Rodrigo Garcia declara 'apoio incondicional' a Bolsonaro e Tarcísio
O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), declarou seu apoio incondicional a Tarcísio de Freitas (Republicanos), em São Paulo, e a Jair Bolsonaro (PL) na corrida pela Presidência da República.
"Eu, como candidato a governador do partido, e pessoalmente, como governador de São Paulo, declaro meu apoio incondicional ao presidente Bolsonaro e ao Tarcísio", disse ele na tarde desta terça-feira (4), ao lado de Bolsonaro e Tarcísio, no aeroporto de Congonhas, na capital paulista.
Rodrigo afirmou ainda que o PSDB nacional decidirá, nesta terça, pela neutralidade no segundo turno, liberando seus filiados a apoiar Bolsonaro ou o ex-presidente Lula (PT). O governador disse ainda que comunicou sua decisão ao presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, e ao presidente do PSDB paulista, Marco Vinholi.
O apoio declarado dos tucanos paulistas a Tarcísio e Bolsonaro é um revés para as campanhas de Fernando Haddad (PT) e Lula, que também buscavam atrair a sigla nesta segunda etapa da disputa em que enfrentam os bolsonaristas. Tarcísio terminou com 42,32% contra 35,70% do petista.
Rodrigo terminou o primeiro turno da eleição em terceiro lugar, com 18,4% dos votos válidos, e não avançou para o segundo turno, numa derrota histórica para o PSDB em São Paulo.
"O PT nunca governou o nosso estado. Essa mesma avaliação eu faço para o Brasil. O que eu quero para São Paulo é o que eu quero para o Brasil. Declaro meu apoio pessoal e incondicional a Tarcísio de Freitas porque enxergo também nele, não só o bom trabalho para São Paulo, mas também para evitar que o Partido dos Trabalhadores ganhe as eleições aqui em São Paulo", completou Rodrigo.
Ao lado de Rodrigo, Bolsonaro afirmou que eles irão trabalhar juntos até o dia 30, data do segundo turno, e depois disso. Também exaltou a experiência de Rodrigo. O presidente afirmou que o governador "faz parte desse projeto com mais intensidade a partir de agora".
"Esse apoio do Rodrigo é muito bem-vindo, agradeço de coração a ele. Ele já tinha um amigo e agora vai ter um melhor amigo ainda, para propostas que ele queira sugerir ao governo", disse o presidente.
"Ele declarando que quer o bem do Brasil, o mesmo que eu digo para o lado de cá. É o bem da nossa pátria, é a nossa liberdade que está em jogo. Nós aqui temos uma política completamente diferente da do outro lado. Inclusive e obviamente nas questões espirituais", completou Bolsonaro.
Em seguida, ainda com Rodrigo ao seu lado, falou contra as drogas, o aborto e a ideologia de gênero. Voltou a afirmar que seu governo não teve corrupção, apesar das investigações em curso contra a sua família e no Ministério da Educação, por exemplo.
"A gestão PT onde esteve já se mostrou inadequada, uma prova é o que aconteceu na capital, em São Paulo, na gestão do Haddad como prefeito. Não é isso que a gente quer para o estado e não é isso que a gente quer para o Brasil", afirmou Tarcísio no encontro.
O coordenador da campanha de Haddad, deputado Emídio de Souza (PT), afirmou que se trata da "reedição do BolsoDoria que enganou milhões de paulistas em 2018".
"Mostra que o Rodrigo não é paulista raiz, ele é bolsonarista raiz", disse, diferenciando o governador do resto do PSDB. Ele também afirmou acreditar que se trata de uma medida por estratégia de sobrevivência política, e não mágoa por ataques.
"Eu acho que boa parte do eleitorado do Rodrigo não acompanha isso. Vamos dialogar com eleitorado dele, boa parte são pessoas honestas que têm apreço à democracia, eu acho que não vão acompanhar Bolsonaro na loucura dele, no negacionismo, na ameaça democrática", disse.
Ao comentar o apoio de Rodrigo mais cedo, Tarcísio afirmou, no entanto, que não fazia sentido ter o PSDB em seu palanque —o que gerou irritação entre os tucanos. Também declarou que o apoio do governador é mais importante para Bolsonaro.
"Eu preguei mudança o tempo todo, não faz sentido agora estar com eles [PSDB] no palanque. Agora, eles têm capilaridade, têm boas políticas que precisam ser preservadas. E entendo que eles podem ter um papel fundamental na eleição do presidente. Eu vou seguir na linha que eu me comprometi com o Estado de São Paulo, que é uma linha de mudança, preservando o bom legado", disse.
"Existe no PSDB uma adesão natural a uma linha anti-PT. Eu não imagino o PSDB apoiando o PT. E a nossa linha de realmente promover algo diferente. Vamos estar no palanque juntos? Não, provavelmente não. Agora vamos ter adesões do PSDB, porque faz sentido", afirmou Tarcísio durante a manhã, em evento no qual recebeu apoio do PP.
"O estado cansou da gestão PSDB, e a gente representa a novidade", completou.
Questionado sobre não querer o PSDB em seu palanque, justificou: "Não é isso. Nós vamos ter adesões que são naturais, vão vir naturalmente em função da nossa linha programática, que é a mesma linha de muitos dos integrantes do PSDB".
"A gente vem numa proposta de mudança e a gente tem que pontuar muito bem isso. [...] Existem abordagens diferentes [do PSDB] com relação ao serviço público, aos aposentados, à expansão do metrô, do trem intercidades. Essa mudança nós temos que fazer. Agora, vamos preservar o bom legado, do Bom Prato, das políticas sociais que chegam até a ponta da linha, a relação com as prefeituras, ou seja, nada vai ser descontinuado", disse ainda.
Na segunda-feira (3), a campanha de Haddad chegou a procurar interlocutores de Rodrigo, mas não teve contato direto com o governador.
Como mostrou a Folha, a eleição em São Paulo embaralha a busca de Lula por apoios na corrida presidencial, inclusive o do PSDB. A executiva nacional do PSDB, que se reúne nesta terça, tende a ficar em cima do muro e liberar os líderes para apoiar Lula ou Bolsonaro.
A sigla está dividida entre a bancada de deputados federais —que são mais próximos do bolsonarismo do que da esquerda— e os cabeças brancas, que preferem Lula. O ex-senador Aloysio Nunes (SP) já estava com o petista no primeiro turno, e o senador Tasso Jereissati (CE) declarou apoio nesta segunda.
O apoio do PP a Tarcísio, também consolidado nesta terça, já era esperado. O partido estava na coligação de Rodrigo em São Paulo, mas está na aliança nacional de Bolsonaro —por isso, a adesão a Tarcísio era natural.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que apoiou Rodrigo no primeiro turno, também vai declarar apoio a Tarcísio e Bolsonaro. Um dos articuladores da campanha de Tarcísio, Gilberto Kassab (PSD) está negociando o apoio do MDB.
Na entrevista desta terça, Tarcísio afirmou que espera o apoio do prefeito. "Tive uma conversa muito boa com ele", disse.
De acordo com aliados de Rodrigo, o governador viu vantagem em fechar uma aliança com Tarcísio na expectativa de que o PSDB mantenha parte dos cargos e das secretarias que ocupa hoje na estrutura governamental, incluindo o Sebrae. A manutenção do comando da Assembleia Legislativa também é um pleito dos tucanos.
Os tucanos levaram em conta que Tarcísio e sua coligação não teriam quadros suficientes e precisariam do apoio do PSDB para tocar o governo. Além disso, o movimento de apoio também busca blindar que tucanos sejam alvo de investigações ou retaliações promovidas pelo eventual governo Tarcísio.
Pesou ainda o fato de que Tarcísio é considerado favorito para o cargo num estado que sempre elegeu governos de direita. O bolsonarista terminou o primeiro turno em primeiro lugar e tem rejeição menor do que o adversário Haddad.
O PSDB em São Paulo também considera o PT um adversário histórico e, de acordo com interlocutores de Rodrigo, não havia sentido apoiar os petistas no segundo turno.
No interior, prefeitos ligados ao PSDB já iniciaram um embarque na campanha de Tarcísio, a exemplo do prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira (PSDB).
Rodrigo deixou a corrida eleitoral com mágoa dos adversários —os ataques de Haddad a ele contribuíram com a migração para Tarcísio. A campanha do PT preferia enfrentar Tarcísio no segundo turno, considerando que o bolsonarista seria menos competitivo e, por isso, centrou críticas em Rodrigo.
Haddad, por exemplo, questionou Rodrigo sobre o desconhecimento dos atos praticados pelo irmão Marco Aurélio Garcia, o Lelo, condenado por lavagem de dinheiro na chamada máfia do ISS.
De acordo com a coluna Mônica Bergamo, a condenação de Lelo gerou aversão da família de Rodrigo em relação a Haddad, já que o esquema foi investigado pela gestão do petista quando ele era prefeito da cidade de São Paulo.
A questão dos ataques a Rodrigo e a menor artilharia contra Tarcísio é uma crítica forte por parte da equipe de Lula à equipe de Haddad. Os lulistas cobravam ataques mais fortes em Tarcísio para fragilizar o palanque de Bolsonaro em São Paulo, onde o presidente acabou, por fim, tendo mais votos que Lula.
Emissários de Lula chegaram a propor que Haddad amenizasse as críticas a Rodrigo, na expectativa de que, com o gesto, o tucano viesse a apoiá-los em um segundo turno.