Atrás entre evangélicos, Lula critica Bolsonaro e diz que pastores aliados do presidente ‘não acreditam em Deus’
Por Jan Niklas — Rio de Janeiro / O GLOBO
Em um ato no Rio com o objetivo de ampliar seu palanque para o centro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reforçou os pedidos contra abstenção e, em meio a críticas ao presidente Jair Bolsonaro, reclamou da postura de pastores evangélicos aliados do Palácio do Planalto, tema que já causou desgastes à campanha petista no início da campanha eleitoral.
Lula participou de um comício ao lado do prefeito Eduardo Paes (PSD) na quadra da escola de samba Portela, em Madureira, Zona Norte da capital fluminense.
— Pastor que segue ele (Bolsonaro) não pode ser pastor, não acredita em Deus, não pode falar em nome de Deus — disse, após criticar o posicionamento de Bolsonaro durante a pandemia.
Em agosto, Lula havia dito não ser candidato de uma “facção religiosa”, o que rendeu críticas entre evangélicos — a campanha petista, depois, iniciou uma ofensiva para recuperar terreno no segmento, em que Bolsonaro tem vantagem.
O petista discursou para o público que lotou o espaço enfatizando a importância de sua militância fazer na reta final da corrida eleitoral uma busca ativa por indecisos e pessoas que possam se abster de votar. Ele afirmou ainda que teme tentativas de Bolsonaro tumultuar a eleição no dia do pleito.
— Esse maluco que está lá é capaz de tirar empresas de ônibus de circulação pra gente não votar. A gente tem que ir votar nem que seja a pé, de qualquer jeito. Não é o Lula que quer tirar ele de lá. É o povo brasileiro que está com saudade da democracia — bradou o ex-presidente, completando: — Temos que visitar parentes que estão em dúvida. Temos que conversar com milhões de pessoas que estão indecisas.
Durante o discurso, Lula também provocou o candidato do PDT, Ciro Gomes, ao dizer que Leonel Brizola, se fosse vivo, estaria ao lado do PT para derrotar Bolsonaro
Ao lado de Lula estava sua mulher Janja, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, o candidato ao Senado do partido André Ceciliano, o coordenador do programa de governo petista Aloizio Mercadante, além de políticos da base de Paes no PSD como Felipe Santa Cruz, Pedro Paulo e Daniel Soranz. Candidato ao governo do Rio de Lula, Marcelo Freixo (PSB) não participou do evento organizado por Paes.
No palco, Lula e Paes trocaram elogios e prometeram voltar a “parceria” de quando o petista estava no governo federal e o carioca em seus primeiros mandatos na prefeitura do Rio.
O evento arrastou milhares de pessoas para dentro da quadra da Portela. Telões com a transmissão do comício foram instalados também nas ruas de acesso da sede da escola de samba que ficaram lotadas de espectadores.
Dentro e fora da quadra o clima era de carnaval, com blocos de rua fazendo apresentações e o público fantasiado com adereços vermelhos e temáticos de Lula e PT.
Em sua fala, Lula comparou seu governo com o de Bolsonaro, destacando o crescimento econômico e o controle da inflação do seu mandato, frente a atual carestia dos custos de vida e diminuição do poder de compra das famílias.
Em acenos para o eleitorado de esquerda, ele prometeu acabar com o teto de gastos e que não terá mais invasão ou garimpo em terras indígenas.
O candidato do PT dedicou ainda seu discurso para destacar que não deve “nada pra justiça”. Classificando o processo que o prendeu como “perseguição”, ele lembrou do tempo na prisão e se comparou a figuras históricas que também foram presas.
— Eu na prisão pensava que não podia ficar preocupado. O (Nelson) Mandela ficou 27 anos e saiu pra governar a África do Sul. Fui preso pra provar minha inocência — disse Lula.
Saia justa de Paes com gritos por Freixo
Em sua fala Paes afirmou estar se sentindo “emocionado” diante de um “momento histórico para o Brasil”. Em referência ao fato do ato não ter a presença de Freixo e ser um aceno ao centro, ele disse não ter a “prepotência” de trazer votos para o petista
— Presidente Lula é maior do que qualquer quadro político do Rio de Janeiro. Ele materializa a esperança do nosso povo.
O prefeito criticou Bolsonaro lembrando da morte de seu pai, vitima da covid-19, que ocorreu no ano passado.
— Tomo muito cuidado para culpar qualquer governante sobre uma situação. Mas será que se não fosse o atraso da compra da vacina, me pai não estaria aqui do meu lado? No hospital minha mãe viu o presidente do país fazendo troça de alguém entubado. Estou aqui pela minha mãe e pela memória do meu pai também — contou o prefeito.
Durante o discurso de Paes, no entanto, parte do público começou a gritar “ Uh é o Freixo”. O prefeito, que apoia o candidato do PDT para o governo do Rio, Rodrigo Neves, contornou a saia justa gritando “Uh é Lula” e minimizando a divisão entre a esquerda no estado.
— Pode votar em quem quiser, desde que vote no Lula a gente apoia — disse o prefeito.
Apoio para além da esquerda
O ato com Paes faz parte da estratégia do PT de tentar conter um eventual crescimento de Jair Bolsonaro (PL) em seu berço político. A campanha do petista está dando importância estratégica para o Rio e a região sudeste na reta final da campanha.
A campanha de Lula avalia que o momento é de se mostrar próximo de lideranças fora do espectro político da esquerda. Em busca de uma possível vitória no primeiro turno, Lula vem se mostrando como candidato que conseguiu formar uma frente ampla na busca por derrotar Bolsonaro.
Lula fará ainda neste domingo um ato com seu candidato ao governo do Rio, Marcelo Freixo (PSB). O evento será um encontro com artistas e influenciadores como Fábio Porchat, Felipe Neto, Rafael Zulu, Bruno Gagliasso e Alice Wegmann.