Hesitação de Lula com eleitor evangélico pode ter custado 5 milhões de votos
A falta de uma ação coordenada no eleitorado evangélico pode ter custado ao PT mais de 5 milhões de votos nos últimos meses. Em maio, quando o partido dizia que não era preciso investir numa agenda para o grupo, as pesquisas indicavam uma vantagem de 1,2 milhão de votos de Jair Bolsonaro sobre Lula entre esses fiéis. Agora, o presidente supera o petista por 6,6 milhões de eleitores.
O alerta soou tarde. Integrantes da equipe de Lula acreditavam que o mal-estar econômico manteria parte dos evangélicos afastada de Bolsonaro. Agora, eles reconhecem que o presidente teve sucesso ao intensificar um trabalho dentro dos templos e espalhar a ideia de que um eventual governo do PT pode prejudicar tanto as igrejas como os fiéis.
A coordenação da campanha petista trata o momento com alguma preocupação. Conselheiros apontam erros em declarações recentes do próprio Lula, admitem que ainda não conseguiram formular uma reação e falam da necessidade de reavaliar a estratégia.
A menos de 40 dias do primeiro turno, o PT percebeu que não é possível fingir que a questão religiosa não existe. O problema é que o partido não mostrou como vai estancar a alta de Bolsonaro entre os evangélicos e evitar a fuga dos fiéis de baixa renda que hoje estão com Lula.
Um auxiliar do ex-presidente descreveu assim a situação dentro da campanha: "quando surge o assunto dos evangélicos, todo mundo é técnico de futebol, acha que entende e apresenta uma solução". Mas pouca coisa funcionou até agora.
Alguns petistas acreditam que Lula precisa dizer claramente que não pretende fechar templos e que vai respeitar os evangélicos. Outros afirmam que seguir esse caminho é cair no jogo de Bolsonaro. Há gente que gostaria de retomar contato com pastores influentes (ao menos no segundo turno), enquanto outros acham que isso é impossível.
Sozinho, o eleitor evangélico reduziu em três pontos percentuais a vantagem de Lula sobre Bolsonaro. Esses votos podem fazer falta.