O QUE FALTA A LULA
ROGERIO WERNECK / O ESTADÃO
Bem mais de 60% dos eleitores não querem manter Jair Bolsonaro na Presidência. Quase 50% declaram-se dispostos a votar em Lula da Silva. E pouco menos de 15% preferem outros candidatos, como Ciro Gomes e Simone Tebet.
Lula já mostrou que só ele poderá impedir que Bolsonaro seja reeleito. O que ainda lhe falta é convencer a maioria do eleitorado de que, além de ser capaz de derrotar Bolsonaro, poderá conduzir o País com sucesso no enfrentamento dos desafios com que terá de lidar nos próximos quatro anos.
A chave desse sucesso é ter um plano de jogo coerente que viabilize a retomada do crescimento sustentado da economia, com geração de empregos, equilíbrio fiscal e inflação sob controle. Sem isso, todas as demais políticas públicas estarão fadadas a ter eficácia muito limitada, qualquer que seja o empenho do governo em implementá-las.
E qual é o plano de jogo de Lula? Até agora, ninguém sabe, ninguém viu. Na verdade, a cúpula da campanha de Lula anunciou há poucos dias que, para facilitar a ampliação da aliança que apoia o candidato, seu prometido plano de governo não seria mais anunciado. O que não chegou a ser uma surpresa. Já em maio, em entrevista à revista Time, Lula deixara claro que seu plano era não ter plano. “Nós não discutimos política econômica antes de ganhar as eleições. Em primeiro lugar, você tem de ganhar as eleições.”
Tirando bom proveito da enorme aversão a Bolsonaro, Lula quer extrair do eleitorado carta branca para conduzir a política econômica como bem lhe aprouver, a despeito do deplorável desempenho de governos petistas nessa área.
Não falta quem alegue agora que, dos problemas do governo Lula, o País cuidará depois. E que, por ora, o que importa mesmo é impedir que Bolsonaro seja reeleito. Não é tão simples. De uma perspectiva menos imediatista, é fácil ver que um novo governo petista com gestão destrambelhada da política econômica pavimentará o caminho para a volta do bolsonarismo em 2026.
A oportunidade de reduzir a chance de que isso ocorra é agora, no segundo turno, quando, diante da urgência de conquistar votos de centro, Lula se veja compelido a se comprometer, afinal, com uma condução consequente da política econômica.
Será lamentável se, aterrorizado pelos arreganhos golpistas do bolsonarismo, o País se privar das vantagens do realinhamento de forças políticas, bancadas parlamentares e programas de governo que a eleição presidencial em segundo turno propicia. Vantagens que poderão fazer muita diferença nos próximos quatro anos. E em 2026.