Pacotaço em ação
Neste agosto, o governo Jair Bolsonaro (PL) gastará R$ 12,1 bilhões com o novo Auxílio Brasil de R$ 600 —um salto repentino ante os R$ 7,3 bilhões mensais até então desembolsados pelo programa. No ano eleitoral de 2018, o Bolsa Família gastava não mais de R$ 3,3 bilhões ao mês, em valores corrigidos.
Conforme as estimativas oficiais, o valor ampliado chegará a 20,2 milhões de famílias. Segundo a mais recente pesquisa Datafolha, 1 de cada 4 brasileiros aptos a votar recebe ou mora com alguém que recebe o benefício assistencial.
Também em agosto, os índices de preços ao consumidor devem mostrar nova deflação, repetindo, ainda que em menor intensidade, o que ocorreu em julho. A guinada no custo de vida foi obtida por meio de um corte brutal de impostos sobre combustíveis e energia elétrica, de caráter, em princípio ao menos, temporário.
Na quinta-feira (11), enquanto Bolsonaro minimizava os atos em favor da democracia que reuniram os mais diferentes setores da sociedade, a Petrobras —que passou por duas trocas de comando somente neste ano— anunciava uma queda do preço do diesel, aproveitando-se também de um momento mais benigno no mercado global.
A percepção de melhora material é favorecida, ademais, pela queda consistente do desemprego, que independe de ações de governo e é impulsionada pela recuperação de setores fundamentais como serviços e construção civil.
Difícil imaginar que o pacote descomunal de medidas lançado a três meses do pleito presidencial não vá ter impacto nas pesquisas de intenção de voto. Trata-se, decerto, da maior intervenção econômica num ano eleitoral desde o Plano Real, lançado em julho de 1994.
A comparação, porém, termina por aí. À diferença do programa que controlou a inflação há quase três décadas, o conjunto de providências ora em vigor —que inclui até benesses para caminhoneiros e taxistas— foi instituído às pressas e sem planejamento. Ninguém sabe se e como tudo será mantido depois de fechadas as urnas.
De mais imediato, o pacotaço eleitoreiro dá nova configuração à corrida ao Planalto às vésperas do início oficial da campanha, marcado para terça-feira (16). Bolsonaro, tudo indica, vai temperar sua pregação golpista com propaganda dos feitos econômicos, e a intensidade da primeira dependerá dos resultados dos últimos.
Seu principal adversário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se verá compelido a defender os novos benefícios e, ao mesmo tempo, explicar como pretende reequilibrar as finanças públicas em um eventual governo. Nesse cenário, a margem para um debate mais qualificado se mostra estreita.