algo que nos diferencia da outra candidatura", disse o atual governador, vice na chapa de Leite há quatro anos.
Leite se disse disposto a um encontro com o terceiro colocado. "Como governador, me reuni com o deputado Pretto em momentos-chave para a aprovação de projetos importantes, sem que isso representasse um apoio político. Mas é preciso haver disposição das duas partes para diálogo."
Respaldado por uma votação superior à de seu partido em 2018, Pretto também se mostrou aberto. "Vou conversar com todos que quiserem conversar comigo. Nacionalmente, Lula já está conversando. Por aqui, vamos aguardar ‘un poquito más’, até para ver o que vem dessas conversas nacionais."
Segundo o deputado, o início das negociações dependem da disposição de Leite em apoiar Lula e vice-versa.
Essa hipótese se tornou ainda mais improvável com o anúncio, nesta terça-feira (4), do apoio do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), a Tarcísio de Freitas (Republicanos) em vez de Fernando Haddad (PT) no 2º turno de São Paulo, enfraquecendo possíveis novas alianças entre tucanos e petistas.
Dado que os dois partidos nunca se aliaram no estado, o PT gaúcho já começou a negociar com PSB e PDT para fortalecer o palanque do ex-presidente no Rio Grande do Sul.
Como Leite já admitiu, tucanos e petistas têm diferenças programáticas em relação a privatizações de estatais e à adesão ao regime de recuperação fiscal, negociado por ele quando era governador.
Curiosamente, nesses dois pontos a posição do PT é mais próxima à de Onyx do que à do tucano. O candidato bolsonarista já se disse contrário à privatização do Banrisul e que pretende renegociar os termos do regime de recuperação fiscal, sobretudo nas restrições à concessão de incentivos pelo estado.