Lula admite corrupção na Petrobras e defende o governo Dilma em entrevista ao Jornal Nacional
Por Levy Teles e Rayanderson Guerra / O ESTADÃO
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a operação Lava Jato em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, nesta quinta-feira, 25. “A Lava Jato ultrapassou limite da investigação e entrou no limite da política. O objetivo era tentar condenar o Lula”, disse o petista, se referindo na terceira pessoa.
O candidato à Presidência da República, porém, admitiu casos de corrupção na Petrobras. “Você não pode dizer que não houve corrupção se as pessoas confessaram (os crimes)”, disse. Lula, então, atacou a delação premiada. “As pessoas confessaram e, por conta das pessoas confessarem, ficaram ricas por confessar”, afirmou. “Por conta da Lava Jato, tivemos R$ 270 bilhões que foram perdidos nesse País.”
Lula ainda defendeu ações de combate à corrupção realizadas durante os governos do PT. “Durante cinco anos eu fui massacrado e estou tendo a primeira oportunidade de poder falar disso abertamente ao vivo com o povo brasileiro. A corrupção só aparece quando você permite que ela seja investigada”, afirmou.
Com indiretas ao presidente Jair Bolsonaro (PL), o petista mencionou o fato de o chefe do Executivo não obedecer a indicação da lista tríplice para o cargo de procurador-geral da República, os sigilos de 100 anos em documentos impostos pela Presidência, e, segundo ele, impedido que a Polícia Federal investigue seus filhos.
Como defesa sobre os casos de corrupção, Lula destacou os órgãos de transparência criados durante a gestão. “Foi no meu governo que a gente criou o Portal da Transparência, CGU, Lei de Acesso à Informação, AGU, Coaf, Cade”, disse.
A jornalista Renata Vasconcellos insistiu no tema e questionou se Lula não teme que, ao não expor se vai cumprir a lista tríplice para a escolha do PGR, crie suspeição sobre o trabalho do MPF. “Não quero um procurador leal a mim. O procurador tem que ser leal ao povo brasileiro, à instituição”, afirmou Lula, que disse ainda que “não quer amigos, quer pessoas sérias que falem em nome da instituição”.
A jornalista questionou como Lula pretende impedir tentativas de interferências na Polícia Federal. “O Bolsonaro troca qualquer diretor a hora que ele quer. Basta que ele não goste. Eu nunca fiz isso e não vou fazer”, disse.
O âncora William Bonner questionou como Lula pretende reequilibrar o equilíbrio das contas públicas. O ex-presidente citou dados sobre a condução na economia durante os seus dois governos e afirmou que é necessário previsibilidade, credibilidade e estabilidade.
Bonner retomou o tema e questionou Lula sobre a recessão e a “explosão” da inflação nos governos Dilma Rousseff e perguntou se ele pretende implantar a política econômica dos dois primeiros mandatos ou de sua sucessora. O ex-presidente reconheceu que Dilma cometeu erros na condução da economia, mas defendeu a sua sucessora.
“Dilma cometeu equívocos na questão da gasolina, ao fazer R$ 540 bilhões de desonerações em isenção fiscal. Quando ela tentou mudar, ela tinha uma dupla dinâmica contra ela. O Eduardo (Cunha), presidente da Câmara, e o Aécio no Senado, que trabalharam o tempo inteiro para que ela não fizesse mudanças”, disse.
Lula foi duro com as palavras ao falar do orçamento secreto. Ele chamou o mecanismo revelado pelo Estadão de “excrescência” e de um “escárnio”. “(O orçamento secreto) não é moeda de troca, isso é usurpação de poder. Acabou o presidencialismo. Bolsonaro é refém do Congresso, ele sequer cuida do orçamento. Isso nunca aconteceu desde a proclamação da República”, disse.
O petista ainda usou o orçamento secreto para minimizar o escândalo do mensalão. “Você acha que o mensalão que tanto se falou foi mais grave que o orçamento secreto?”, questionou.
Lula também reforçou as críticas ao novo Auxílio Emergencial. “Ele acabou de aumentar o Auxílio Emergencial. Até quando? Até o dia 31 de dezembro, porque na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) não tem continuidade. Ele agora manda a LDO (ao Congresso) e mente dizendo que vai continuar”, afirmou.
Questionado sobre a recepção da base petista em relação à formação de campanha com 10 partidos, o ex-presidente defendeu a união com seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), seu rival nas eleições presidenciais de 2006. “Alckmin já foi aceito pelo PT de corpo e alma. Alckmin é uma pessoa que vai me ajudar, tenho confiança que a experiência como governador de São Paulo vai me ajudar a consertar esse País”, disse.
Lula foi o terceiro entrevistado da série de sabatinas do Jornal Nacional, que recebe os principais presidenciáveis ao longo da semana. O presidente Jair Bolsonaro (PL) foi o primeiro a ser ouvido, na segunda-feira, seguido por Ciro Gomes (PDT) na terça-feira. A senadora Simone Tebet (MDB) será a última a participar, na sexta-feira.
A última vez que Lula foi sabatinado como candidato pelo principal telejornal da Globo foi em 2006, quanto tinha seu atual vice, Geraldo Alckmin, como adversário na disputa pelo Palácio do Planalto. Como mostrou o Estadão, o ex-presidente passou por um intenso treinamento de preparação para o JN na última terça-feira em sala reservada do QG petista instalado na zona oeste de São Paulo.
Participaram do treinamento com Lula o coordenador de comunicação da campanha, Edinho Silva, prefeito de Araraquara (SP) e ex-ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, e o jornalista e ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República durante o segundo governo Lula, Franklin Martins, que trabalhou na Globo antes de integrar a equipe do petista.
Lula chegou no Rio de Janeiro na quarta-feira e fechou a agenda nas 48 horas anteriores à entrevista para se preparar e descansar a voz, já que tem ficado rouco com mais frequência.